São Paulo, terça-feira, 20 de junho de 2006

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Juiz aceita venda da Varig a funcionários

Negócio é aprovado 11 dias após realização de leilão; grupo de trabalhadores não revela nome de parceiros estrangeiros

Compra da aérea ainda depende de depósito de R$ 170 mi; novos donos vão reduzir rotas e número de aviões em operação

Jorge Araújo - 18.jun.06/Folha Imagem
Área do Aeroporto de Guarulhos para embarque de clientes da Varig de vôos internacionais, cuja regularidade foi de 65% em maio


JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO

Onze dias após o leilão em que fez a única proposta para a compra da Varig, o consórcio NV Participações -formado pelo grupo TGV (Trabalhadores do Grupo Varig) e investidores estrangeiros- tornou-se o novo dono da empresa. A proposta foi homologada pelo juiz Luiz Roberto Ayoub, da 8ª Vara Empresarial da Justiça do Rio.
"Entendemos que os esclarecimentos foram prestados e que foram apresentadas as garantias financeiras necessárias", disse Ayoub sobre as exigências que a Justiça havia feito em relação à proposta de R$ 1,010 bilhão feita pelo consórcio. A NV vai gerenciar as linhas domésticas e internacionais da empresa e tem, a partir de hoje, 72 horas para depositar cerca de R$ 170 milhões como primeira parcela da compra.
O prazo acaba na sexta-feira. Quinta, dia do jogo do Brasil na Copa do Mundo, não será computado. Se não for feito o depósito, poderá haver um novo leilão das operações da empresa.
Segundo o coordenador do TGV, o piloto Márcio Marsillac, os trabalhadores contam com dois parceiros financeiros, mas os nomes só serão divulgados após o pagamento.
De acordo com Marsillac, os trabalhadores estão recebendo o controle da empresa aérea num momento em que a "Varig passa por uma "extrema-unção", pressionada por fornecedores e credores". A partir de hoje, o TGV vai implementar um plano de contigência na Varig e o número de aviões em operação cairá de 49 para 30. Serão priorizadas as rotas mais rentáveis até que o grupo consiga negociar novos prazos com as empresas de leasing.
Marsillac reclamou do Judiciário, que se negou a entregar a administração da Varig antes do pagamento dos R$ 170 milhões. Segundo ele, a nova diretoria será inteiramente modificada e será composta por executivos do mercado: "Nenhum funcionário de carreira da empresa permanecerá em posto de direção da Varig", disse.
Há sérias dúvidas no mercado de que o TGV realmente disponha de dinheiro para comprar a empresa. Duvida-se também de que o grupo possa reformular a empresa para que seja viável: essa reformulação, por si só, demanda um investimento de grandes proporções.

Frustração
O leilão da Varig, que ocorreu no último dia 9, frustrou expectativas, já que as concorrentes do setor e as demais empresas que tiveram acesso aos dados financeiros da companhia não apresentaram propostas.
Já se esperava que companhias como TAM e Gol, que precisam prestar contas aos seus acionistas, não assumiriam o risco de fazer lances pela Varig, já que se sabia da possibilidade de o comprador herdar o passivo trabalhista e fiscal.
Na ocasião, entretanto, a companhia Ocean Air, do empresário German Efromovich, era citada como a mais forte candidata a fazer uma proposta pela Varig. O limite da empresa, entretanto, como se soube depois, era US$ 150 milhões, um valor muito menor do que o preço mínimo estabelecido: o valor inicial estimado para o modelo de venda da Varig Operações (que reúne linhas internacionais mais domésticas) era de US$ 860 milhões. O TGV ofereceu o equivalente a US$ 449 milhões pela companhia.

Colaborou a Reportagem Local



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