São Paulo, quinta-feira, 20 de outubro de 2005

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TRABALHO

Aumento da terceirização reduz renda de 1996 a 2003, diz IBGE; analistas atribuem retração a crises econômicas e juro

Salário de empresa formal cai 11% em 7 anos

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

De 1996 a 2003, o salário médio nas empresas formais sofreu uma redução de 11%, segundo dados do Cadastro Central de Empresas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que só considera empresas com CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas). O rendimento real (considerada a evolução da inflação), que era de R$ 590 em 1996, passou para R$ 525,29 em 2003.
Para o IBGE, o aumento da terceirização é uma das causas que explicam o recuo da renda. Já especialistas atribuem a queda ao baixo crescimento do país, às crises econômicas e aos juros altos.
Segundo Denise Guichard Freire, do IBGE, uma das razões para a queda do rendimento está no processo de migração de empregos da indústria para o setor de serviços prestados às empresas, uma das facetas da terceirização.
É que cresceu o emprego em atividades como alocação de pessoal (como as cooperativas de trabalho) e limpeza, postos de trabalho que pagam menos do que os da indústria e usualmente são terceirizados pelas grandes empresas.
"As indústrias buscaram flexibilizar sua produção para ganhar competitividade e passaram a terceirizar as atividades meio, que não estão ligadas diretamente à atividade principal", disse Freire.
A participação do ramo de serviços prestados às empresas no total de postos de trabalho cresceu 10,4% em 1996 para 13% em 2003, enquanto a da indústria caiu de 32,6% para 29,9%.
Além disso, Freire destacou que o avanço do emprego no comércio e nas pequenas empresas, cujos salários tendem a ser mais baixos, também contribuiu para a retração da renda no período. O peso do comércio no total do emprego subiu de 21,9% em 1996 para 25,8% em 2003. O salário médio do comércio era de R$ 334 -um dos menores entre todas as atividades, só perdendo para agricultura, alojamento e alimentação (hotéis e restaurantes) e pesca.
Em 1996, as firmas com mais de cem empregados correspondiam a 59,9% do total de vagas. Em 2003, o percentual caiu para 49,9%. Já nas empresas com até 29 funcionários, a participação no emprego foi de 27,7% para 34,1%.
Já Marcelo de Ávila, economista do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), diz que as crises econômicas pelas quais o país passou, como a desvalorização cambial de 1999 e a da eleições de 2002, achataram o rendimento. Nas duas crises, os juros subiram, causando um fraco crescimento econômico e a deterioração do mercado de trabalho.
Os dois setores que remuneram melhor, intermediação financeira (que inclui bancos) e produção e distribuição de energia, tiveram as maiores quedas no salário médio, de 12,4% e 14,7%. Os únicos ramos que tiveram aumento foram administração pública (22%) e construção (33%).
De 1996 a 2006, nasceram, em média, 620 mil empresas por ano, enquanto outras 427 mil deixavam de existir. A chamada taxa de natalidade (percentual das empresas abertas em relação ao total) das firmas brasileiras era de 8,29%. A de mortalidade, 4,95%.


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