São Paulo, quinta-feira, 20 de junho de 2002

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DEPOIS DO CALMANTE

Instituição vê conjuntura adversa para justificar a manutenção da taxa de 18,5% pelo 3º mês seguido

BC pode baixar juro a qualquer momento

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central indicou que poderá reduzir os juros básicos da economia nas próximas semanas, caso o mercado se acalme. Ontem, o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) decidiu, pelo terceiro mês consecutivo, manter a taxa Selic em 18,5% ao ano, mas adotou tendência (viés) de baixa.
O viés, que não é adotado desde junho de 2001, permite ao presidente do BC, Armínio Fraga, reduzir os juros antes da próxima reunião do Copom, marcada para 16 e 17 de julho. Após o encontro de ontem, o BC divulgou a seguinte nota: "Os dados recentes da inflação e as perspectivas para 2003 são favoráveis. Mas, diante de um quadro conjuntural ainda adverso, o Copom decidiu por unanimidade manter a taxa Selic em 18,5% ao ano e introduzir um viés de baixa".
Em outras palavras, o BC diz acreditar que a inflação tem apresentado uma tendência de queda consistente, o que permitiria uma redução dos juros. Por outro lado, a turbulência no mercado financeiro e a consequente alta do dólar pode reverter esse quadro e provocar uma elevação no nível dos preços, o que levou a um maior conservadorismo.
No mês passado, o Copom havia se dividido quanto aos rumos da política monetária: cinco diretores do BC votaram pela manutenção dos juros e três votaram pela redução. A justificativa era que ainda era necessária uma "confirmação da trajetória de queda da inflação" para que os juros pudessem ser reduzidos.
Naquela ocasião, "a piora no risco-Brasil e a recente depreciação cambial" foram apontadas como os principais obstáculos à queda da taxa Selic. Desde então, nenhum dos indicadores melhorou. Pelo contrário: o risco-país, medido pelo JP Morgan, ultrapassou a barreira dos mil pontos e a cotação do dólar passou de R$ 2,525 para R$ 2,707.
O risco-país reflete a diferença entre os juros pagos pelo Brasil e pelos Estados Unidos para tomar empréstimos no mercado internacional. Quanto maior o risco, mais difícil para o Brasil -tanto empresas quanto governo- captar dinheiro no exterior. Essa redução do fluxo de capital externo pressiona a cotação do dólar.
Dólar mais alto encarece matérias-primas e produtos comprados no exterior, o que pressiona a inflação. Entre janeiro e maio, o IPCA -índice que serve de referência para as metas de inflação do governo- acumulou alta de 2,51%. A meta para o ano é de 3,5%, com margem de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo.
O BC classifica de positivo o IPCA de maio, que ficou em 0,21%. Por outro lado, teme que a alta do dólar possa, no futuro, provocar um aumento na inflação. A manutenção dos juros em níveis elevados tem o efeito de inibir o crescimento da economia, o que reduz o consumo. Com menos pessoas dispostas a comprar, as empresas têm menos espaço para reajustar seus preços.
A adoção do viés de baixa é um sinal de que o BC deve aguardar mais uns dias para que o efeito do minipacote econômico anunciado na semana passada seja sentido por completo pelo mercado. Entre aquelas medidas, há algumas que ainda não entraram efetivamente em vigor.
O empréstimo de US$ 10 bilhões concedido pelo FMI (Fundo Monetário Internacional), por exemplo, ainda não entrou nas reservas do governo. O aumento da alíquota do compulsório -dinheiro que os bancos são obrigados a recolher no BC-, que tem por objetivo reduzir a procura do mercado por dólares, só passará a valer a partir de segunda-feira.

Surpresa
A decisão do BC de adotar o viés de baixa acabou surprendendo o mercado. Carlos Kawall, economista-chefe do Citibank, afirma que o BC fez a opção correta ao manter os juros.
O economista diz que apesar de o nervosismo ter diminuído em relação à semana passada, o mercado continua intranquilo. "Hoje o dólar não subiu, mas no mercado externo, os títulos brasileiros caíram", afirmou.
O presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Horácio Lafer Piva, disse que Banco Central deveria ter ousado e reduzido a taxa básica de juros.
A decisão também foi criticada pela CNI (Confederação Nacional da Indústria).



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