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ECONOMIA MUNDIAL
Países europeus resistem à proposta dos EUA para criação de linha de socorro preventiva a emergentes
Crédito de emergência no FMI emperra
MARCIO AITH
de Washington
O governo dos EUA está tendo
dificuldades para convencer países
europeus a apoiarem a criação de
uma linha de crédito de contingência do FMI (Fundo Monetário Internacional) para inibir crises em
economias emergentes.
Essa divergência deverá dominar
as discussões da reunião conjunta
do FMI e do Banco Mundial, que
começam hoje em Washington.
A aprovação dessa linha era o
principal objetivo do governo do
presidente Bill Clinton para esse
encontro.
Com base nela, o Fundo poderia
dar uma ajuda financeira preventiva para evitar crises de pagamento
em países que sofrem fuga de capitais ou ataques especulativos.
Hoje, o FMI só pode montar pacotes de ajuda depois que as crises
se instalam, causam desvalorização das moedas, recessão e pânico
nos mercados mundiais.
Segundo os EUA, além de evitar
crises localizadas, esse socorro financeiro pouparia os mercados
mundiais do clima de contágio que
delas decorrem.
As resistências são fortes. Apesar
de maior acionista do Fundo, os
EUA dependem de um sinal verde
(e dinheiro) dos europeus para que
a linha seja criada.
Em reuniões preparativas realizadas pela direção do FMI nos últimos meses, os representantes europeus mostraram-se preocupados com a possibilidade de esse
crédito de contingência estimular
governos a abandonar políticas
fiscais e monetárias austeras.
"O Fischer (Stanley Fischer, vice-diretor-gerente do FMI) me disse
que é favorável à proposta, mas informou que os europeus a consideram um estímulo à irresponsabilidade", disse à Folha Jungsoo Lee,
economista-chefe do Asian Development Bank (banco formado
por capital de países da Ásia e pelos EUA). Lee discutiu o assunto
com Fischer na semana passada.
Segundo um diretor-executivo
do FMI, os europeus argumentam
também que a idéia seria mais útil
aos EUA do que à Europa porque
teria sido proposta principalmente
para proteger as economias da
América Latina (cujas crises afetam mais a economia norte-americana do que a européia).
Formalmente, as conversas emperram quando o Fundo tenta discutir quais países estariam habilitados a receber a ajuda do FMI.
Tanto os EUA quanto a maioria
dos líderes europeus concordam
que, se a idéia da linha de crédito
for aprovada, deveria existir uma
lista de requisitos que os "candidatos" deveriam preencher para receber o dinheiro.
Esses requisitos iriam garantir
que os fundos só possam ser recebidos por governos que conduzem
políticas econômicas responsáveis
e que estejam sofrendo problemas
conjunturais, não de fundamentos.
Alguns países europeus aceitam
discutir o assunto, mas exigem
tantos requisitos que, na visão dos
EUA, não sobraria nenhum país
apto a receber a ajuda.
Liberdade de capitais
Clinton propôs a idéia em outubro passado. Foi uma resposta dos
EUA às críticas de que a crise financeira mundial teria sido causada pelo livre e rápido fluxo de capitais entre os países -princípio defendido pelos EUA e pelo FMI.
Os EUA tentam convencer os europeus que, sem uma linha de contingência, a economia mundial ficará sempre exposta a crises como
a que afeta o mundo hoje. Ou, na
visão dos EUA, pior ainda: os países emergentes ficariam tentados a
impor cada vez mais barreiras aos
fluxos de capital.
"O panorama mundial melhorou
nos últimos meses, mas há riscos",
disse o diretor do departamento de
desenvolvimento de políticas do
FMI, Jack Boorman.
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