São Paulo, sexta-feira, 20 de setembro de 2002

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COMÉRCIO

Demanda fraca adia encomendas, e indústria prevê lançar só uma coleção

Crise reduz moda de verão em 2002

Fabiana Beltramin/Folha Imagem
Interior de loja da grife de biquínis Rosa Chá, em SP; preços do produto subiram 1,8% em agosto


ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Os consumidores podem se preparar para um verão morno: as entregas da nova coleção só são feitas a conta-gotas, e deve ocorrer um atraso nas encomendas deste mês -que foram adiadas para outubro. Consequência: não haverá mais os chamados verão e alto verão para a indústria da moda em 2002. "O calendário está tão confuso que teremos uma coleção única", diz Roberto Chadad, presidente da Abravest, entidade que representa 17 mil indústrias do setor de vestuário.
Normalmente há lançamentos para o que os lojistas chamam de período do verão -de setembro a novembro- e de alto verão (de dezembro a fevereiro), quando as temperaturas disparam. Com isso, a indústria consegue vender, apenas nesta estação, mais US$ 11 bilhões em vendas. "Agora não sabemos como isso vai ficar. O varejo está travado, e tem fabricante dando chilique", diz.
Na prática, as causas são muitas. E todas afetaram o cronograma da indústria. Com a demanda em marcha lenta -devido à queda na renda da população-, o lojista não vende. A temperatura instável, com dias quentes e frios intercalados, também não ajuda. Assim como a indefinição no campo político e as especulações em torno das pesquisas eleitorais.
Resultado: o varejista adotou uma postura de cautela e conteve as encomendas de agosto -quando normalmente ocorrem os pedidos do verão. Acabou, portanto, jogando a confirmação de pedidos mais para a frente. E por tempo indeterminado.
"Está tudo atrasado. E, quando os pedidos forem feitos para valer, vamos ter de entregar do dia para a noite. Nesse cenário, teremos de usar o que tivermos em estoque. Ou seja, nem vai dar para encomendar mais matéria-prima para atender algum pedido específico. Vamos ter de usar o verde ou o azul que tivermos aqui mesmo", diz Fernando Dzik, dono da Studio Malhas e diretor da Abravest.

11 de setembro
As encomendas atuais estão no mesmo nível após o ataque terrorista aos EUA, em 11 de setembro de 2001. Mas há uma diferença: naquele ano, algumas indústrias deixaram de vender -cerca de 20% dos pedidos de roupas não foram entregues- porque não havia expectativa de recuperação das encomendas na última hora. No verão de 2002, empresários não querem repetir a mesma falha. "Vamos contratar temporários se a situação apertar mais para a frente", diz Dzik.
A indústria do vestuário fatura cerca de US$ 16,5 bilhões por ano -são 5,3 bilhões de peças fabricadas-, e mais de 70% do montante é obtido no verão. Ou seja, o período é o "ganha-pão" do setor.

Pouco pano, preço alto
Engana-se quem acredita que os atuais biquínis, com tão pouco pano e com tantas marcas, são baratos ou não sobem de preço. Desde abril, o preço do produto não pára de subir. Só em agosto o aumento foi de 1,80%, segundo pesquisa da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisa Econômica). Essa é a segunda maior alta do ano -perdendo apenas para janeiro.
Há uma tentativa de repassar as perdas cambiais com a desvalorização do real, que ocorre desde maio. Calcula-se que seria necessário aumento de 10%, diz a Abravest. O varejo não aceita. "Nós vamos ter de inventar produto mais barato, porque o cliente não vai aceita reajustes", diz Nabil Sayon, presidente da Alshop, que representa os shopping centers.


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