São Paulo, sábado, 20 de julho de 2002

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MERCADO EM TRANSE

Bolsa de NY já passa a "barreira de pânico" dos 8.000 pontos

Wall Street perde sangue e recua ao valor da crise russa

DA REDAÇÃO

A Bolsa de Nova York desabou ontem ao menor nível desde outubro de 1998, quando a crise russa derrubou os mercados de todo o planeta. O Dow Jones mergulhou 4,64% e chegou a cair abaixo de 8.000 pontos pela primeira vez em quatro anos.
Nem os ataques terroristas de 11 de setembro significaram um golpe tão potente para os mercados financeiros como a bateria de escândalos contábeis que veio a público nos últimos meses. Nas últimas duas semanas, o índice perdeu 14% de seu valor. Em dez pregões, só não caiu em um.
A última vez em que o Dow Jones fechou acima de 10 mil pontos foi na última semana de maio. De lá para cá, o índice caiu quase 2.000 pontos. Ontem, por pouco não fechou abaixo de 8.000 pontos, conhecido como o "limite de pânico". Nas últimas noves semanas, a Bolsa de Nova York encerrou no vermelho em oito.
A queda de 390 pontos registrada ontem é a sétima maior da história do índice. Entram no cálculo do Dow Jones as 30 maiores empresas norte-americanas, que representam cerca de um quarto do valor de todas as ações listadas na NYSE (New York Stock Exchange, a Bolsa de Nova York).
Ontem o pânico dos investidores foi inflado pela revelação de que um dos principais medicamentos da Johnson & Johnson é suspeito de ter causado um doença rara, mas fatal, em 141 pessoas no Canadá e na Europa. As ações da farmacêutica caíram 15%.
"Os administrados de fundos recebem telefonemas com pessoas dizendo, "Venda meus papéis e me traga dinheiro vivo!'", disse Will Muggia, diretor da Touchstone Emerging Growth Fund. "Parte do medo se deve a fato de que não há onde se esconder. As pessoas estão se livrando de tudo que ainda não desabou."
O pobre desempenho das companhias no trimestre passado e a perspectiva de queda nos lucros no segundo semestre ajudou a ampliar o pessimismo. As ações da Sun Microsystems, por exemplo, despencaram 27%, depois que a fabricante de computadores informou que espera uma queda nas vendas nos próximos meses.
"Não há nada além de más notícias. Quando você olha para o mercado de ações tecnológicas, como a Sun Microsystems sendo negociada abaixo de US$ 5, isso realmente acaba com o vento de nossas velas", disse Matt Holscher, diretor para a Nasdaq da corretora WR Hambrecht & Co. "É uma tortura. É brutal."
O terremoto em Wall Street abalou os mercados de todo o mundo. Todas as principais Bolsas fecharam em queda, com os mercados europeus caindo me média 5% e batendo novos recordes de baixa dos últimos cinco anos (época da crise asiática).
Os outros índices norte-americanos, que já vinham operando nos menores patamares dos últimos cinco anos, aprofundaram as perdas ontem. O índice da Nasdaq, Bolsa que concentra companhias de alta tecnologia, recuou 2,79%. O índice Standard & Poor's 500, que lista as maiores empresas dos EUA, caiu 3,84%.

Economia vulnerável
No campo dos fundamentos econômicos, as notícias também são ruins. O Departamento de Comércio dos EUA informou ontem que o déficit do país nas transações com o exterior atingiu US$ 37,6 bilhões em maio, o maior valor já registrado.
O buraco nas contas externas fez o dólar se desvalorizar ainda mais ante o euro. A cotação da moeda européia, que já subiu mais de 15% nos últimos quatro meses, subiu de US$ 1,0066, anteontem, para US$ 1,0140.
O tombo nos mercados pode afetar o crescimento econômico dos EUA. Cerca de 60% das famílias norte-americanas aplicam em ações e, com as perdas, deverão fechar as carteiras e consumir menos. Além disso, o mercado acionário é a principal fonte de financiamento para as empresas.



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