São Paulo, sábado, 20 de junho de 2009

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ANÁLISE

Criticada por todos os lados, a FAO é um desastre

HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

A ONU e suas agências jamais se notabilizaram pela eficácia administrativa nem pela excelência técnica dos relatórios que produzem. Ainda assim podem ser justificadas pelo fato de constituírem a espinha dorsal do multilateralismo.
No argumento de seus defensores, a existência de foros onde países possam discutir grandes temas como relações internacionais, saúde, educação, alimentação e coordenar ações nessas áreas é valiosa demais para ser questionada apenas com base em planilhas de custo-benefício. É provável que tenham razão.
O problema da FAO, porém, é que seus padrões de eficiência são obstinadamente baixos até quando comparados à já dispendiosa estrutura da ONU.
A insatisfação com a performance da agência levou os países participantes da Conferência Mundial de Alimentos no longínquo ano de 1974 a criar duas novas organizações para tentar fazer o que a FAO não conseguia: o Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola e o Conselho Mundial de Alimentos (depois extinto e em parte substituído pelo Programa Alimentar Mundial).
A FAO é um dos raros casos de organismo que consegue ser duramente criticado pela esquerda, pela direita e por seus próprios dirigentes.
Para os conservadores, a FAO é uma caixa-preta, cuja estrutura paquidérmica e mediocridade técnica a tornaram irrelevante em seu propósito de combater a fome.
A esquerda jamais perdoou à agência o fato de ter defendido a utilização de biotecnologia no combate à fome. Foi acusada de ter-se colocado ao lado das grandes corporações.
O ataque mais brutal, entretanto, veio de suas próprias trincheiras. Em 1991, um alto dirigente da organização tomou de um pseudônimo, Khalil Sesmou, e escreveu críticas demolidoras na revista britânica "The Ecologist". Disse que a agência falhara "desastrosamente". Acusou-a de agir como garoto-propaganda de indústrias e acusou o então diretor-geral de autocrata preocupado apenas com a própria reeleição.
A pressão foi tanta que a própria FAO se curvou ao peso das evidências e, em 2005, aceitou submeter-se a uma avaliação externa independente. Dois anos depois, a comissão entregou seu relatório, no qual chancelou boa parte das críticas, mas estimou que a agência, se reformada, tem salvação.
Acredite quem quiser.


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