São Paulo, segunda-feira, 20 de junho de 2005

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Denúncias vão atrasar reformas, avalia Bird

IURI DANTAS
DE WASHINGTON

Apesar de um prognóstico favorável sobre a economia brasileira, o diretor do Bird (Banco Mundial) para o Brasil, Vinod Thomas, avalia que o atraso provocado pelas denúncias na agenda de reformas, legislativas e administrativas, pode fazer com que o país perca oportunidades, deixando um espaço no cenário internacional para países do Leste Europeu e do sudeste da Ásia.
"O mundo está avançando, o Brasil tem um potencial incrível, e se posicionar dentro dessa economia global precisa de vários tipos de ação. As economias asiáticas, como também do Leste Europeu, têm um comportamento de avanço muito forte neste momento. Dois grupos que estão em crescimento de uma forma que nunca vimos no passado. Eles têm uma relevância especial porque têm indicadores parecidos, e em vários casos produzem produtos semelhantes aos do Brasil", afirmou Thomas.
Em entrevista à Folha na quinta-feira, o diretor do Bird tentou passar uma visão de otimismo sobre o desenvolvimento do Brasil no longo prazo, dando menor importância às denúncias de corrupção. Para Thomas, as dificuldades enfrentadas pelo governo, a criação de uma CPI no Congresso para investigar o "mensalão" e a cobrança da sociedade são fatores positivos, porque amadurecem a democracia do país.
"Questão de corrupção e governança é algo mais amplo. Não é só o que está acontecendo no momento. O Brasil tem um perfil interessante, com indicadores melhores que a média. Temos uma situação que não é nova e um processo de discussão, de resolução dos problemas. Não fazer isso é mais problemático do que fazer. Há benefícios e custos. O processo político para atender essas questões é muito importante, é um processo democrático", diz.
Segundo esse contexto, a crise política não afetaria, por exemplo, a liberação de empréstimos do banco, que atinge US$ 1,75 bilhões (R$ 4,2 bilhões) no primeiro semestre e deve fechar o ano em US$ 2,5 bilhões (R$ 5,98 bilhões). "Diria que esse processo democrático pode continuar junto com o progresso econômico. Nosso apoio para o país continua com olhos de longo prazo. Não é uma questão de uma semana ou duas semanas. Trabalhamos com o Brasil desde 1950. É melhor focar esses anos juntos do que uma ou duas semanas", disse.
O combate à corrupção, tradicionalmente uma das bandeiras do Bird, voltou a ganhar importância internamente depois do discurso de seu novo presidente, o conservador republicano Paul Wolfowitz, na semana passada na Europa. Aos líderes do G8 -grupo dos sete países mais desenvolvidos e a Rússia-, o "falcão" norte-americano exortou os países a combater a corrupção para tornar mais fácil a liberação de recursos.
Em relação ao Brasil, Thomas frisou que a transparência nas licitações públicas, com editais e resultados divulgados para o público via internet, é um exemplo para o banco. Segundo ele, Wolfowitz já combinou com o ministro Antonio Palocci (Fazenda) uma visita a Brasília neste ano.
Depois de breve passagem por Washington, Thomas voltou ao Brasil na sexta-feira para finalizar seu trabalho. Em julho, deixa o cargo para assumir a diretoria de Avaliação de Operações do Bird. Seu sucessor não foi definido.

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