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São Paulo, sexta-feira, 20 de junho de 2003

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CRÉDITO

Linhas de financiamento com menor inadimplência são as mais caras

Bom pagador desembolsa mais com juros, diz estudo

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um estudo da ABM Consulting, com base em dados do Banco Central, mostra que quem dá menos calote paga os juros mais salgados ao pedir empréstimo em bancos. Analistas de mercado, porém, afirmam que a alta inadimplência na economia encarece os juros cobrados pelos bancos.
"A inadimplência representa perda para os credores. Quanto maior a inadimplência, maior o risco envolvido em uma operação de crédito. Esse risco precisa ser remunerado", diz Octavio de Barros, diretor de estudos macroeconômicos do BBV Banco.
Mas os dados do BC indicam que os bancos não separam o risco por modalidade de crédito. Segundo a ABM Consulting, as linhas de crédito que têm a menor inadimplência carregam as maiores taxas de juros, tanto nas operações com pessoas físicas como com jurídicas.
"Os bancos até analisam separadamente o risco de cada modalidade de empréstimo, mas definem os juros de acordo com a demanda", observa Alberto Borges Matias, professor da Faculdade de Economia e Administração da USP de Ribeirão Preto.
Segundo ele, os bancos descarregam as taxas nas carteiras que têm maior procura e nas quais não é possível negociar. "É o caso do cheque especial, para pessoa física, e da conta garantida -o cheque especial das empresas."
Segundo o estudo da ABM Consulting, o cheque especial registrava em abril -último dado do BC- índice de inadimplência de 10%. No mesmo mês, o juro médio cobrado pelos bancos nessa modalidade era de 179% ao ano.
É uma taxa extremamente elevada se comparada a outra modalidade para pessoa física, o crédito pessoal. Essa linha de crédito registrou em abril inadimplência de 15,1%, e cobrava juros anuais de 102%, em média.
Assim como o cheque especial, esse tipo de empréstimo bancário também não envolve garantias fornecidas pelo tomador, o que poderia reduzir o risco da operação. Apenas no caso dos empréstimos para a compra de veículos -onde o bem financiado é dado como garantia- se justifica que os juros sejam menores (50% ao ano), embora a inadimplência seja elevada (12,3%).

Pagando pelo risco
Os bancos alegam que os juros do cheque especial superam os das demais carteiras pois eles têm de manter um "colchão de liquidez" (recursos disponíveis) para o caso de todos os clientes resolverem usar ao mesmo tempo o limite de crédito no cheque especial.
Isso nunca aconteceu no mercado, mas como banco não rasga dinheiro, quem lança mão desses recursos paga pelo risco potencial da carteira toda, ou seja, pelo limite de crédito concedido a quem não fez uso dele. "Os bancos consideram que mesmo que o cliente não use o crédito, ele está disponível e isso significa custo para a instituição", diz Alan Marinovic, economista da ABM Consulting.
Também nas linhas destinadas às empresas há uma relação inversa entre o risco de inadimplência e a taxa de juros. A linha de crédito mais cara para a pessoa jurídica, por exemplo, é a da conta garantida (79,4% ao ano), que tem a menor taxa de inadimplência (3,5%) e o menor prazo médio de pagamento (22 dias).
Essa linha, que funciona como cheque especial das empresas, acaba custando mais por ser mais utilizada, segundo Matias.
O estudo da ABM Consulting mostra que, em média, as pessoas pagam juros maiores do que as empresas. Enquanto em abril a taxa média dos juros para pessoas físicas era de 86,3% ao ano, para as empresas era de 53% ao ano.
Para Barros, a explicação é que, em geral, "o crédito à pessoa física tem menos garantias do que o crédito à pessoa jurídica. Dessa forma, o risco das operações de crédito para as pessoas é relativamente superior".


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