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São Paulo, terça-feira, 20 de maio de 2003

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Roberto Nicco/Folha Imagem
Fazenda arrendada pelo industrial Laudério Leonardo Botigelli para o plantio de soja em Sandovalina, no Pontal do Paranapanema


CAMPO LUCRATIVO

Expansão do cultivo do grão eleva valor dos terrenos em até 400% e muda geografia rural do país

Corrida à soja infla preço da terra agrícola

DA REPORTAGEM LOCAL

A valorização crescente dos preços das terras agrícolas no Brasil pode levar à formação de uma "bolha" nos próximos anos.
O valor médio das terras brasileiras em novembro de 2001 era de R$ 1.673 por hectare. No primeiro bimestre deste ano, a cifra passou para R$ 2.296, um aumento de 27%. No oeste da Bahia, na região de Barreiras, essa elevação atingiu 400%.
De acordo com José Antonio Pusch, da FNP Consultoria, que elaborou um estudo sobre o tema, a apreciação das terras está diretamente relacionada à expansão do cultivo da soja. "A demanda pelo consumo de soja na Ásia e pela produção biodiesel estão impulsionando a produção de grãos. Os produtores, que já estão capitalizados, investem na aquisição de terras e há uma pressão dos preços", disse.
O levantamento da FNP mostra que, além de elevar os preços, essa procura por espaço para novas lavouras de soja tem mudado a geografia rural do Brasil. Áreas tradicionais de pastagem, como o Centro-Oeste e algumas regiões de São Paulo, têm se convertido em áreas de plantio de soja.
O preço médio de terra agrícola de primeira no Estado de São Paulo subiu 28,58% entre novembro de 2001 e o mesmo mês de 2002. Com isso, o valor por hectare passou para R$ 6.094,86.
O aumento, superior aos índices de inflação do período- 20,78% (IGP-M) e de 23,09% (IGP-DI)-, foi registrado pelo IEA (Instituto de Economia Agrícola) de São Paulo em parceria com a Cati (Coordenadoria de Assistência Técnica Integral), ambos ligados à Secretaria de Agricultura do Estado.
Na avaliação de Nelson Martin, diretor do IEA, o crescimento dos preços recebidos pelos agricultores no período- 30,58%- é o principal responsável pela elevação dos preços da terra.
O levantamento revela que as culturas mais tradicionais do Estado, como laranja, café e grãos como feijão e soja, foram as que mais contribuíram para a alta dos preços da terra.
"Os produtores paulistas estão mais capitalizados e, como em geral os agricultores têm um perfil mais conservador na hora de investir, eles preferem adquirir terras", diz Martin.
Segundo a pesquisa, os maiores percentuais de aumento nos preços da terra de primeira foram alcançados nas regiões de Presidente Prudente (87,75%, para R$ 2.802,32 o hectare) e de Franca (65,25%, para R$ 6.198,35). O maior preço nominal foi o da região de Campinas, que fechou em R$ 13.509,22 (+12,38%).
O preço médio estadual de terras de segunda -que têm qualidade de solo inferior e maior grau de declividade- também cresceu. O percentual chegou a 26,79%, o que elevou o preço do hectare a R$ 4.699,22.
O lado negativo da alta do valor da terra é que ela pode aumentar a escala das propriedades e levar os pequenos e médios produtores a abandonar as regiões agrícolas de São Paulo.
"Essa é uma tendência natural, mas ainda não observamos nenhum movimento muito forte, até porque a estrutura fundiária em São Paulo é bastante estável", afirma o diretor do IEA.
(CÍNTIA CARDOSO)


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