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São Paulo, sexta-feira, 20 de junho de 2003

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OPINIÃO ECONÔMICA

O Copom aumenta os juros mais uma vez

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

Tomo emprestado de uma coluna minha recente o titulo deste meu espaço de hoje. Poderia repetir também os argumentos usados àquela época para chamar a atenção do leitor. Mas vou dar um passo adiante em minhas constantes criticas à atuação do Banco Central nestes primeiros meses do governo Lula. Principalmente por sentir que minhas palavras, inicialmente recebidas por larga parte da opinião pública como apenas um recalque tucano pela derrota eleitoral do ano passado, estão começando a calar fundo na sociedade.
Nestas quatro semanas que medeiam essas minhas colunas homônimas a realidade seguiu o caminho, até então quase solitário, de minhas previsões. A inflação perdeu fôlego sob o peso de uma recessão implacável nos setores dependentes de demanda interna, e a valorização do real acalmou o crescimento dos preços em setores superaquecidos pelas exportações. Apenas os preços administrados por regras contratuais de correção anual e os afetados por uma nova onda de taxas municipais de serviços públicos tiveram aumentos mais intensos.
O mês de junho marca de maneira mais clara essa mudança na dinâmica da inflação. Os índices que já foram divulgados e aqueles que se tornarão públicos nos próximos dias -o IPCA-15, na próxima terça-feira, e o IPC do IGP-M, no fim do mês- mostrarão até ao menos iluminado de nossos economistas que a inflação real no Brasil de hoje não é superior a 5% ao ano. Dado esse choque de realidade que os próximos dias nos trarão, sobrarão apenas alguns poucos radicais a balbuciar expressões até havia pouco dominantes, como "médias aparadas", "inércia inflacionária", "indexação salarial" e outras pérolas do autismo econômico que nos domina.
O número definitivo para o cair das cortinas dessa verdadeira ópera bufa inflacionária que vivemos neste início de governo do PT será divulgado no começo da segunda semana de julho: o IPCA de junho. Número-farol para o Banco Central, ele não será superior a 0,15% e poderá estar na zona da deflação. Quem me garante isso é o economista Alfredo Barbutti, que trabalha comigo e tem dado, nestes últimos meses, um verdadeiro banho de competência e de acertos em alguns "cobras" do mercado financeiro, que frequentam com uma assiduidade imerecida as páginas de economia dos principais jornais.
Esse é o lado róseo das noticias recebidas do "front" econômico. Certamente, o governo vai explorar à exaustão essa sua "vitória" sobre a "agenda maldita" herdada de FHC. "O verdadeiro governo do PT começa agora", vão dizer com orgulho as maiores estrelas do petismo convertido. "Agora começa o concerto do crescimento", proclamará aos ventos o presidente Lula. Mas cuidado, pessoal, para não queimar a língua na fogueira ainda acesa do conservadorismo ineficiente do Copom! A queda da inflação precisa ser reconhecida por esses sábios do pensamento econômico como "real e abrangente", sem ser qualificada com adjetivos vagos e inexistentes. Será preciso acelerar a redução dos juros na próxima reunião -qualquer número abaixo de 2% será um erro grosseiro-, além de diminuir com vigor os níveis atuais do compulsório bancário.
O nível de atividade da economia real continuou a cair em junho sob o peso dos juros reais crescentes e da paralisante escassez de crédito. As informações já disponíveis apontam uma queda de venda de dois dígitos em setores importantes da indústria e do comércio. São muitos os que trabalham hoje com uma capacidade ociosa da ordem de 40%. Mesmo a renda dos setores ligados à exportação reduziu-se de maneira importante, sob o peso de uma taxa de câmbio valorizada. As estatísticas mais recentes já mostram uma desaceleração do fechamento antecipado de contratos de câmbio de exportação. Nada ainda definitivo, mas eis um sinal que deve ser observado com cautela.
No campo do mercado de trabalho, a situação ainda vai piorar antes que os sinais de tempos melhores possam aparecer nas estatísticas de renda e emprego. Especialistas falam que isso poderá ocorrer apenas no segundo semestre do ano que vem, caso os juros sejam reduzidos na velocidade necessária para reativar a demanda -e estamos falando de taxas Selic da ordem de 16% ao ano em dezembro- e caso os bancos aumentem a oferta de crédito para as empresas e consumidores.
Temos, portanto, ainda um longo e tortuoso caminho a percorrer para que possamos dar como encerrado este que foi um dos maiores trancos monetários na história recente do país.


Luiz Carlos Mendonça de Barros, 60, engenheiro e economista, é sócio e editor do site de economia e política Primeira Leitura. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo FHC).

Internet: www.primeiraleitura.com.br

E-mail - lcmb2@terra.com.br


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