|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Governo boliviano demonstra "preocupação" com represas
FABIANO MAISONNAVE
DA REPORTAGEM LOCAL
Em carta dirigida ao governo
brasileiro, a Bolívia demonstrou "preocupação" com "os
prováveis impactos ecológicos
e ambientais" e a inviabilização
de projetos energéticos locais
que poderiam ser provocados
pela construção de duas usinas
hidrelétricas no rio Madeira
(RO), em área próxima à fronteira entre os dois países, e propôs uma comissão binacional
para tratar do tema.
O chanceler Celso Amorim
convocou uma reunião para
hoje com o objetivo de discutir
o conteúdo da carta com representantes de órgãos do governo
envolvidos no assunto, como o
Ministério das Minas e Energia, informou ontem a assessoria de imprensa do Itamaraty.
"Considera-se, entre os impactos prováveis, a inundação
no território boliviano como
efeito dos reservatórios, o que
afeta, por um lado, a existência
do bosque amazônico da bacia
do Madeira, da alta riqueza em
castanha e, por outro lado, as
possibilidades de construção
de hidrelétricos para satisfazer
as demandas regionais e locais
de energia", diz a carta, datada
do dia 7 deste mês e assinada
pelo chanceler boliviano, David
Choquehuanca.
O governo cita especificamente o risco de inundação da
área onde está o projeto Cachuela Esperanza, que, segundo estudos preliminares, poderia gerar cerca de 600 MW. A
construção dessa usina hidrelétrica, frisa a carta, está prevista em dois acordos bilaterais,
assinados em 1984 e em 1988.
Choquehuanca pede ainda
que o Brasil "retome o espírito"
de integração bilateral e propõe
articular as hidrelétricas no rio
Madeira "com obras conjuntas". No final, a carta "solicita
expressamente o tratamento
desse tema em uma comissão
bilateral para análise de projetos relativos ao rio Madeira".
Em entrevista à Folha ontem, a vice-ministra de Relações Econômicas Internacionais da Chancelaria boliviana,
Maria Luisa Ramos, disse que
"o Brasil tem todo o direito para tomar suas próprias decisões", mas que seu governo "vai
continuar insistindo para que
seja plenamente informado enquanto [o Brasil] não demonstre suficientemente de que as
represas não nos afetarão".
O governo boliviano vem
sendo pressionado por ONGs
ambientais, líderes regionais e
pela imprensa local a adotar
uma posição sobre as hidrelétricas e o suposto "tratamento
unilateral" sobre o tema.
Especialistas bolivianos e
brasileiros afirmam que a área
alagada deve ser maior do que a
prevista no estudo de impacto
ambiental (EIA) apresentado
pelos construtores, com impacto na Bolívia.
Na sexta-feira, a ministra do
Meio Ambiente, Marina Silva,
disse que as represas no rio
Madeira não terão nenhum impacto na Bolívia, posição igual à
das empresas envolvidas no
projeto, entre as quais a Furnas
Centrais Elétricas e a construtora Norberto Odebrecht.
As usinas do Madeira -Jirau
(3.150 MW) e Santo Antônio
(3.300 MW), orçadas em R$ 20
bilhões, são consideradas prioritárias para o presidente Lula,
que na semana passada determinou que a licitação termine
ainda no primeiro trimestre do
ano que vem.
Texto Anterior: Setor privado teme atrasos nas obras previstas pelo governo Próximo Texto: Frase Índice
|