São Paulo, terça-feira, 20 de dezembro de 2005

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QUEDA-DE-BRAÇO

Desde 2002, época de tensão devido às eleições presidenciais, não se via período tão longo de elevação

Dólar acumula alta de 9,42% em nove dias

DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA


Em nove dias consecutivos de alta, o dólar acumulou valorização de 9,42% diante do real. Ontem, a moeda norte-americana encerrou vendida a R$ 2,382 -subiu 1,93%-, maior valor desde o final de agosto.
Período tão longo de altas não se via desde 2002, época de tensão devido às eleições presidenciais, que fez a moeda americana encostar nos R$ 4,00.
"É difícil avaliar até onde o dólar vai", diz Alexandre Maia, economista-chefe da Gap Asset Management. Mas o economista explica que a escalada da moeda norte-americana é artificial -motivada pelas intervenções do BC- e que não vê "o câmbio se mantendo muito elevado por longo tempo".
O Banco Central tem atuado em duas frentes: comprando dólares diretamente do mercado e leiloando contratos de "swap cambial reverso".
Ontem, o BC comprou cerca de US$ 460 milhões do mercado futuro por meio de contratos de "swap cambial reverso". Quando leiloa esses títulos, o BC se torna credor da variação cambial e devedor de taxa de juros.
Hoje serão ofertados mais US$ 400 milhões desses contratos. Analistas afirmam que enquanto o BC continuar realizando os leilões, mostrará que não está satisfeito com o nível de taxa de câmbio. E a tendência é a de o real seguir se depreciando.
Nas primeiras duas semanas de dezembro, o BC comprou cerca de US$ 2,6 bilhões diretamente no mercado de câmbio, segundo estimativa feita a partir dos dados referentes às reservas internacionais do país.
Já a posição de câmbio dos bancos, outro fator que podia afetar o comportamento do dólar, se manteve estável neste mês. De acordo com o BC, a posição vendida dos bancos no mercado à vista estava em US$ 3,511 bilhões na última sexta-feira -praticamente no mesmo nível dos US$ 3,421 bilhões observados no final de novembro.
A posição vendida dos bancos equivale ao volume de dólares que as instituições financeiras já se comprometeram a vender, em algum momento no futuro, a uma taxa de câmbio preestabelecida. Em geral, a manutenção de grandes posições vendidas indica que a expectativa dos bancos é de queda do dólar.
Mas analistas afirmam que as posições vendidas em dólar das instituições financeiras e dos estrangeiros têm encolhido na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros) nos últimos dias, em resposta às fortes atuações do BC.
Entre janeiro e novembro, o BC já havia adquirido US$ 17,454 bilhões no mercado, sendo US$ 3,862 bilhões somente em novembro. Essas operações têm garantido um forte crescimento das reservas em moeda estrangeira do país, onde são depositados todos os dólares comprados.
Na sexta-feira passada, as chamadas reservas líquidas -que já excluem o dinheiro emprestado ao Brasil pelo FMI e que deve ser pago de volta ao Fundo até o final do ano- chegaram a US$ 53,957 bilhões, praticamente o dobro dos US$ 27,541 bilhões registrados no final de 2004.
Esses números podem ajudar a explicar parte da escalada do dólar ocorrida nos últimos dias. As compras de US$ 2,6 bilhões do BC chegam a superar, embora por uma pequena margem, o volume de capital externo que entrou no país neste mês.
Segundo o próprio BC, US$ 2,052 bilhões entraram no Brasil nas primeiras duas semanas de dezembro. Em tese, se as compras oficiais de dólares superam o volume de recursos que entrou no país, a tendência é que a cotação da moeda suba.

Dívida cambial
De novembro para cá, cerca de US$ 8 bilhões de contratos de "swap cambial reverso" já foram vendidos, valor suficiente para quase zerar toda a parcela da dívida interna do governo corrigida pelo câmbio. Na prática, é como se o BC estivesse apostando na alta futura do dólar, o que ajuda a puxar para cima a cotação da moeda.
Mesmo com todas essas ações do BC, porém, ainda há dúvidas sobre o futuro da cotação do dólar. No mercado, o entendimento é o de que o BC tem atuado de forma muito agressiva porque não estaria disposto a permitir que o real se valorizasse muito -algo que continuaria a acontecer, devido à expectativa de que o fluxo de capital externo para o Brasil se mantenha elevado.
Ainda assim, o comportamento recente da taxa de câmbio também pode estar influenciado pela proximidade de final de ano, em que o volume de negócios registrados diariamente costuma diminuir, fazendo com que muitos bancos e empresas prefiram comprar mais dólares apenas para se proteger dessa falta momentânea de liquidez.
Nesses casos, as posições assumidas em dezembro costumam se reverter em janeiro, trazendo a cotação da moeda dos EUA de volta para patamares mais baixos.
"Ninguém sabe ao certo qual é a real intenção do BC em relação ao câmbio", diz Adauto Lima, economista do banco WestLB.
A Bolsa de Valores de São Paulo encerrou o pregão com baixa de 0,86%. As ações Souza Cruz ON (2,03%) e Cemig ON (1,49%) lideraram as altas do dia.


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