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Depois de ver o Fundo, Palocci tenta
equilibrar moderação e autonomia
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A equipe de transição do PT disse aos representantes do Fundo
Monetário Internacional que "há
uma expectativa muito grande da
população por mudanças" em
torno dos projetos sociais do governo eleito, aprovados nas urnas.
Com o relato, Antônio Palocci
Filho, representante petista no
encontro, procurou se desincumbir da delicada tarefa de descrever
um diálogo impensável há pouco
tempo, quando o PT ainda tinha
"Fora FMI" entre seus slogans.
Palocci recebeu a missão do
Fundo que reavalia o acordo com
o país no Centro de Treinamento
do Banco do Brasil, em Brasília,
cedido pelo governo para os trabalhos da transição.
Na entrevista concedida após a
reunião, Palocci teve de equilibrar
o discurso de moderação, importante para não despertar os temores do mercado, e o de "autonomia" das políticas econômica e
social a despeito dos pesados encargos e limitações impostos pelo
acordo com o organismo.
Dessa equação, saiu a tese de
que o governo Lula respeitará todos os contratos assumidos pelo
país, combaterá a inflação e melhorará as contas públicas, mas
não abrirá mão de perseguir suas
próprias metas, parâmetros e
compromissos sociais.
Não foi preciso detalhar como
essa conta será fechada, graças à
concordância do atual governo,
do governo eleito e do Fundo em
deixar as decisões concretas para
as negociações de fevereiro do
ano que vem.
Mas Palocci teve de responder a
várias perguntas na entrevista à
imprensa sobre os históricos ataques do PT ao FMI, as eventuais
"afinidades" entre os pensamentos do partido e do órgão e o que
seriam as políticas "autônomas"
imaginadas pelo futuro governo.
Gravador
Hesitante em uma das respostas, Palocci foi bem-humorado:
"Até caiu o gravador", disse, após
derrubar, num gesto involuntário, um dos aparelhos colocados
em sua mesa. Em seguida, previu
um "diálogo elevado" com o Fundo. "O FMI não tem US$ 24 bilhões para o PT, tem US$ 24 bilhões para o país."
No caso das afinidades, a resposta foi mais direta. "Pergunte
ao Fundo", argumentando que o
programa de governo do PT já é
conhecido.
Nome dado como certo na equipe de Lula, provavelmente na área
econômica, o coordenador da
transição cumpriu uma agenda
de ministro da Fazenda, que incluiu ainda uma reunião com o
atual titular da pasta, Pedro Malan, e o presidente do Banco Central, Armínio Fraga.
Ministro
Na entrevista, chegou a ser chamado de "ministro" por um jornalista. "O ministro não está presente", respondeu de pronto.
Palocci é um dos três petistas
autorizados a falar pelo futuro governo -os outros são o próprio
Lula e o presidente do partido, deputado José Dirceu- e, entre
eles, é o que trata preferencialmente dos assuntos relativos à
economia.
Na reunião com o FMI, só havia
mais dois representantes do lado
petista: o coordenador-adjunto
da equipe de Palocci, Luiz Gushiken, e o economista Bernard
Appy -este, consultor financeiro
e ex-assessor da liderança do PT
na Câmara dos Deputados, é um
dos membros mais discretos do
grupo de transição. Segundo a Folha apurou, é o responsável pela
avaliação do Banco Central.
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