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ANÁLISE
Política e economia no pré-sal
LUIZ GUILHERME PIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Ao alterar a sistemática de
distribuição, entre os Estados,
dos recursos provenientes dos
royalties e da participação especial relativas à exploração do
pré-sal, a Câmara dos Deputados deixou dúvidas quanto à
aplicação da nova sistemática
sobre os contratos em regime
de concessão. De todo modo, as
contas já divulgadas mostram
perdas muito grandes para os
Estados produtores (Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo) e ganhos para os Estados
não produtores.
A votação não se definiu pelo
posicionamento governista ou
oposicionista dos deputados,
mas sim pelas projeções de receitas dos Estados. Isso faz supor que o quadro se repetirá no
Senado. Afinal, os senadores
são eleitos para defender suas
respectivas unidades da Federação. Não serão eles que tirarão o guizo do pescoço do Planalto -que ficará com a responsabilidade de buscar uma
solução que atenda aos Estados
produtores.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá vetar o projeto e propor alguma sistemática
que tente levar o Executivo e o
Legislativo a uma composição
satisfatória. Há questões econômicas e políticas que deverão propiciar uma solução razoável para todos.
No terreno econômico, há
muitos projetos de investimentos que pressupõem a participação direta e indireta de Estados produtores na extensa cadeia anterior e posterior à exploração do petróleo do pré-sal.
Outro tanto se refere à Copa do
Mundo e à Olimpíada. Fundos
nacionais e internacionais
perscrutam analistas, bancos e
corretores atrás de alguma jazida de tranquilidade.
Talvez estejam se preocupando em demasia. Rio e São
Paulo, menos por se definirem
como espaços geográficos e como governos locais e mais por
concentrarem núcleos de poder econômico (estatal e privado) de alcance nacional e mundial, saberão dispor alíneas,
percentuais, argumentos e
pressões suficientes para reassentar a pax federativa.
No terreno político, a necessidade de acordo interessa a todas as forças: o governo e os
pré-candidatos a presidente
não podem abrir mão de votos
em três Estados tão importantes nem podem ignorar os votos das outras 24 unidades federativas. Nesse caso, o melhor
para todos é que a União patrocine o acordo que todos querem e, talvez, assuma uma cota
adicional de dispêndios para
compensar parcelas perdidas
pelos Estados produtores.
Horizonte
É de lembrar, contra essa
perspectiva, que nenhum pré-candidato a presidente gosta de
saber que seu orçamento futuro terá cortes desde já. Mas estamos falando de pré-sal: portanto, de um horizonte de quatro ou cinco anos. Ou, na prática, do mandato de outro presidente ou do segundo mandato
do próximo presidente. Muita
coisa poderá e será mudada
nesse interregno. Importa, para o governo e os candidatos,
resolver a tensão de agora sem
prejuízos eleitorais.
No meio-tempo, dá para fazer a Copa do Mundo de 2014 e
a Olimpíada de 2016 -que nunca poderão contar (e não contavam quando foram assumidas)
com a efetivação das receitas do
pré-sal.
LUIZ GUILHERME PIVA é diretor da LCA Consultores. Publicou "Ladrilhadores e Semeadores" (ed. 34) e "A Miséria da Economia e da Política" (Manole).
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