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OPINIÃO ECONÔMICA
O Copom aumenta os juros mais uma vez
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
Tomo emprestado de uma
coluna minha recente o titulo
deste meu espaço de hoje. Poderia
repetir também os argumentos
usados àquela época para chamar
a atenção do leitor. Mas vou dar
um passo adiante em minhas
constantes criticas à atuação do
Banco Central nestes primeiros
meses do governo Lula. Principalmente por sentir que minhas palavras, inicialmente recebidas por
larga parte da opinião pública como apenas um recalque tucano
pela derrota eleitoral do ano passado, estão começando a calar
fundo na sociedade.
Nestas quatro semanas que medeiam essas minhas colunas homônimas a realidade seguiu o caminho, até então quase solitário,
de minhas previsões. A inflação
perdeu fôlego sob o peso de uma
recessão implacável nos setores
dependentes de demanda interna,
e a valorização do real acalmou o
crescimento dos preços em setores
superaquecidos pelas exportações.
Apenas os preços administrados
por regras contratuais de correção
anual e os afetados por uma nova
onda de taxas municipais de serviços públicos tiveram aumentos
mais intensos.
O mês de junho marca de maneira mais clara essa mudança na
dinâmica da inflação. Os índices
que já foram divulgados e aqueles
que se tornarão públicos nos próximos dias -o IPCA-15, na próxima terça-feira, e o IPC do IGP-M,
no fim do mês- mostrarão até ao
menos iluminado de nossos economistas que a inflação real no
Brasil de hoje não é superior a 5%
ao ano. Dado esse choque de realidade que os próximos dias nos
trarão, sobrarão apenas alguns
poucos radicais a balbuciar expressões até havia pouco dominantes, como "médias aparadas",
"inércia inflacionária", "indexação salarial" e outras pérolas do
autismo econômico que nos domina.
O número definitivo para o cair
das cortinas dessa verdadeira
ópera bufa inflacionária que vivemos neste início de governo do PT
será divulgado no começo da segunda semana de julho: o IPCA
de junho. Número-farol para o
Banco Central, ele não será superior a 0,15% e poderá estar na zona da deflação. Quem me garante
isso é o economista Alfredo Barbutti, que trabalha comigo e tem
dado, nestes últimos meses, um
verdadeiro banho de competência
e de acertos em alguns "cobras"
do mercado financeiro, que frequentam com uma assiduidade
imerecida as páginas de economia dos principais jornais.
Esse é o lado róseo das noticias
recebidas do "front" econômico.
Certamente, o governo vai explorar à exaustão essa sua "vitória"
sobre a "agenda maldita" herdada de FHC. "O verdadeiro governo do PT começa agora", vão dizer com orgulho as maiores estrelas do petismo convertido. "Agora
começa o concerto do crescimento", proclamará aos ventos o presidente Lula. Mas cuidado, pessoal, para não queimar a língua
na fogueira ainda acesa do conservadorismo ineficiente do Copom! A queda da inflação precisa
ser reconhecida por esses sábios
do pensamento econômico como
"real e abrangente", sem ser qualificada com adjetivos vagos e inexistentes. Será preciso acelerar a
redução dos juros na próxima
reunião -qualquer número
abaixo de 2% será um erro grosseiro-, além de diminuir com vigor os níveis atuais do compulsório bancário.
O nível de atividade da economia real continuou a cair em junho sob o peso dos juros reais crescentes e da paralisante escassez de
crédito. As informações já disponíveis apontam uma queda de
venda de dois dígitos em setores
importantes da indústria e do comércio. São muitos os que trabalham hoje com uma capacidade
ociosa da ordem de 40%. Mesmo
a renda dos setores ligados à exportação reduziu-se de maneira
importante, sob o peso de uma taxa de câmbio valorizada. As estatísticas mais recentes já mostram
uma desaceleração do fechamento antecipado de contratos de
câmbio de exportação. Nada ainda definitivo, mas eis um sinal
que deve ser observado com cautela.
No campo do mercado de trabalho, a situação ainda vai piorar
antes que os sinais de tempos melhores possam aparecer nas estatísticas de renda e emprego. Especialistas falam que isso poderá
ocorrer apenas no segundo semestre do ano que vem, caso os juros
sejam reduzidos na velocidade
necessária para reativar a demanda -e estamos falando de
taxas Selic da ordem de 16% ao
ano em dezembro- e caso os
bancos aumentem a oferta de crédito para as empresas e consumidores.
Temos, portanto, ainda um longo e tortuoso caminho a percorrer
para que possamos dar como encerrado este que foi um dos maiores trancos monetários na história
recente do país.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 60,
engenheiro e economista, é sócio e editor do site de economia e política Primeira Leitura. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo FHC).
Internet: www.primeiraleitura.com.br
E-mail - lcmb2@terra.com.br
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