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EMPRESÁRIOS
Depoimento vai a cartório
Garnero quer esquecer o passado
ANTONIO CARLOS SEIDL
da Reportagem Local
O empresário Mario Garnero está de volta à vida pública e não
quer mais falar do passado.
Ele afirma agora que tudo que
tem a dizer sobre os anos que passou na condição de "criminoso do
colarinho branco" após a liquidação extrajudicial do grupo Brasilinvest está no depoimento "O caso Brasilinvest".
O documento, registrado no 7º
Cartório de Registro de Títulos e
Documentos de São Paulo, no ano
passado, é publicado com exclusividade pela Folha nesta página.
Seu grupo, o Brasilinvest, foi liquidado pelo decreto de 15 de março de 1985, do então ministro da
Fazenda, Francisco Dornelles
(atual ministro da Indústria e Comércio).
O Mario Garnero de 1997 não
pensa em vingança. Sua volta é sua
vingança.
Sentado em seu escritório numa
cobertura na avenida Faria Lima,
Mario Garnero diz que vê seu retorno à vida pública, marcado pela
realização, no mês passado, da
"Conferência de Mônaco", promovida pelo seu "Fórum das
Américas", como a continuação
de seu trabalho no Centro Acadêmico 22 de Agosto, da Faculdade
de Direito da PUC (Pontifícia Universidade Católica), de São Paulo.
"Sinto-me como um presidente
envelhecido do centro acadêmico", diz.
Foi a partir da presidência do
Centro Acadêmico 22 de Agosto,
que o jovem Mario lançou sua carreira pública, convidando os influentes e poderosos para "ciclos
de integração nacional", debates
que tiveram grande repercussão
na conturbada vida política do
Brasil da primeira metade dos
anos 60.
Essa atividade lhe garantiu, já
aos 23 anos de idade, o título de
cidadão paulistano e a amizade de
políticos e empresários influentes,
tais como Juscelino Kubitschek.
Os "ciclos" do tempo de acadêmico deram margem à criação do
"Fórum das Américas", em 1965,
um meio para a realização de seminários sobre a integração econômica do continente americano, tema tão em moda hoje em dia.
Por meio do "Fórum das Américas", Garnero trouxe ao Brasil, em
1965, o então senador Robert Kennedy. E realizou eventos durante
as reuniões anuais conjuntas do
Banco Mundial e do FMI (Fundo
Monetário Internacional).
Em 1983, o "Fórum", realizado
em São Paulo, contou com a presença do então presidente dos
EUA, Ronald Reagan.
A atuação internacional de Mario Garnero rendeu-lhe, em 1984,
o título de "Homem do Ano",
concedido pela "Brazilian-American Chamber of Commerce", de
Nova York.
Um ano depois, porém, quando
nascia o primeiro governo civil depois de 21 anos de regime militar e
ele atingia o ápice de uma bem-sucedida carreira pública e privada, a
lisura de seus negócios e sua honestidade pessoal foram questionadas.
O Brasilinvest foi liquidado sob
acusação de falta de liquidez e de
desvio de recursos para empresas
fantasmas no exterior. Sua prisão
preventiva foi pedida, mas nunca
concretizada.
Se a Nova República foi o estopim de sua execração pública e de
dez anos de batalhas jurídicas até a
retirada das acusações contra ele e
a recuperação das cartas-patentes
de seus bancos -o Brasilinvest em
1990 e o Sulbrasileiro em 1991- o
Brasil do Plano Real é a redenção
de seu espírito de empreendedor.
Novamente no timão do "banque d'affaires" ou banco de negócios, em bom português, Mario
Garnero não vê limites para os empreendimentos do Brasilinvest.
De malas prontas para fazer mais
uma de suas incontáveis viagens
anuais ao exterior, Garnero vai assinar nos próximos dias um contrato para sacramentar a entrada
no país do maior grupo petrolífero
do mundo, o Pennzoil, de Houston (Texas, EUA).
A recém-criada Pennzoil-Brasilinvest, uma parceria de US$ 10
milhões, meio a meio, vai vender
os óleos lubrificantes Pennzoil para uso automotivo e industrial no
país a partir de janeiro do ano que
vem.
"Estamos concluindo um acordo com uma rede distribuidora
nacional, que vai nos dar acesso a
postos de gasolina e a cerca de 700
distribuidores na área de São Paulo e do sul do país."
Mario Garnero não revela o nome da rede distribuidora. Limita-se a dizer que o pessoal com
quem está conversando "gosta
muito de futebol".
Mario Garnero diz que, numa segunda etapa, a parceria vai fazer a
mistura dos óleos no país, com investimentos que poderão chegar a
US$ 25 milhões, por meio de um
acordo com a Petrobrás.
Pronto para exercer buscar negócios para o país com a bandeira
"Fórum das Américas", Mario
Garnero circulou confiante ao lado dos convidados de honra da
"Conferência de Mônaco".
Entre eles, os seus amigos pessoais, o príncipe Rainier, de Mônaco, o ex-presidente dos EUA,
George Bush, e Helmut Schmidt,
primeiro-ministro da Alemanha
de 1974 a 1982.
Na ocasião (dias 29 e 30 de setembro passados), foi realizado o
seminário "Investimentos no
Brasil - Cooperação e Repercussão
no Mercosul", que deixou de imediato um saldo de novos investimentos no país.
O grupo italiano Cirio, do empresário Sergio Cragnotti, anunciou investimentos de US$ 300 milhões.
E as indústrias de autopeças
Sommer Allibert, da França, e
MGI, da Suíça, anunciaram investimentos de US$ 100 milhões, cada
uma, nos Estados do Paraná e de
São Paulo, respectivamente.
Garnero tem parceiros internacionais em vários países, em setores que vão do petróleo à moda sofisticada, passando por shopping
centers e fundos de investimento.
Pode parecer conflitante, reconhece, ter negócios em ramos tão
diversos.
Mas, na prática, diz, não é bem
assim: "Temos a gestão financeira
e não a gestão técnica dos empreendimentos. A contribuição de
nossos sócios é a gerência e a transferência de tecnologia".
O grupo, com escritórios em São
Paulo e Porto Alegre, tem 280 funcionários.
Um dos primeiros defensores de
uma maior integração econômica
no continente americano, Mario
Garnero acompanhou com interesse a recente visita do presidente
Bill Clinton ao Brasil.
"O Brasil não pode ser a Inglaterra da União Européia, não podemos ser os 'eurocéticos' e deixar
o poder das Américas cair nas
mãos de concorrentes".
"O Brasil deve ser neste processo o que a França foi na integração
da UE, ou seja, o porta-voz político
da integração continental", diz.
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