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PECUÁRIA
Governador de região próxima a Mato Grosso do Sul diz que brasileiros transferem culpa por problema da aftosa ao país vizinho
"Brasil não fez sua parte", afirma paraguaio
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
O governador do Departamento (Estado) de Amambay, Roberto Acevedo, disse ontem à Folha
que o "Brasil não fez sua parte" e
está jogando o problema da febre
aftosa "em cima do Paraguai".
Autoridades paraguaias reclamam de terem sido informadas
com atraso sobre o caso da doença do lado brasileiro.
Presidente do Senacsa (Serviço
Nacional de Qualidade e Saúde
Animal) do Paraguai, Hugo A.
Corrales, afirma que não há casos
da doença no país, dono de um
rebanho de 9,67 milhões de cabeças de gado. "Posso dizer que hoje, no momento desta entrevista,
o Paraguai é área livre de aftosa",
afirmou Corrales. Segundo ele, a
última vacinação contra a aftosa
ocorreu no fim de julho e foram
imunizados 98% do rebanho.
Corrales disse que, no dia 29 de
setembro, o governo brasileiro já
tinha praticamente certeza do foco da doença, mas só comunicou
o caso no último dia 9 ao Paraguai. No Brasil, a divulgação pela
imprensa ocorreu no dia 10. "Não
compartilho que a enfermidade
tenha origem no Paraguai. A
doença surgiu primeiro a 45 km
da fronteira [em Eldorado]"
A versão de que a doença tenha
surgido no Paraguai, segundo
Corrales, é alimentada por "políticos" brasileiros. Segundo ele, o
Ministério da Agricultura não fez
a acusação. Para Acevezo, o Brasil
investiu apenas 2% no programa
de combate à febre aftosa e, por isso, a doença ressurgiu em Mato
Grosso do Sul.
Questionado por meio da assessoria de imprensa, o Ministério da
Agricultura não havia respondido
até o fechamento desta edição.
Uma auditoria do TCU (Tribunal de Contas da União) divulgada pela Folha no sábado passado
apontou que o governo brasileiro
havia aplicado, até 2 de junho,
apenas R$ 285.828, ou 0,41%, do
total de R$ 68.818.501 destinados
ao PNEFA (Programa Nacional
de Erradicação da Febre Aftosa)
no Orçamento de 2005.
Amambay é o principal Estado
paraguaio na fronteira com o Brasil, em Mato Grosso do Sul. "Temos 800 mil cabeças de gado. Foi
feita vacinação", afirmou.
Segundo ele, 80% das propriedades rurais no Departamento de
Amambaí, cuja capital Pedro Juan
Caballero é a mais próxima a Mato Grosso do Sul, são brasileiros e
vacinam o gado.
Outra reclamação de Acevedo,
assim como de Corrales, é que o
governo brasileiro teria demorado em comunicar o caso de aftosa
às autoridades paraguaias.
Acevedo ainda fez crítica ao seu
colega José Orcírio Miranda dos
Santos, o Zeca do PT, governador
de Mato Grosso do Sul. "Estamos
descontentes com ele", disse.
Zeca disse acreditar que o foco
de aftosa veio do Paraguai. Foram
três casos da doença em seu governo, desde 1998. "Todos na região de fronteira", reclama o governador brasileiro. Segundo o
Senacsa, houve proibição de entrada de animais vindos no Brasil
e ocorre a desinfecção de carros
que vêm do país vizinho. "Que
não volte a ingressar a febre aftosa
em nosso país", foi o lema adotado pelo Senacsa.
No Departamento de Canindeyu, mais próximos ao foco de aftosa, três distritos paraguaios foram interditados, mas não há caso da doença, segundo o Senacsa.
Na área vivem 631 mil cabeças de
gado do Paraguai.
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