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Eleita, Dilma manterá a estabilidade, diz Meirelles
Sobre Serra, presidente do BC diz que não conversou com ele sobre esse tema
Meirelles afirma que ainda não se definiu sobre sua candidatura em 2010 e que no momento pensa em ficar no BC até fim do mandato
DO ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Sobre os dois principais pré-candidatos para 2010 e o risco
de provocarem turbulências na
economia durante a eleição, o
presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles, diz que
pode falar em nome da ministra Dilma Rousseff, com quem
já conversou sobre o tema.
Segundo ele, Dilma manteria
a política econômica atual, inclusive a autonomia informal
do BC. Sobre o governador paulista, José Serra (PSDB), que
com frequência critica sua
atuação à frente do BC, diz que
não podia comentar, pois nunca falou com ele sobre o tema.
(SÉRGIO MALBERGIER e VALDO CRUZ)
FOLHA - O sr. se filiou ao PMDB e
pode ser candidato em 2010. Como
estão as tratativas?
HENRIQUE MEIRELLES - O que estou
fazendo é exatamente aquilo
que disse no início. Eu não iria
estar fazendo tratativas políticas durante esse período e, em
março, me dedicaria a esse assunto para tomar uma decisão.
No momento, a probabilidade é
que eu fique no BC.
FOLHA - Mas também dizem que,
se o sr. for convidado para ser vice da
ministra Dilma, aceitaria.
MEIRELLES - Eu não comento hipóteses ou rumores.
FOLHA - Na política, sempre se fala
em hipóteses...
MEIRELLES - Menos ainda. Eu
sou presidente do Banco Central ainda. Não sou político.
FOLHA - Mas o sr. já está se colocando na política, a filiação, a ida à
festa do PMDB...
MEIRELLES - Não quer dizer nada. Vamos separar. Hoje [quinta-feira] tem a convenção do
PMDB de Goiás. Não vou.
FOLHA - O sr. desistiu da opção política em Goiás?
MEIRELLES - Não é que desisti, é
que não estou fazendo prática
política.
FOLHA - Como a eleição pode influenciar a economia em 2010?
MEIRELLES - Partindo do pressuposto, que é a hipótese de trabalho do Banco Central, de que
a meta de superavit primário
será cumprida, portanto a economia deverá estar equilibrada, teremos uma situação econômica muito positiva, com o
país crescendo forte, de forma
equilibrada.
FOLHA - O sr. acha que os dois principais pré-candidatos, Dilma e Serra,
estão comprometidos com esse modelo econômico, com a autonomia
de fato do Banco Central?
MEIRELLES - Olha, posso falar pela pessoa com quem eu tenho
tido uma convivência maior, de
trabalho, que é a ministra Dilma, e ela tem me dito que sim.
Quanto ao Serra, não tenho
conversado com ele a respeito.
Vocês têm condições de ler os
jornais tão bem quanto eu.
FOLHA - O sr. está sugerindo que o
Serra não estará comprometido?
MEIRELLES - Não, não estou sugerindo nada. Cada um faz a
sua avaliação. Eu não tenho
conversado com ele a esse respeito. Eu não vou afirmar algo
com base em impressões de
jornais. Estou dizendo é que,
com ela [Dilma], já conversei a
respeito. Com ele, não. Nada
impede que eu venha a conversar com ele e forme minha opinião. Quem sabe não seria uma
boa ideia numa hora dessas fazer uma reunião com ele e perguntar.
FOLHA - É um convite ao Serra?
MEIRELLES - Não.
FOLHA - É uma frustração do sr.
não ter aprovado, em lei, uma autonomia do Banco Central?
MEIRELLES - Não, por uma razão
muito simples: porque o Banco
Central na minha gestão gozou
de total autonomia. Agora, eu
acho que será positivo para o
Brasil o momento em que for
aprovada a autonomia formal.
FOLHA - Pelo seu discurso em favor
da prudência, o sr. já deve estar pensando na sucessão do BC caso decida
sair do cargo em março. Quem o sr.
vai sugerir ao presidente Lula para
substituí-lo? Uma solução caseira?
MEIRELLES - Não conversei ainda com o presidente sobre isso.
Como não estou pensando nem
na minha saída, menos ainda
na sucessão.
FOLHA - Na diretoria do BC hoje só
há praticamente um componente,
Mário Mesquita, oriundo clássico do
mercado. É uma diferença em relação às recentes diretorias. Tem algum significado?
MEIRELLES - Primeiro lugar, do
meu ponto de vista, o Aldo
Mendes [novo diretor] também. Apesar de o Banco do Brasil ser uma entidade que tem a
presença de um acionista majoritário que é o governo, é uma
instituição de mercado. No passado, já existiram mais representantes do mercado. Acho
que é uma evolução natural, do
próprio amadurecimento institucional do Banco Central, de
que profissionais de carreira da
instituição estejam cada vez
mais preparados para assumir
cargos na diretoria.
FOLHA - O sr. já é o presidente mais
longevo do BC do Brasil. Quando assumiu o posto vislumbrava que ficaria tanto tempo?
MEIRELLES - Durante muitos
anos, as pessoas no exterior me
perguntavam qual é o meu
mandato, a duração. Eu sempre
respondia: "Um dia". Ele é renovado diariamente.
FOLHA - O sr. ficaria mais tempo no
BC num próximo governo?
MEIRELLES - Não, acho que dois
mandatos é uma duração para
qualquer presidente de banco
central, em qualquer país. Em
vários países, esse é o limite.
Em outros, não há, como nos
Estados Unidos, onde a experiência do [Alan] Greenspan, a
mim, mostra que não é uma experiência muito boa.
FOLHA - E como ministro da Fazenda no próximo governo?
MEIRELLES - No momento, estou
pensando no Banco Central.
Caso contrário, eu vou pensar
em tanta coisa que não vou fazer outra coisa durante dias.
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