São Paulo, Terça-feira, 20 de Abril de 1999
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ECONOMIA MUNDIAL
Países europeus resistem à proposta dos EUA para criação de linha de socorro preventiva a emergentes
Crédito de emergência no FMI emperra

MARCIO AITH
de Washington

O governo dos EUA está tendo dificuldades para convencer países europeus a apoiarem a criação de uma linha de crédito de contingência do FMI (Fundo Monetário Internacional) para inibir crises em economias emergentes.
Essa divergência deverá dominar as discussões da reunião conjunta do FMI e do Banco Mundial, que começam hoje em Washington.
A aprovação dessa linha era o principal objetivo do governo do presidente Bill Clinton para esse encontro.
Com base nela, o Fundo poderia dar uma ajuda financeira preventiva para evitar crises de pagamento em países que sofrem fuga de capitais ou ataques especulativos.
Hoje, o FMI só pode montar pacotes de ajuda depois que as crises se instalam, causam desvalorização das moedas, recessão e pânico nos mercados mundiais.
Segundo os EUA, além de evitar crises localizadas, esse socorro financeiro pouparia os mercados mundiais do clima de contágio que delas decorrem.
As resistências são fortes. Apesar de maior acionista do Fundo, os EUA dependem de um sinal verde (e dinheiro) dos europeus para que a linha seja criada.
Em reuniões preparativas realizadas pela direção do FMI nos últimos meses, os representantes europeus mostraram-se preocupados com a possibilidade de esse crédito de contingência estimular governos a abandonar políticas fiscais e monetárias austeras.
"O Fischer (Stanley Fischer, vice-diretor-gerente do FMI) me disse que é favorável à proposta, mas informou que os europeus a consideram um estímulo à irresponsabilidade", disse à Folha Jungsoo Lee, economista-chefe do Asian Development Bank (banco formado por capital de países da Ásia e pelos EUA). Lee discutiu o assunto com Fischer na semana passada.
Segundo um diretor-executivo do FMI, os europeus argumentam também que a idéia seria mais útil aos EUA do que à Europa porque teria sido proposta principalmente para proteger as economias da América Latina (cujas crises afetam mais a economia norte-americana do que a européia).
Formalmente, as conversas emperram quando o Fundo tenta discutir quais países estariam habilitados a receber a ajuda do FMI. Tanto os EUA quanto a maioria dos líderes europeus concordam que, se a idéia da linha de crédito for aprovada, deveria existir uma lista de requisitos que os "candidatos" deveriam preencher para receber o dinheiro.
Esses requisitos iriam garantir que os fundos só possam ser recebidos por governos que conduzem políticas econômicas responsáveis e que estejam sofrendo problemas conjunturais, não de fundamentos.
Alguns países europeus aceitam discutir o assunto, mas exigem tantos requisitos que, na visão dos EUA, não sobraria nenhum país apto a receber a ajuda.

Liberdade de capitais
Clinton propôs a idéia em outubro passado. Foi uma resposta dos EUA às críticas de que a crise financeira mundial teria sido causada pelo livre e rápido fluxo de capitais entre os países -princípio defendido pelos EUA e pelo FMI.
Os EUA tentam convencer os europeus que, sem uma linha de contingência, a economia mundial ficará sempre exposta a crises como a que afeta o mundo hoje. Ou, na visão dos EUA, pior ainda: os países emergentes ficariam tentados a impor cada vez mais barreiras aos fluxos de capital.
"O panorama mundial melhorou nos últimos meses, mas há riscos", disse o diretor do departamento de desenvolvimento de políticas do FMI, Jack Boorman.


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