São Paulo, terça-feira, 20 de julho de 2004

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LUÍS NASSIF

Pesquisa e desenvolvimento

Hoje em dia a área farmacêutica está na fronteira do conhecimento. E, dentro de uma visão estratégica de longo prazo, abre-se enorme janela de oportunidade para o Brasil.
Nos anos 90, a indústria farmacêutica mundial investiu na química combinatória (infinitas combinações em cima de uma molécula). Nos últimos dez anos, foram gastos US$ 880 milhões para um único produto que deu certo. No ano passado, não se obteve nenhum resultado concreto sequer.
Esse método passou a ser questionado em favor da biodiversidade, o tipo de pesquisa em que a natureza faz a seleção inicial da molécula. E aí entram vantagens comparativas relevantes do Brasil.
Há a biodiversidade brasileira. Na universidade, existe uma pesquisa feita diuturnamente em laboratórios de nível internacional. Já existe um Sistema Nacional de Inovação, um excelente sistema de pós-graduação em quase todas as áreas estratégicas.
Nos últimos dez anos, só a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) investiu US$ 400 milhões e formou 1.400 doutores nas áreas biomédica e biológica.
Existem dois problemas centrais a serem superados. O primeiro, de ordem cultural. Nos países avançados, a geração de conhecimento é universal; a aplicação é nacional. O Brasil ainda não saiu da primeira fase, de sair distribuindo conhecimento como se fosse o primo rico do mundo.
Baseada na experiência norte-americana, a Fapesp criou o modelo Cepid (Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão), para fazer o meio-campo entre o pesquisador e a empresa. Foram analisadas 120 propostas de criação de Cepids setoriais, das quais 20 foram aprovadas. Cabe a cada Cepid prospectar pesquisas, obter financiamento na própria Fapesp, orientar o pesquisador, inclusive no campo jurídico e contratual, colocá-lo em contato com empresas interessadas no desenvolvimento.
O segundo desafio é como criar a grande empresa nacional nessas áreas de ponta. Recentemente o CAT (Centro de Toxinologia Aplicada), um dos Cepids, conseguiu juntar três empresas brasileiras -Biolab, Biossintética e União Química- no consórcio Coinfar. Pelo modelo, as empresas ficam com 40% da titularidade da patente, o pesquisador líder, com outros 10%, e a Fapesp, com 50%. Já foram depositadas seis patentes, e mais três já foram inscritas para serem depositadas.
Existe o risco de não dar em nada, mas existe a possibilidade de se tornar um produto farmacêutico internacional. A dificuldade é a falta de empresas brasileiras de fôlego. O próprio BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) está tentando induzir a uma fusão entre essas empresas para ganhar massa crítica. Mesmo assim, o setor tem poucas empresas, que acabaram se acomodando na rota de menor risco dos genéricos.
O desafio consiste em juntar elementos, induzir a entrada de novos investidores e prospectar parceiros internacionais, especialmente empresas de grandes países-baleia, como China, Índia e Rússia, ou empresas médias dos países centrais.
De qualquer modo, as peças do jogo estão à mão. Só falta começar a jogar.
Amanhã vamos analisar o futuro estratégico das políticas sociais.

E-mail - Luisnassif@uol.com.br


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