|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Roberto Nicco/Folha Imagem
|
Fazenda arrendada pelo industrial Laudério Leonardo Botigelli para o plantio de soja em Sandovalina, no Pontal do Paranapanema |
CAMPO LUCRATIVO
Expansão do cultivo do grão eleva valor dos terrenos em até 400% e muda geografia rural do país
Corrida à soja infla preço da terra agrícola
DA REPORTAGEM LOCAL
A valorização crescente dos
preços das terras agrícolas no Brasil pode levar à formação de uma
"bolha" nos próximos anos.
O valor médio das terras brasileiras em novembro de 2001 era
de R$ 1.673 por hectare. No primeiro bimestre deste ano, a cifra
passou para R$ 2.296, um aumento de 27%. No oeste da Bahia, na
região de Barreiras, essa elevação
atingiu 400%.
De acordo com José Antonio
Pusch, da FNP Consultoria, que
elaborou um estudo sobre o tema,
a apreciação das terras está diretamente relacionada à expansão do
cultivo da soja. "A demanda pelo
consumo de soja na Ásia e pela
produção biodiesel estão impulsionando a produção de grãos. Os
produtores, que já estão capitalizados, investem na aquisição de
terras e há uma pressão dos preços", disse.
O levantamento da FNP mostra
que, além de elevar os preços, essa
procura por espaço para novas lavouras de soja tem mudado a geografia rural do Brasil. Áreas tradicionais de pastagem, como o Centro-Oeste e algumas regiões de
São Paulo, têm se convertido em
áreas de plantio de soja.
O preço médio de terra agrícola
de primeira no Estado de São
Paulo subiu 28,58% entre novembro de 2001 e o mesmo mês de
2002. Com isso, o valor por hectare passou para R$ 6.094,86.
O aumento, superior aos índices de inflação do período-
20,78% (IGP-M) e de 23,09%
(IGP-DI)-, foi registrado pelo
IEA (Instituto de Economia Agrícola) de São Paulo em parceria
com a Cati (Coordenadoria de
Assistência Técnica Integral), ambos ligados à Secretaria de Agricultura do Estado.
Na avaliação de Nelson Martin,
diretor do IEA, o crescimento dos
preços recebidos pelos agricultores no período- 30,58%- é o
principal responsável pela elevação dos preços da terra.
O levantamento revela que as
culturas mais tradicionais do Estado, como laranja, café e grãos
como feijão e soja, foram as que
mais contribuíram para a alta dos
preços da terra.
"Os produtores paulistas estão
mais capitalizados e, como em geral os agricultores têm um perfil
mais conservador na hora de investir, eles preferem adquirir terras", diz Martin.
Segundo a pesquisa, os maiores
percentuais de aumento nos preços da terra de primeira foram alcançados nas regiões de Presidente Prudente (87,75%, para R$
2.802,32 o hectare) e de Franca
(65,25%, para R$ 6.198,35). O
maior preço nominal foi o da região de Campinas, que fechou em
R$ 13.509,22 (+12,38%).
O preço médio estadual de terras de segunda -que têm qualidade de solo inferior e maior grau
de declividade- também cresceu. O percentual chegou a
26,79%, o que elevou o preço do
hectare a R$ 4.699,22.
O lado negativo da alta do valor
da terra é que ela pode aumentar a
escala das propriedades e levar os
pequenos e médios produtores a
abandonar as regiões agrícolas de
São Paulo.
"Essa é uma tendência natural,
mas ainda não observamos nenhum movimento muito forte,
até porque a estrutura fundiária
em São Paulo é bastante estável",
afirma o diretor do IEA.
(CÍNTIA CARDOSO)
Texto Anterior: Imposto de renda: Receita adia o pagamento de lote de 2001 Próximo Texto: Industrial investe R$ 500 mil no plantio do grão Índice
|