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BNDES eleva crédito a energia poluente
Banco aprova financiamento de US$ 2,6 bi para térmicas, enquanto governo promete corte na emissão de gases-estufa
BNDES afirma que cobra das termelétricas o dobro do "spread" das demais fontes de energia e exige adoção de equipamentos modernos
FERNANDO BARROS DE MELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Na contramão das medidas
propagandeadas pelo governo
brasileiro para reduzir a emissão de gases de efeito estufa, o
BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social) voltou, em 2009, a financiar usinas "sujas", movidas
a gás natural, óleo e carvão.
Somente neste ano, segundo
levantamento feito pela Folha,
a aprovação de financiamento
para usinas térmicas foi de
R$ 2,6 bilhões, cerca de 58%
dos investimentos totais dos
projetos, que atingem R$ 4,45
bilhões. O banco informa que
R$ 811 milhões para termelétricas já foram desembolsados.
Desde 2003, aproximadamente R$ 3,6 bilhões foram
contratados, sendo liberados
R$ 2,45 bilhões. Os repasses
anteriores haviam sido feitos
em 2003 e em 2004, ainda como consequência do apagão
elétrico de 2001. Nos anos seguintes, as usinas "sujas" não
receberam dinheiro do banco
de fomento, mas voltaram neste ano a captar os recursos.
A assessoria do banco informou que entre 2003 e 2009 o
BNDES financiou R$ 41,8 milhões em projetos de geração
de energia, sendo que 9% do
total foi para termelétricas.
"O sistema energético brasileiro precisa contar com termelétricas por questões de segurança de suprimento. Ou seja, para mitigar os riscos de falta de energia em períodos de
seca", disse a assessoria. "A
questão tornou-se ainda mais
relevante diante da redução
dos reservatórios das usinas hidrelétricas, o que impede o estoque de energia."
Na semana retrasada, o
BNDES aprovou financiamento de R$ 1,038 bilhão para a
MPX -braço de energia do
grupo EBX, do empresário Eike Batista- para a construção
de uma usina a carvão, localizada no Maranhão, com potência
instalada de 315 megawatts.
A Folha apurou que ainda
estão em tramitação no banco
outras operações de financiamento, da ordem de R$ 4,7 bilhões, para usinas movidas a
gás, carvão ou óleo.
O banco informou ainda que
o "spread" básico cobrado para
termelétricas é de 1,8% ao ano,
o mais alto adotado pelo banco,
enquanto para outras fontes de
energia é de 0,9%. "O BNDES
exige que os equipamentos das
térmicas sejam de última geração, para reduzir ao mínimo
possíveis emissões."
Agenda oficial
A redução das emissões ocupou a agenda do governo brasileiro nos últimos meses. O Brasil enviou na semana passada
uma grande delegação para Copenhague (Dinamarca), onde
ocorreu a conferência mundial
sobre o clima.
A ministra da Casa Civil e
pré-candidata petista ao Planalto, Dilma Rousseff, apresentou oficialmente a proposta de
o país diminuir, em dez anos, as
emissões de gases-estufa no
Brasil entre 36% e 39% do volume estimado para 2020. Sem
contar os gastos com a redução
do ritmo do desmatamento do
cerrado, o governo estima custo em US$ 166 bilhões.
Fundo Amazônia
O BNDES anunciou, também
na semana retrasada, a aprovação dos cinco primeiros projetos financiados pelo Fundo
Amazônia, iniciativa na qual
países desenvolvidos contribuem com dinheiro que o Brasil pode utilizar para planos que
favoreçam a redução do desmatamento. Os valores ainda são
menores dos que os destinados
a termelétricas.
A partir do mês que vem, o
banco começa a liberar em parcelas os primeiros R$ 70,3 milhões já contratados.
O fundo foi criado em agosto
de 2008 e recebeu, por ora,
US$ 110 milhões, primeira parte de um compromisso de doação de US$ 1 bilhão da Noruega.
A liberação do dinheiro está
condicionada à queda do desmatamento. Uma segunda doação já prevista é da Alemanha,
no valor de US$ 18 milhões.
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