São Paulo, sábado, 20 de dezembro de 2008

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ROBERTO RODRIGUES

Abelhas: mel e polinização


Há um tema pouco explorado e que pode gerar até dez vezes mais renda do que a produção de mel: trata-se da polinização

UMA ATIVIDADE agrícola pouco conhecida é a apicultura. E quem sabe um pouco do setor logo o identifica com a produção de mel.
Com efeito, o Brasil já é o 11º produtor mundial de mel, gerando quase 500 mil empregos em toda a cadeia produtiva.
A classificação dos Estados mais importantes na produção de mel -RS, PR, PI, SC, CE, SP, MG, BA, PE, RN e MS- mostra sua grande disseminação em todo o território nacional, graças às centenas de plantas comerciais e aos milhares de outras da nossa maravilhosa biodiversidade, não exploradas comercialmente.
Além de um guloso mercado interno, o Brasil vem exportando para União Européia, Estados Unidos, Japão, Arábia Saudita, Suíça, Canadá, China e mais uma dezena de outros países.
No primeiro semestre deste ano, exportamos US$ 18,3 milhões, 70% a mais que no ano passado, com um volume de 7.200 toneladas. Isso é 4,3% da demanda mundial, de modo que temos uma fatia muito grande do mercado a ser conquistada.
No entanto, há um tema ainda pouco explorado na apicultura e que pode gerar até dez vezes mais renda do que a produção de mel: trata-se da polinização.
Na Austrália, no Canadá, nos Estados Unidos e na União Européia, os serviços de polinização executados pelas abelhas em sua busca do mel têm sido um dos responsáveis pelo aumento da produtividade agrícola, a um custo muito menor do que o de outros insumos.
Em entrevista recente à revista "Veja", o apicultor Paulo Roberto de Oliveira, brasileiro estabelecido na Flórida, disse que, nos Estados Unidos, "o principal negócio do apicultor atualmente é o trabalho de polinização. O mel já virou um subproduto". Uma praga ainda pouco conhecida, o CCD (desordem de colapso das colônias) vem produzindo grande mortandade de abelhas, particularmente nos países desenvolvidos, o que inflacionou o aluguel de colméias com o objetivo da polinização.
Isso faz todo o sentido. Dados do Brasil indicam que a colocação de 4 a 6 colméias por hectare de laranja-pêra-rio pode aumentar em até 39% a produção da fruta. Em café, o aumento pode chegar a 25% a 30%. Ensaios com soja no Paraná, também com 4 a 6 colméias por hectare, na variedade BRS 133, mostraram aumento de 56% na produção (dá para imaginar o impacto disso na produção de biodiesel).
Esses números explicam o aumento do aluguel de colméias nos Estados Unidos. Em 2004, uma colméia com 50 mil abelhas era alugada por US$ 40. Hoje, o valor está na casa de US$ 150.
No entanto, no Brasil, a questão da polinização ainda não está tratada como merece, mesmo com os grandes potenciais de aumento da produção e renda de culturas. Segundo a Abemel, a maioria dos apicultores apenas extrai mel, o máximo possível, sem distribuir as colméias pelas áreas de cultura, deixando-as concentradas em um local só, para facilitar o trabalho; e não manejam as colônias para visitar as flores na melhor hora para polinizar nem as dirigem para a cultura desejada. Mas isso pode ser melhorado, e muito.
Eis um assunto que merece uma atenção especial, mormente em razão da doença referida. Afinal, Einstein, exagerando ou não, disse: "Se as abelhas desaparecessem da face da terra, ao homem restariam apenas mais quatro anos de vida. Sem abelhas, não haverá polinização, não haverá plantas, nem animais, nem homens".


ROBERTO RODRIGUES , 66, coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp e professor do Departamento de Economia Rural da Unesp - Jaboticabal, foi ministro da Agricultura (governo Lula). Escreve aos sábados, a cada 15 dias, nesta coluna.


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