São Paulo, quarta-feira, 20 de novembro de 2002

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Depois de ver o Fundo, Palocci tenta equilibrar moderação e autonomia

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A equipe de transição do PT disse aos representantes do Fundo Monetário Internacional que "há uma expectativa muito grande da população por mudanças" em torno dos projetos sociais do governo eleito, aprovados nas urnas.
Com o relato, Antônio Palocci Filho, representante petista no encontro, procurou se desincumbir da delicada tarefa de descrever um diálogo impensável há pouco tempo, quando o PT ainda tinha "Fora FMI" entre seus slogans.
Palocci recebeu a missão do Fundo que reavalia o acordo com o país no Centro de Treinamento do Banco do Brasil, em Brasília, cedido pelo governo para os trabalhos da transição.
Na entrevista concedida após a reunião, Palocci teve de equilibrar o discurso de moderação, importante para não despertar os temores do mercado, e o de "autonomia" das políticas econômica e social a despeito dos pesados encargos e limitações impostos pelo acordo com o organismo.
Dessa equação, saiu a tese de que o governo Lula respeitará todos os contratos assumidos pelo país, combaterá a inflação e melhorará as contas públicas, mas não abrirá mão de perseguir suas próprias metas, parâmetros e compromissos sociais.
Não foi preciso detalhar como essa conta será fechada, graças à concordância do atual governo, do governo eleito e do Fundo em deixar as decisões concretas para as negociações de fevereiro do ano que vem.
Mas Palocci teve de responder a várias perguntas na entrevista à imprensa sobre os históricos ataques do PT ao FMI, as eventuais "afinidades" entre os pensamentos do partido e do órgão e o que seriam as políticas "autônomas" imaginadas pelo futuro governo.

Gravador
Hesitante em uma das respostas, Palocci foi bem-humorado: "Até caiu o gravador", disse, após derrubar, num gesto involuntário, um dos aparelhos colocados em sua mesa. Em seguida, previu um "diálogo elevado" com o Fundo. "O FMI não tem US$ 24 bilhões para o PT, tem US$ 24 bilhões para o país."
No caso das afinidades, a resposta foi mais direta. "Pergunte ao Fundo", argumentando que o programa de governo do PT já é conhecido.
Nome dado como certo na equipe de Lula, provavelmente na área econômica, o coordenador da transição cumpriu uma agenda de ministro da Fazenda, que incluiu ainda uma reunião com o atual titular da pasta, Pedro Malan, e o presidente do Banco Central, Armínio Fraga.

Ministro
Na entrevista, chegou a ser chamado de "ministro" por um jornalista. "O ministro não está presente", respondeu de pronto.
Palocci é um dos três petistas autorizados a falar pelo futuro governo -os outros são o próprio Lula e o presidente do partido, deputado José Dirceu- e, entre eles, é o que trata preferencialmente dos assuntos relativos à economia.
Na reunião com o FMI, só havia mais dois representantes do lado petista: o coordenador-adjunto da equipe de Palocci, Luiz Gushiken, e o economista Bernard Appy -este, consultor financeiro e ex-assessor da liderança do PT na Câmara dos Deputados, é um dos membros mais discretos do grupo de transição. Segundo a Folha apurou, é o responsável pela avaliação do Banco Central.


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