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São Paulo, terça-feira, 21 de janeiro de 2003

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ARTIGO

Guerra iminente ameaça mercados de títulos emergentes

ALEXANDER MANDA
DA REUTERS, EM LONDRES

Os preços dos papéis da dívida emergente refletiam a opinião, bastante difundida, de que qualquer guerra entre os EUA e o Iraque será curta, mas os analistas dizem que ter tanta gente do mesmo lado do mercado pode se provar problemático caso a suposição não se confirme.
Os EUA estão enviando tropas ao Golfo Pérsico enquanto inspetores da ONU buscam no Iraque as armas de destruição em massa proibidas por suas resoluções. A maioria dos especialistas em defesa acredita que quaisquer combates se encerrariam rapidamente.
"O mercado está incluindo nos preços a chance de uma guerra e acredita que uma solução rápida seja mais provável que uma ruim", disse Henry Stipp, estrategista de dívida emergente na Threadneedle Asset Management. "Se as coisas saírem errado, os países importadores de petróleo vão sofrer. E, se o preço do petróleo ficar alto demais, toda a economia mundial sofrerá."
O Iraque tem a segunda maior reserva de petróleo no mundo e faz fronteira com a Arábia Saudita, maior exportador mundial. Os preços do petróleo cru atingem o ponto mais alto em dois anos graças ainda à greve geral na Venezuela, o quinto maior exportador.
Preços altos seriam prejudiciais para Brasil e Turquia, importadores de petróleo, mas o maior risco para os títulos dos países emergentes seria a queda na confiança dos investidores e consumidores dos EUA, dizem os analistas.
"O risco seria um choque de confiança nos EUA. Os investimentos seriam fortemente prejudicados. Nesse país, a gasolina nas bombas sobe tão logo o preço do petróleo sobe nos mercados", disse Vincent Megard, gerente de fundos de títulos emergentes na AXA Investment Managers. "No cenário, os mercados emergentes sofreriam com a queda das importações dos EUA, exportações menores para países emergentes e influxos menores de capital."
O México, cuja dívida responde por quase 23% do principal índice dos títulos soberanos emergentes, dirige 90% de suas exportações aos EUA. O Brasil, que responde por quase 20% do índice, depende fortemente de influxos de investimento vindos desse país para financiar sua conta corrente.
Ambos seriam atingidos, dizem os analistas, mas a situação econômica brasileira é mais frágil.
"O que realmente prejudicaria o Brasil seria a queda nos influxos de capital. Sem eles, o país pode ficar em situação semelhante à do ano passado", disse Megard.
O título da dívida do Brasil despencou na metade de 2002 porque os mercados temiam a chegada ao poder de um governo presidido por Luiz Inácio Lula da Silva.
Lula foi eleito em outubro e assumiu neste mês, mas conseguiu acalmar os mercados, o que causou alta de 50% no principal título da dívida do país desde então.
"Todos esperam uma guerra limpa, os americanos entram, derrubam Saddam [Hussein", e tudo está pronto, a poeira varrida. Dois meses depois, os preços do petróleo voltam aos US$ 20 por barril", disse um economista de um banco britânico. "O mercado está sendo extremamente otimista. Talvez vejamos Saddam queimando os campos petroleiros do Iraque, como fez no Kuwait."
Na ocasião, as tropas iraquianas derrotadas incendiaram os campos petroleiros do Kuwait, em fevereiro de 1991, antes de fugir do país, e a operação de limpeza custou mais de US$ 2 bilhões.


Tradução de Paulo Migliacci


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