São Paulo, quinta-feira, 20 de outubro de 2005

Texto Anterior | Índice

JUSTIÇA

Deságio beneficiaria o Estado

OAB-SP critica projeto de lei sobre precatórios

DA REPORTAGEM LOCAL

A Comissão Especial de Precatórios da OAB-SP divulgou nota oficial ontem criticando o projeto do governo paulista que cria a Sociedade de Propósito Específico, destinada a assumir débitos tributários e não-tributários, incluindo precatórios, cujo deságio beneficiaria o próprio Estado.
Pelo projeto, a Procuradoria Geral do Estado seria o órgão encarregado de certificar o valor do precatório, função que caberia ao Judiciário. A nota critica a criação de um "mercado secundário de precatórios" a preços aviltantes, prejudicando os credores.
O projeto de lei nš 434/2005, de autoria do governador Geraldo Alckmin (PSDB), está em tramitação na Assembléia Legislativa do Estado. Segundo a exposição de motivos do projeto, "a expectativa é que a SPE possa beneficiar-se de parte do deságio que normalmente existe em negociações privadas de precatórios".
A OAB diz que jamais compactuará com essa proposta. E lembra que "precatórios não são simples papéis financeiros, mas ordens judiciais de pagamento. E, se existe um "mercado secundário de precatórios", isso se deve, única e exclusivamente, "ao descaso do governo, devedor contumaz".
No Estado, a "fila" de precatórios alimentares está parada no ano de 1998, diz a OAB, e a dívida acumulada supera R$ 8,1 bilhões. São mais de 550 mil credores (funcionários públicos, viúvas etc.), dos quais cerca de 85% têm a receber menos de R$ 15,1 mil.
Para a OAB, é natural, embora lamentável, que esses credores -muitos já no fim de suas vidas, sem tempo ou esperança para esperar na fila- acabem cedendo seus créditos a terceiros, ainda que a preços aviltantes.
"O que é indecente e imoral é que o Estado queira beneficiar-se de parte do deságio que normalmente existe em negociações privadas de precatórios". Além de não pagar, dá motivo para o surgimento de um "mercado secundário" e, pior, quer obter proveito financeiro disso, diz a nota.
"A OAB está aberta ao diálogo e tem trabalhado para desenhar soluções e cenários práticos visando equacionar a grave questão dos precatórios, mas jamais poderá aceitar que o devedor possa obter, do seu próprio descaso, qualquer tipo de proveito material", afirma Flávio José de Souza Brando, presidente especial da comissão.


Texto Anterior: Internet: Google muda nome do Gmail no Reino Unido
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.