|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
QUEDA-DE-BRAÇO
Desde 2002, época de tensão devido às eleições presidenciais, não se via período tão longo de elevação
Dólar acumula alta de 9,42% em nove dias
DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em nove dias consecutivos de
alta, o dólar acumulou valorização de 9,42% diante do real. Ontem, a moeda norte-americana
encerrou vendida a R$ 2,382
-subiu 1,93%-, maior valor
desde o final de agosto.
Período tão longo de altas não
se via desde 2002, época de tensão
devido às eleições presidenciais,
que fez a moeda americana encostar nos R$ 4,00.
"É difícil avaliar até onde o dólar
vai", diz Alexandre Maia, economista-chefe da Gap Asset Management. Mas o economista explica que a escalada da moeda norte-americana é artificial -motivada
pelas intervenções do BC- e que
não vê "o câmbio se mantendo
muito elevado por longo tempo".
O Banco Central tem atuado em
duas frentes: comprando dólares
diretamente do mercado e leiloando contratos de "swap cambial reverso".
Ontem, o BC comprou cerca de
US$ 460 milhões do mercado futuro por meio de contratos de
"swap cambial reverso". Quando
leiloa esses títulos, o BC se torna
credor da variação cambial e devedor de taxa de juros.
Hoje serão ofertados mais US$
400 milhões desses contratos.
Analistas afirmam que enquanto
o BC continuar realizando os leilões, mostrará que não está satisfeito com o nível de taxa de câmbio. E a tendência é a de o real seguir se depreciando.
Nas primeiras duas semanas de
dezembro, o BC comprou cerca
de US$ 2,6 bilhões diretamente no
mercado de câmbio, segundo estimativa feita a partir dos dados
referentes às reservas internacionais do país.
Já a posição de câmbio dos bancos, outro fator que podia afetar o
comportamento do dólar, se
manteve estável neste mês. De
acordo com o BC, a posição vendida dos bancos no mercado à
vista estava em US$ 3,511 bilhões
na última sexta-feira -praticamente no mesmo nível dos US$
3,421 bilhões observados no final
de novembro.
A posição vendida dos bancos
equivale ao volume de dólares
que as instituições financeiras já
se comprometeram a vender, em
algum momento no futuro, a uma
taxa de câmbio preestabelecida.
Em geral, a manutenção de grandes posições vendidas indica que
a expectativa dos bancos é de queda do dólar.
Mas analistas afirmam que as
posições vendidas em dólar das
instituições financeiras e dos estrangeiros têm encolhido na
BM&F (Bolsa de Mercadorias &
Futuros) nos últimos dias, em resposta às fortes atuações do BC.
Entre janeiro e novembro, o BC
já havia adquirido US$ 17,454 bilhões no mercado, sendo US$
3,862 bilhões somente em novembro. Essas operações têm garantido um forte crescimento das reservas em moeda estrangeira do
país, onde são depositados todos
os dólares comprados.
Na sexta-feira passada, as chamadas reservas líquidas -que já
excluem o dinheiro emprestado
ao Brasil pelo FMI e que deve ser
pago de volta ao Fundo até o final
do ano- chegaram a US$ 53,957
bilhões, praticamente o dobro
dos US$ 27,541 bilhões registrados no final de 2004.
Esses números podem ajudar a
explicar parte da escalada do dólar ocorrida nos últimos dias. As
compras de US$ 2,6 bilhões do BC
chegam a superar, embora por
uma pequena margem, o volume
de capital externo que entrou no
país neste mês.
Segundo o próprio BC, US$
2,052 bilhões entraram no Brasil
nas primeiras duas semanas de
dezembro. Em tese, se as compras
oficiais de dólares superam o volume de recursos que entrou no
país, a tendência é que a cotação
da moeda suba.
Dívida cambial
De novembro para cá, cerca de
US$ 8 bilhões de contratos de
"swap cambial reverso" já foram
vendidos, valor suficiente para
quase zerar toda a parcela da dívida interna do governo corrigida
pelo câmbio. Na prática, é como
se o BC estivesse apostando na alta futura do dólar, o que ajuda a
puxar para cima a cotação da
moeda.
Mesmo com todas essas ações
do BC, porém, ainda há dúvidas
sobre o futuro da cotação do dólar. No mercado, o entendimento
é o de que o BC tem atuado de forma muito agressiva porque não
estaria disposto a permitir que o
real se valorizasse muito -algo
que continuaria a acontecer, devido à expectativa de que o fluxo de
capital externo para o Brasil se
mantenha elevado.
Ainda assim, o comportamento
recente da taxa de câmbio também pode estar influenciado pela
proximidade de final de ano, em
que o volume de negócios registrados diariamente costuma diminuir, fazendo com que muitos
bancos e empresas prefiram comprar mais dólares apenas para se
proteger dessa falta momentânea
de liquidez.
Nesses casos, as posições assumidas em dezembro costumam
se reverter em janeiro, trazendo a
cotação da moeda dos EUA de
volta para patamares mais baixos.
"Ninguém sabe ao certo qual é a
real intenção do BC em relação ao
câmbio", diz Adauto Lima, economista do banco WestLB.
A Bolsa de Valores de São Paulo
encerrou o pregão com baixa de
0,86%. As ações Souza Cruz ON
(2,03%) e Cemig ON (1,49%) lideraram as altas do dia.
Texto Anterior: TV digital: Câmara dos EUA fixa conversão até 2009 Próximo Texto: Mercado projeta moeda ainda em queda em 2006 Índice
|