São Paulo, quinta, 20 de agosto de 1998

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OPERAÇÃO PADRÃO
As fábricas Fiat, Ford e General Motors são atingidas pela falta de componentes importados
Sem peças, montadoras cortam produção

ARTHUR PEREIRA FILHO
da Reportagem Local

Os fabricantes de veículos estão sendo obrigados a suspender a montagem de alguns modelos e a cancelar encomendas feitas à indústria nacional de autopeças.
Dessa vez, a redução do ritmo de produção é provocada pela falta de componentes importados, que estão retidos nos portos e aeroportos em consequência da operação padrão dos fiscais da Receita Federal e da greve no porto de Santos, que terminou ontem.
"A situação é grave", diz Elias Mufarej, diretor de Comércio Exterior do Sindipeças, entidade que representa a indústria de autopeças. "As montadoras começaram a suspender os pedidos deste mês. O faturamento do setor de autopeças deve cair entre 10% e 15%". A exportação de autopeças está sendo prejudicada, diz Mufarej.
A Anfavea (associação das montadoras) deve analisar a situação hoje, durante reunião de diretoria. Por enquanto, as fábricas mais atingidas pela falta de peças importadas são a Ford, a Fiat, a General Motors e a Mercedes-Benz.
A Ford decidiu paralisar durante três dias a produção de caminhões e picapes na fábrica do Ipiranga, em São Paulo. Desde terça-feira, a empresa adotou uma "parada emergencial" e deixou de montar 200 veículos por dia.
A medida foi tomada porque os fornecedores não estão entregando motores. A MWM, por exemplo, que fabrica no Brasil motores para picapes da Ford, deixou de fornecer porque não recebe, há mais de dez dias, as juntas do motor que vêm da Alemanha.
Cerca de 30% das empresas de autopeças instaladas no Brasil dependem de componentes importados para fabricar as peças que fornecem às montadoras. "O setor trabalha com estoques para no máximo 15 dias", diz Mufarej.
Na Fiat, o Marea, recém-lançado pela marca, é o mais atingido pela crise. Cerca de 60% das peças usadas na montagem do carro são importadas. Boa parte da produção está indo para o pátio incompleta, à espera de alguns componentes.
A direção da Fiat se reúne amanhã para avaliar a situação. Não está descartada a paralisação temporária da produção do Marea.
O fabricação do Palio também pode ser reduzida ou até suspensa. A decisão será tomada após um levantamento do estoque de peças para o modelo existente junto aos fornecedores da marca.
A General Motors informou ontem que a falta de componentes importados já afeta a produção nas linhas de montagem de São Caetano e São José dos Campos. A empresa não fornece detalhes.
Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano, um dos carros mais afetados é o Vectra. Os funcionários da unidade de São Caetano entram em férias coletivas a partir de segunda-feira.
Em São José, a empresa está reduzindo o ritmo de produção e montando veículos incompletos devido à falta de peças importadas. A unidade produz o Corsa, a picape S-10, a Blazer e caminhões.
O Sindicato dos Metalúrgicos de São José informou que, desde o início da semana, foram produzidos 832 carros Corsa incompletos.
A Mercedes-Benz decidiu parar a produção de motores de caminhões por causa da falta de componentes importados, diz Mufarej. "Essa decisão atinge toda a cadeia de fornecedores da montadora", explica.
A Mercedes desmente. "A empresa fez um balanço do seu estoque e decidiu manter o ritmo de produção", diz André Senador, gerente de comunicação.
A Volkswagen, a menos afetada pela falta de peças importadas, promete divulgar hoje um balanço da situação em suas unidades.


Colaborou a Folha Vale



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