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CRÉDITO
Linhas de financiamento com menor inadimplência são as mais caras
Bom pagador desembolsa mais com juros, diz estudo
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
Um estudo da ABM Consulting,
com base em dados do Banco
Central, mostra que quem dá menos calote paga os juros mais salgados ao pedir empréstimo em
bancos. Analistas de mercado,
porém, afirmam que a alta inadimplência na economia encarece os juros cobrados pelos bancos.
"A inadimplência representa
perda para os credores. Quanto
maior a inadimplência, maior o
risco envolvido em uma operação
de crédito. Esse risco precisa ser
remunerado", diz Octavio de Barros, diretor de estudos macroeconômicos do BBV Banco.
Mas os dados do BC indicam
que os bancos não separam o risco por modalidade de crédito. Segundo a ABM Consulting, as linhas de crédito que têm a menor
inadimplência carregam as maiores taxas de juros, tanto nas operações com pessoas físicas como
com jurídicas.
"Os bancos até analisam separadamente o risco de cada modalidade de empréstimo, mas definem os juros de acordo com a demanda", observa Alberto Borges
Matias, professor da Faculdade de
Economia e Administração da
USP de Ribeirão Preto.
Segundo ele, os bancos descarregam as taxas nas carteiras que
têm maior procura e nas quais
não é possível negociar. "É o caso
do cheque especial, para pessoa física, e da conta garantida -o cheque especial das empresas."
Segundo o estudo da ABM Consulting, o cheque especial registrava em abril -último dado do
BC- índice de inadimplência de
10%. No mesmo mês, o juro médio cobrado pelos bancos nessa
modalidade era de 179% ao ano.
É uma taxa extremamente elevada se comparada a outra modalidade para pessoa física, o crédito
pessoal. Essa linha de crédito registrou em abril inadimplência de
15,1%, e cobrava juros anuais de
102%, em média.
Assim como o cheque especial,
esse tipo de empréstimo bancário
também não envolve garantias
fornecidas pelo tomador, o que
poderia reduzir o risco da operação. Apenas no caso dos empréstimos para a compra de veículos
-onde o bem financiado é dado
como garantia- se justifica que
os juros sejam menores (50% ao
ano), embora a inadimplência seja elevada (12,3%).
Pagando pelo risco
Os bancos alegam que os juros
do cheque especial superam os
das demais carteiras pois eles têm
de manter um "colchão de liquidez" (recursos disponíveis) para o
caso de todos os clientes resolverem usar ao mesmo tempo o limite de crédito no cheque especial.
Isso nunca aconteceu no mercado, mas como banco não rasga dinheiro, quem lança mão desses
recursos paga pelo risco potencial
da carteira toda, ou seja, pelo limite de crédito concedido a quem
não fez uso dele. "Os bancos consideram que mesmo que o cliente
não use o crédito, ele está disponível e isso significa custo para a instituição", diz Alan Marinovic,
economista da ABM Consulting.
Também nas linhas destinadas
às empresas há uma relação inversa entre o risco de inadimplência e a taxa de juros. A linha de
crédito mais cara para a pessoa jurídica, por exemplo, é a da conta
garantida (79,4% ao ano), que
tem a menor taxa de inadimplência (3,5%) e o menor prazo médio
de pagamento (22 dias).
Essa linha, que funciona como
cheque especial das empresas,
acaba custando mais por ser mais
utilizada, segundo Matias.
O estudo da ABM Consulting
mostra que, em média, as pessoas
pagam juros maiores do que as
empresas. Enquanto em abril a taxa média dos juros para pessoas
físicas era de 86,3% ao ano, para
as empresas era de 53% ao ano.
Para Barros, a explicação é que,
em geral, "o crédito à pessoa física
tem menos garantias do que o
crédito à pessoa jurídica. Dessa
forma, o risco das operações de
crédito para as pessoas é relativamente superior".
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