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Produção de energia em usina sofrerá fortes oscilações
Vazão do rio Xingu levará Belo Monte a alternar períodos de grande produção e de baixa geração
DO ENVIADO ESPECIAL AO PARÁ
A grande oscilação entre
cheias e secas do rio Xingu vai
transformar a hidrelétrica de
Belo Monte numa imensa usina "vaga-lume". A vazão do rio
pode alcançar 20 mil metros
cúbicos por segundo no período de cheia, e em outros momentos, como agora, pode baixar a menos de mil metros cúbicos por segundo entre os períodos de setembro a outubro.
A Grande São Paulo, maior
núcleo urbano do país, consome cerca de 60 metros cúbicos
de água por segundo. O Xingu,
mesmo na baixa, pode abastecer 16 cidades como São Paulo.
Mas com essa imensa variação
do nível d'água, Belo Monte terá, no período seco, pouca água
para movimentar as turbinas.
Para extrair a energia dos 11,2
mil MW, são necessários 14 mil
metros cúbicos por segundo de
água, condição só possível entre os meses de março e abril,
auge do período chuvoso. A
previsão é que em outubro a situação seja inversa, de baixíssimo volume d'água, com geração ínfima.
"Como é possível uma usina
com tantos problemas ambientais ter uma ociosidade dessa
magnitude? Se a vazão do rio
baixar mais de 700 metros cúbicos por segundo, o que já
ocorreu, Belo Monte produzirá
quase como uma pequena central hidrelétrica", critica Francisco Hernanes, pesquisador
do IEE/USP (Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo) e um dos
coordenadores do grupo de 38
especialistas de várias regiões
do país que apresentará ao Ibama suas impressões sobre o
projeto até o fim deste mês.
Só a partir dessa particularidade é possível relativizar o tamanho de Belo Monte. Embora
a capacidade seja imensa, a
energia firme extraída da usina
será de 4.428,1 MW, 39,4% da
capacidade total, algo próximo
às usinas do Madeira (Jirau e
Santo Antônio). Essa potência
com que o país poderá de fato
contar é 7,5% menor do que havia desejado a Eletrobrás.
A área ambiental exigiu a liberação de pelo menos 700
m3/s para o trecho de vazão reduzida do Xingu, para a Volta
Grande. A barragem vai desviar
o rio e vai secar parte dos 100
quilômetros da Volta Grande.
No período chuvoso, o volume
d'água abaixo da barragem
principal será, no máximo, de
4.000 m3/s no primeiro ano e
de 8.000 m3/s no ano seguinte.
Foi a forma encontrada para se
evitar uma catástrofe ambiental, com morte de peixes e da
floresta ribeirinha, além de assegurar condições de navegação aos povos da região.
Walter Cardeal, diretor de
engenharia da Eletrobrás, não
considera esse um problema
para a operação da usina. A justificativa: apesar disso, Belo
Monte vai revezar com as usinas do Sul e do Sudeste no
abastecimento do Sistema Interligado Nacional. "As chuvas
na região Norte ocorrem antes
das chuvas do Sudeste. Com isso, Belo Monte pode gerar
energia enquanto as usinas do
Sul e do Sudeste reservam
água, e vice-versa", explica.
Maurício Tolmasquim, presidente da EPE, reconhece o
problema, mas justifica que isso ocorre em razão da impossibilidade hoje de construir usinas como Itaipu, com grandes
"estoques" de água. Foi isso
que reduziu de 1.225 para 516
quilômetros quadrados a área
alagada pelo projeto. "O país
perde potencial energético, é
inevitável. Ou fazemos isso, ou
não temos mais hidrelétricas."
Para especialistas, reside aí
um dilema. Uma resolução do
CNPE (Conselho Nacional de
Política Energética) determinou a construção apenas de Belo Monte na bacia do rio Xingu.
"Quem pode assegurar que, numa eventual crise energética, o
CNPE não mude sua posição e
aprove outras barragens no
Xingu para aproveitar mais a
capacidade que ficará ociosa?",
disse Hermes Fonseca de Medeiros, professor-adjunto da
Faculdade de Ciências Biológicas da Universidade Federal do
Pará. Para especialistas, a resolução não é uma garantia.
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