|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUÍS NASSIF
Pesquisa e desenvolvimento
Hoje em dia a área farmacêutica está na fronteira
do conhecimento. E, dentro de
uma visão estratégica de longo
prazo, abre-se enorme janela
de oportunidade para o Brasil.
Nos anos 90, a indústria farmacêutica mundial investiu na
química combinatória (infinitas combinações em cima de
uma molécula). Nos últimos
dez anos, foram gastos US$ 880
milhões para um único produto que deu certo. No ano passado, não se obteve nenhum resultado concreto sequer.
Esse método passou a ser
questionado em favor da biodiversidade, o tipo de pesquisa
em que a natureza faz a seleção
inicial da molécula. E aí entram vantagens comparativas
relevantes do Brasil.
Há a biodiversidade brasileira. Na universidade, existe
uma pesquisa feita diuturnamente em laboratórios de nível
internacional. Já existe um Sistema Nacional de Inovação,
um excelente sistema de pós-graduação em quase todas as
áreas estratégicas.
Nos últimos dez anos, só a
Fapesp (Fundação de Amparo
à Pesquisa do Estado de São
Paulo) investiu US$ 400 milhões e formou 1.400 doutores
nas áreas biomédica e biológica.
Existem dois problemas centrais a serem superados. O primeiro, de ordem cultural. Nos
países avançados, a geração de
conhecimento é universal; a
aplicação é nacional. O Brasil
ainda não saiu da primeira fase, de sair distribuindo conhecimento como se fosse o primo rico do mundo.
Baseada na experiência norte-americana, a Fapesp criou o
modelo Cepid (Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão), para fazer o meio-campo entre o
pesquisador e a empresa. Foram analisadas 120 propostas
de criação de Cepids setoriais,
das quais 20 foram aprovadas.
Cabe a cada Cepid prospectar
pesquisas, obter financiamento
na própria Fapesp, orientar o
pesquisador, inclusive no campo jurídico e contratual, colocá-lo em contato com empresas
interessadas no desenvolvimento.
O segundo desafio é como
criar a grande empresa nacional nessas áreas de ponta. Recentemente o CAT (Centro de
Toxinologia Aplicada), um dos
Cepids, conseguiu juntar três
empresas brasileiras -Biolab,
Biossintética e União Química- no consórcio Coinfar. Pelo
modelo, as empresas ficam com
40% da titularidade da patente, o pesquisador líder, com outros 10%, e a Fapesp, com 50%.
Já foram depositadas seis patentes, e mais três já foram inscritas para serem depositadas.
Existe o risco de não dar em
nada, mas existe a possibilidade de se tornar um produto farmacêutico internacional. A dificuldade é a falta de empresas
brasileiras de fôlego. O próprio
BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social) está tentando induzir a
uma fusão entre essas empresas
para ganhar massa crítica.
Mesmo assim, o setor tem poucas empresas, que acabaram se
acomodando na rota de menor
risco dos genéricos.
O desafio consiste em juntar
elementos, induzir a entrada
de novos investidores e prospectar parceiros internacionais, especialmente empresas
de grandes países-baleia, como
China, Índia e Rússia, ou empresas médias dos países centrais.
De qualquer modo, as peças
do jogo estão à mão. Só falta
começar a jogar.
Amanhã vamos analisar o
futuro estratégico das políticas
sociais.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: INSS: Aumento de tributo não vai cobrir correção a aposentado Índice
|