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DEPOIS DO CALMANTE
Instituição vê conjuntura adversa para justificar a manutenção da taxa de 18,5% pelo 3º mês seguido
BC pode baixar juro a qualquer momento
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Banco Central indicou que
poderá reduzir os juros básicos da
economia nas próximas semanas,
caso o mercado se acalme. Ontem, o Copom (Comitê de Política
Monetária do BC) decidiu, pelo
terceiro mês consecutivo, manter
a taxa Selic em 18,5% ao ano, mas
adotou tendência (viés) de baixa.
O viés, que não é adotado desde
junho de 2001, permite ao presidente do BC, Armínio Fraga, reduzir os juros antes da próxima
reunião do Copom, marcada para
16 e 17 de julho. Após o encontro
de ontem, o BC divulgou a seguinte nota: "Os dados recentes
da inflação e as perspectivas para
2003 são favoráveis. Mas, diante
de um quadro conjuntural ainda
adverso, o Copom decidiu por
unanimidade manter a taxa Selic
em 18,5% ao ano e introduzir um
viés de baixa".
Em outras palavras, o BC diz
acreditar que a inflação tem apresentado uma tendência de queda
consistente, o que permitiria uma
redução dos juros. Por outro lado,
a turbulência no mercado financeiro e a consequente alta do dólar pode reverter esse quadro e
provocar uma elevação no nível
dos preços, o que levou a um
maior conservadorismo.
No mês passado, o Copom havia se dividido quanto aos rumos
da política monetária: cinco diretores do BC votaram pela manutenção dos juros e três votaram
pela redução. A justificativa era
que ainda era necessária uma
"confirmação da trajetória de
queda da inflação" para que os juros pudessem ser reduzidos.
Naquela ocasião, "a piora no
risco-Brasil e a recente depreciação cambial" foram apontadas
como os principais obstáculos à
queda da taxa Selic. Desde então,
nenhum dos indicadores melhorou. Pelo contrário: o risco-país,
medido pelo JP Morgan, ultrapassou a barreira dos mil pontos e a
cotação do dólar passou de R$
2,525 para R$ 2,707.
O risco-país reflete a diferença
entre os juros pagos pelo Brasil e
pelos Estados Unidos para tomar
empréstimos no mercado internacional. Quanto maior o risco,
mais difícil para o Brasil -tanto
empresas quanto governo- captar dinheiro no exterior. Essa redução do fluxo de capital externo
pressiona a cotação do dólar.
Dólar mais alto encarece matérias-primas e produtos comprados no exterior, o que pressiona a
inflação. Entre janeiro e maio, o
IPCA -índice que serve de referência para as metas de inflação
do governo- acumulou alta de
2,51%. A meta para o ano é de
3,5%, com margem de tolerância
de dois pontos percentuais para
cima ou para baixo.
O BC classifica de positivo o IPCA de maio, que ficou em 0,21%.
Por outro lado, teme que a alta do
dólar possa, no futuro, provocar
um aumento na inflação. A manutenção dos juros em níveis elevados tem o efeito de inibir o crescimento da economia, o que reduz o consumo. Com menos pessoas dispostas a comprar, as empresas têm menos espaço para
reajustar seus preços.
A adoção do viés de baixa é um
sinal de que o BC deve aguardar
mais uns dias para que o efeito do
minipacote econômico anunciado na semana passada seja sentido por completo pelo mercado.
Entre aquelas medidas, há algumas que ainda não entraram efetivamente em vigor.
O empréstimo de US$ 10 bilhões concedido pelo FMI (Fundo
Monetário Internacional), por
exemplo, ainda não entrou nas reservas do governo. O aumento da
alíquota do compulsório -dinheiro que os bancos são obrigados a recolher no BC-, que tem por objetivo reduzir a procura do mercado por dólares, só passará a
valer a partir de segunda-feira.
Surpresa
A decisão do BC de adotar o viés de baixa acabou surprendendo o
mercado. Carlos Kawall, economista-chefe do Citibank, afirma
que o BC fez a opção correta ao manter os juros.
O economista diz que apesar de o nervosismo ter diminuído em
relação à semana passada, o mercado continua intranquilo. "Hoje
o dólar não subiu, mas no mercado externo, os títulos brasileiros
caíram", afirmou.
O presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo), Horácio Lafer Piva, disse que Banco Central deveria
ter ousado e reduzido a taxa básica de juros.
A decisão também foi criticada pela CNI (Confederação Nacional
da Indústria).
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