|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ARTIGO
Guerra iminente ameaça mercados de títulos emergentes
ALEXANDER MANDA
DA REUTERS, EM LONDRES
Os preços dos papéis da dívida
emergente refletiam a opinião,
bastante difundida, de que qualquer guerra entre os EUA e o Iraque será curta, mas os analistas
dizem que ter tanta gente do mesmo lado do mercado pode se provar problemático caso a suposição não se confirme.
Os EUA estão enviando tropas
ao Golfo Pérsico enquanto inspetores da ONU buscam no Iraque
as armas de destruição em massa
proibidas por suas resoluções. A
maioria dos especialistas em defesa acredita que quaisquer combates se encerrariam rapidamente.
"O mercado está incluindo nos
preços a chance de uma guerra e
acredita que uma solução rápida
seja mais provável que uma
ruim", disse Henry Stipp, estrategista de dívida emergente na
Threadneedle Asset Management. "Se as coisas saírem errado,
os países importadores de petróleo vão sofrer. E, se o preço do petróleo ficar alto demais, toda a
economia mundial sofrerá."
O Iraque tem a segunda maior
reserva de petróleo no mundo e
faz fronteira com a Arábia Saudita, maior exportador mundial. Os
preços do petróleo cru atingem o
ponto mais alto em dois anos graças ainda à greve geral na Venezuela, o quinto maior exportador.
Preços altos seriam prejudiciais
para Brasil e Turquia, importadores de petróleo, mas o maior risco
para os títulos dos países emergentes seria a queda na confiança
dos investidores e consumidores
dos EUA, dizem os analistas.
"O risco seria um choque de
confiança nos EUA. Os investimentos seriam fortemente prejudicados. Nesse país, a gasolina nas
bombas sobe tão logo o preço do
petróleo sobe nos mercados", disse Vincent Megard, gerente de
fundos de títulos emergentes na
AXA Investment Managers. "No
cenário, os mercados emergentes
sofreriam com a queda das importações dos EUA, exportações
menores para países emergentes e
influxos menores de capital."
O México, cuja dívida responde
por quase 23% do principal índice
dos títulos soberanos emergentes,
dirige 90% de suas exportações
aos EUA. O Brasil, que responde
por quase 20% do índice, depende fortemente de influxos de investimento vindos desse país para
financiar sua conta corrente.
Ambos seriam atingidos, dizem
os analistas, mas a situação econômica brasileira é mais frágil.
"O que realmente prejudicaria o
Brasil seria a queda nos influxos
de capital. Sem eles, o país pode ficar em situação semelhante à do
ano passado", disse Megard.
O título da dívida do Brasil despencou na metade de 2002 porque os mercados temiam a chegada ao poder de um governo presidido por Luiz Inácio Lula da Silva.
Lula foi eleito em outubro e assumiu neste mês, mas conseguiu
acalmar os mercados, o que causou alta de 50% no principal título
da dívida do país desde então.
"Todos esperam uma guerra
limpa, os americanos entram,
derrubam Saddam [Hussein", e
tudo está pronto, a poeira varrida.
Dois meses depois, os preços do
petróleo voltam aos US$ 20 por
barril", disse um economista de
um banco britânico. "O mercado
está sendo extremamente otimista. Talvez vejamos Saddam queimando os campos petroleiros do
Iraque, como fez no Kuwait."
Na ocasião, as tropas iraquianas
derrotadas incendiaram os campos petroleiros do Kuwait, em fevereiro de 1991, antes de fugir do
país, e a operação de limpeza custou mais de US$ 2 bilhões.
Tradução de Paulo Migliacci
Texto Anterior: Caixa-forte: Ladrões invadem casa de Greenspan Próximo Texto: Mercado financeiro: Inflação pressiona, e dólar sobe mais 0,88% Índice
|