UOL


São Paulo, terça-feira, 21 de janeiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LUÍS NASSIF

A situação da Brasken

A Brasken, empresa que assumiu o controle da Copene, nega que venha enfrentando problemas de inadimplência na praça conforme notas divulgadas neste final de semana. Afirma ter havido confusão entre aumento da linha de crédito com a Petrobras e aumento de endividamento.
Como maior consumidora de nafta da Petrobras, diz a Brasken, ela tem direito a um crédito rotativo proporcional ao que consome. Como ocorreram aumentos simultâneos do dólar e da nafta, nada mais natural que ocorresse aumento do crédito rotativo, afirma-se lá. Mas se garante que a empresa opera em total adimplência de compromissos.
Mesmo assim, ainda pairam dúvidas sobre o modelo de venda da Copene, que desde meados do ano passado passou a se chamar Brasken.
Em 2000, o Banco Central colocou à venda a parte de Ângelo Calmon de Sá na Copene, que permitiria a mudança do controle da companhia. O único candidato com condições financeiras era o grupo Ultra. Sabedor disso, o Ultra tentou pressionar os preços para baixo.
Como represália, a área econômica do BC montou a operação que garantiu a passagem da Copene para a Odebrecht, em uma operação temerária, na qual a Odebrecht entraria com seus ativos, incorporando suas empresas à nova Copene.
Na época, aqui mesmo se alertou que era uma temeridade, devido à fragilidade financeira da Odebrecht. Mesmo assim, a operação foi aprovada pela Fazenda e pelo BC e viabilizada pela Petrobras, que apoiou com financiamento à compra de matéria-prima e com a aprovação da operação pela Petroquisa e pelo fundo Petros (sócios da Copene). Na condição de acionista, a Previ também concordou com os termos propostos.
Em apenas dois anos, levando em conta o valor econômico da companhia (critério que considera a geração de caixa multiplicada por seis), a participação da Norquisa sofreu uma perda de valor de R$ 1 bilhão, a da Petroquisa, outro R$ 1 bilhão, a da Previ, R$ 306 milhões, e a da Petros, R$ 104 milhões.
A incorporação final da Brasken à Copene ocorreu em julho do ano passado. Até o balanço de 30 de setembro (último publicado), as contas avançaram na seguinte direção:
1) O lucro líquido anual de R$ 227 milhões, no balanço de 31 de dezembro de 2000, foi caindo gradativamente, balanço a balanço, chegando a R$ 401 milhões de prejuízo, em 30 de junho de 2002, e a R$ 2 bilhões, em 30 de setembro de 2002. Há o efeito câmbio a ser considerado, o que deverá possibilitar um lucro contábil no último trimestre do ano passado.
3) O endividamento líquido saltou de R$ 310 milhões, em 2000, para R$ 2,5 bilhões, em 30 de junho de 2002, e para R$ 8,4 bilhões, em 30 de setembro de 2002. Com a melhora do câmbio, deve cair para R$ 7,5 bilhões, ainda assim excessivo.
4) A relação endividamento líquido/EBITDA pulou de 0,5, em em 2000, para 5,7, em 30 de junho de 2002, e para 9,4, em 30 de setembro de 2002. Na Brasken sustenta-se que a relação dívida líquida/geração de caixa (incorporando outras receitas e créditos tributários) seria de 5 em setembro, mas com boa possibilidade de chegar a 3,5 a 4 no final de 2003.
O argumento da empresa é que o balanço de setembro é o da parte mais baixa da curva. Isso porque, além de não ter se incorporado os ganhos de sinergia, a empresa enfrentou uma conjuntura de dólar forte, nafta cara e corte de linhas de financiamento.
Prometem-se resultados melhores no próximo balanço, por conta de redução no preço do dólar e melhoria nas condições de mercado. Além disso, a redução das linhas comerciais obrigou a empresa a amortizar seu endividamento.

E-mail -
lnassif@uol.com.br


Texto Anterior: Alca: Governo cumprirá parte de cronograma
Próximo Texto: Troca de comando: Casseb é indicado ao BB e se diz a favor da venda de ações
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.