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Denúncias vão atrasar reformas, avalia Bird
IURI DANTAS
DE WASHINGTON
Apesar de um prognóstico favorável sobre a economia brasileira,
o diretor do Bird (Banco Mundial) para o Brasil, Vinod Thomas, avalia que o atraso provocado pelas denúncias na agenda de
reformas, legislativas e administrativas, pode fazer com que o
país perca oportunidades, deixando um espaço no cenário internacional para países do Leste
Europeu e do sudeste da Ásia.
"O mundo está avançando, o
Brasil tem um potencial incrível, e
se posicionar dentro dessa economia global precisa de vários tipos
de ação. As economias asiáticas,
como também do Leste Europeu,
têm um comportamento de avanço muito forte neste momento.
Dois grupos que estão em crescimento de uma forma que nunca
vimos no passado. Eles têm uma
relevância especial porque têm
indicadores parecidos, e em vários casos produzem produtos semelhantes aos do Brasil", afirmou
Thomas.
Em entrevista à Folha na quinta-feira, o diretor do Bird tentou
passar uma visão de otimismo sobre o desenvolvimento do Brasil
no longo prazo, dando menor importância às denúncias de corrupção. Para Thomas, as dificuldades enfrentadas pelo governo, a
criação de uma CPI no Congresso
para investigar o "mensalão" e a
cobrança da sociedade são fatores
positivos, porque amadurecem a
democracia do país.
"Questão de corrupção e governança é algo mais amplo. Não é só
o que está acontecendo no momento. O Brasil tem um perfil interessante, com indicadores melhores que a média. Temos uma
situação que não é nova e um processo de discussão, de resolução
dos problemas. Não fazer isso é
mais problemático do que fazer.
Há benefícios e custos. O processo
político para atender essas questões é muito importante, é um
processo democrático", diz.
Segundo esse contexto, a crise
política não afetaria, por exemplo,
a liberação de empréstimos do
banco, que atinge US$ 1,75 bilhões (R$ 4,2 bilhões) no primeiro
semestre e deve fechar o ano em
US$ 2,5 bilhões (R$ 5,98 bilhões).
"Diria que esse processo democrático pode continuar junto com
o progresso econômico. Nosso
apoio para o país continua com
olhos de longo prazo. Não é uma
questão de uma semana ou duas
semanas. Trabalhamos com o
Brasil desde 1950. É melhor focar
esses anos juntos do que uma ou
duas semanas", disse.
O combate à corrupção, tradicionalmente uma das bandeiras
do Bird, voltou a ganhar importância internamente depois do
discurso de seu novo presidente,
o conservador republicano Paul
Wolfowitz, na semana passada na
Europa. Aos líderes do G8 -grupo dos sete países mais desenvolvidos e a Rússia-, o "falcão" norte-americano exortou os países a
combater a corrupção para tornar
mais fácil a liberação de recursos.
Em relação ao Brasil, Thomas
frisou que a transparência nas licitações públicas, com editais e
resultados divulgados para o público via internet, é um exemplo
para o banco. Segundo ele, Wolfowitz já combinou com o ministro Antonio Palocci (Fazenda)
uma visita a Brasília neste ano.
Depois de breve passagem por
Washington, Thomas voltou ao
Brasil na sexta-feira para finalizar
seu trabalho. Em julho, deixa o
cargo para assumir a diretoria de
Avaliação de Operações do Bird.
Seu sucessor não foi definido.
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