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Meirelles vê fim de estímulos em 2010
Presidente do BC diz que não há motivos para novas medidas e que país já tem condições para expansão forte e sustentada do PIB
Banco Central prepara
medidas cambiais para
enviar ao Congresso que
devem incluir a abertura de
conta em dólares no Brasil
Alan Marques/Folha Imagem
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O presidente do BC, Henrique Meirelles, durante entrevista na sede da entidade, em Brasília, em que defendeu fim de estímulos
SÉRGIO MALBERGIER
EDITOR DE DINHEIRO
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Responsável por uma política monetária muitas vezes criticada dentro do próprio governo, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, 64,
emite sinais de que, para evitar
ajustes bruscos no próximo
ano, o ciclo de estímulos à economia tem de ser interrompido. "Não vejo estímulos à frente
para 2010", disse em entrevista
na sede do BC, em Brasília.
Destacando que, no caso do
BC, algumas das medidas anticíclicas já estão sendo retiradas, ele evita criticar os recentes incentivos a setores da economia anunciados pelo ministro Guido Mantega (Fazenda).
Diz, porém, que "não há dúvida
de que os estímulos são expansionistas" num contexto de
crescimento já vigoroso.
Meirelles crê que um crescimento um pouco acima de 5%
para 2010, como prevê o mercado, é "saudável", "sustentável" e "equilibrado", indicando
que o Banco Central pode não
mexer nos juros tão cedo.
Ele coloca como fundamental, em 2010, o cumprimento da
meta de 3,3% do PIB para o superavit primário (economia para o pagamento dos juros da dívida pública). E faz questão de
lembrar que é um compromisso já assumido por Mantega.
Leia a seguir os principais
trechos da entrevista.
FOLHA - O sr. vê risco de a inflação
sair da meta se continuar o atual ritmo de crescimento da economia?
HENRIQUE MEIRELLES - A previsão
de inflação do mercado está um
pouco abaixo do centro da meta. Evidentemente que, como
qualquer banco central, consideramos que há sempre um risco de inflação e, portanto, estamos sempre monitorando isso
cuidadosamente. Nunca deixa
de existir um risco de inflação,
principalmente em situações
em que há crescimento.
FOLHA - O PIB do terceiro trimestre
veio menor que o esperado. Como
isso afeta a política monetária?
MEIRELLES - No Banco Central,
não trabalhamos com previsão
de PIB trimestral, exatamente
porque há muita volatilidade e
incertezas em algumas medidas, devido a questões sazonais.
Portanto, trabalhamos sempre
com previsão anual. As previsões do mercado são de um PIB
em 2010 um pouco acima de
5%, um crescimento saudável,
forte, sustentável e de acordo
com as expectativas.
FOLHA - O governo não só está
mantendo a maioria das medidas
anticíclicas como as expandindo. O
sr. avalia que ainda é o caso? Elas podem gerar inflação acima da meta?
MEIRELLES - Existem diversos tipos de medidas e de estímulos.
E têm tempos de saídas diferentes. Se você olha o Banco
Central, notará que várias medidas de estímulo já estão em
processo de retirada. Algumas
em processo final. Por exemplo, empréstimo das reservas,
tivemos num certo momento
um saldo de US$ 24,5 bilhões.
Esse saldo hoje está um pouco
acima de US$ 1 bilhão.
FOLHA - Mas do lado da Fazenda
estão sendo adotadas mais medidas
de estímulo, redução de tributos.
Como o sr. avalia essa ampliação?
MEIRELLES - Olha, existe um cronograma de diminuição de estímulos por parte da Fazenda,
que tem sofrido algumas adaptações, mas é um processo também em andamento. Em alguns
momentos, durante o correr do
próximo ano, os estímulos terão sido eliminados. Existe
uma questão de cronograma
que está sendo colocada, mas
não há dúvida de que, na nossa
hipótese de trabalho, durante
2010 teremos uma saída gradual do processo de estímulos.
Além do mais, trabalhamos
com a hipótese de que a meta
de 2010 do superavit primário
será cumprida [3,3% do Produto Interno Bruto]. Como inclusive já anunciado pelo ministro
[Mantega]. Agora, não há dúvida de que estímulos são expansionistas, e existem fatores
contracionistas.
O que o Banco Central faz é
olhar todo quadro e, a cada reunião, faz suas projeções macroeconômicas, levando em
conta todos os fatores, e a partir
daí toma sua decisão.
FOLHA - O sr. não vê necessidade
de novos estímulos?
MEIRELLES - Não, não de criação
de estímulos.
FOLHA - Os bancos públicos estão
muito agressivos na concessão de
crédito por orientação do presidente
da República e já estão com necessidade de capitalização extra, caso do
Banco do Brasil. O sr. acha que os
bancos públicos podem ser menos
prudentes do que os privados?
MEIRELLES - Nossa hipótese de
trabalho é que não.
FOLHA - E a realidade?
MEIRELLES - A realidade será determinada pelos relatórios da
fiscalização que estão sendo
feitos sobre todos os bancos,
públicos e privados.
FOLHA - Essa agressividade pode
estar indo além da prudência?
MEIRELLES - Não verificamos
ainda isso. Se, porventura, a fiscalização verificar alguma coisa
nesse sentido, certamente vai
haver a adoção de medidas baseadas em relatórios da fiscalização. São duas coisas diferentes, que precisamos levar em
conta. Primeiro, é o movimento contracíclico, que foi correto
e benfeito, pelos bancos públicos.
Agora, daqui para a frente,
volta o mundo à normalidade.
Portanto, hoje os bancos estão
competindo. Naturalmente os
bancos públicos partem de
uma velocidade um pouco
maior, exatamente pela sua atitude anticíclica, mas certamente as regras prudenciais continuam, e o Banco Central vai fazer a avaliação de todos os bancos para garantir que não haja
risco excessivo sendo assumido
pelo setor público ou privado.
FOLHA - Uma das metas do sr. para
o BC é a conversibilidade do real.
Quais medidas serão adotadas na
reforma do mercado cambial?
MEIRELLES - Os estudos estão em
andamento, existem algumas
coisas que envolvem aplicação
de recursos de brasileiros no
exterior, conforme já mencionamos, que envolve desafios.
FOLHA - Abertura de conta em dólar no Brasil está nos estudos?
MEIRELLES - Pode ser, pode ser,
dependeria de lei.
FOLHA - A questão do pacote cambial era vista como necessária e sairia neste ano. Por que mudou para o
próximo ano? O câmbio deixou de
ser um problema de curto prazo?
MEIRELLES - São duas coisas diferentes. Primeiro, nunca houve, do meu ponto de vista, a
ideia de lançar um pacote cambial neste ano. Eu sempre disse
que estávamos engajados num
processo de modernização da
legislação cambial. Segundo,
não há dúvida de que o processo exacerbado de desvalorização do dólar mundial equilibrou-se nos meses recentes.
Não há dúvida.
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