São Paulo, quinta-feira, 20 de agosto de 2009

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Brasil oferece R$ 3,5 bi à Argentina

Nova linha de crédito com juros iguais à Selic será como "cheque especial" ao país vizinho, diz Mantega

Empréstimo será pago em moedas locais; Argentina também abre linha, de 7 milhões de pesos, para o Brasil, mas a juros de 11%


Roberto Jayme/Reuters
Os ministros Guido Mantega (Fazenda) e Amado Bodou (Economia da Argentina) em entrevista em que anunciaram empréstimo

JULIANA ROCHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Brasil vai liberar um empréstimo para a Argentina de R$ 3,5 bilhões, nos mesmos moldes do que foi oferecido pelo Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) em outubro do ano passado. Pelo acerto, se a Argentina precisar sacar os recursos ou parte deles, pagará o equivalente à taxa básica de juros do Brasil, hoje de 8,75% ao ano.
O dinheiro ficará disponível em pesos para o país vizinho e será contabilizado como reservas para o Brasil. Os recursos vão sair do caixa do Banco Central, em moeda nacional.
Ontem, os ministros Guido Mantega (Fazenda) e Amado Bodou (da Economia da Argentina) assinaram o acordo de intenção de abrir a linha de crédito, mas o contrato terá que ser firmado entre os bancos centrais, depois de análises jurídicas e definição de pendências.
Mantega citou, como um exemplo de cláusula que deverá constar no contrato, que o saque não poderá ser feito de uma vez só para não mexer de forma drástica na cotação das moedas em um só dia. O ministro não soube dizer quanto tempo vai demorar para o contrato ficar pronto nem qual será a validade desta linha.
O mecanismo foi chamado de "swap" pelos dois ministros. Isso porque o governo da Argentina também vai disponibilizar o mesmo valor, equivalente a 7 bilhões de pesos para o Brasil, que, se precisar sacar os recursos, pagará os juros do país vizinho de 11%.
As chances de o Brasil sacar o dinheiro são mínimas, uma vez que os juros cobrados pelo governo são mais baixos. Então, sempre que o setor público brasileiro precisar se financiar, emite títulos da dívida interna.
Mantega ressaltou diversas vezes que o acordo é um empréstimo que o Brasil ofereceu. Ele comparou com um cheque especial, o qual a Argentina pode usar se quiser.
A linha de crédito do Brasil em pesos faz parte de uma estratégia brasileira de substituir os dólares nas transações financeiras e comerciais com outros países. O comércio do Brasil com a Argentina em pesos já está funcionando. Há a intenção de adotar o mesmo mecanismo com a China, usando o yuan como moeda de troca.
Mantega afirmou que o contrato com a Argentina faz parte de uma estratégia de maior integração financeira do Mercosul e que o Brasil pretende oferecer o mesmo mecanismo para Paraguai, Uruguai e Bolívia. Segundo os dois ministros, o Banco do Sul será outro passo na integração da região.
"Temos interesse de criar um fortalecimento financeiro de ambos em um cenário de crise, em que o crédito está escasso", disse Mantega.
O ministro brasileiro acrescentou, porém, que o fato de o Brasil anunciar agora esse acordo não quer dizer que o vizinho precise de liquidez. Ao contrário, Mantega ressaltou dados positivos da Argentina.
Diante do colega argentino, Mantega tentou esfriar os problemas entre os dois países no comércio exterior. Ele disse que as licenças não automáticas, que dificultam exportações, representam apenas 6% do comércio do Brasil com a Argentina.


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