São Paulo, quarta-feira, 21 de janeiro de 2004

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RETOMADA

Taxa real de 8,84% é a menor desde 1994, e analistas temem pressão inflacionária caso investimento não cresça

BC encara limite da redução dos juros

ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

A partir de hoje, o Banco Central começará a tatear um terreno desconhecido para economistas da própria instituição e do mercado: o risco de reduzir os juros a um nível que abra espaço para pressões inflacionárias. Atualmente, os juros reais (descontada a expectativa de inflação) estão em 8,84%, patamar mais baixo desde a estabilização da economia, em 1994, segundo analistas. O Copom (Comitê de Política Monetária do BC) decide hoje o destino da taxa básica de juros, que está em 16,5% ao ano.
"Os juros reais hoje são os mais baixos desde que temos a economia estabilizada", diz Tomás Málaga, economista-chefe do Itaú.
Para padrões da economia brasileira, o percentual de 8,84% (calculado pelo HSBC com base nas taxas de juros prefixadas de um ano) é baixo.
E, segundo alguns economistas, já está contribuindo para o início de uma forte retomada da atividade. Com isso, algumas projeções já revelam expectativa de crescimento entre 4% e 4,5% em 2004.
"O Brasil tem passado por uma sucessão de choques positivos nos ambientes externo e doméstico, e os juros reais são os mais baixos desde a estabilização. Isso tem levado ao início de uma forte retomada da economia", afirma Alexandre Bassoli, economista-chefe do HSBC, que está revendo sua estimativa do PIB em 2004 de algo entre 3,5% a 4% para uma faixa de 4% a 4,5%.
O risco, segundo economistas, é que o crescimento econômico resvale em pressões de demanda. O nível de estoques na indústria, por exemplo, está caindo, o que pode gerar pressão de preços, caso o nível de investimento na economia não aumente em 2004.
"Nossa expectativa de crescimento para 2004 está em 4,1%. Acho que neste ano a capacidade ociosa da indústria é suficiente para que o país cresça dentro dos seus limites. Mas o investimento tem de aumentar ao longo do ano para evitar que as pressões inflacionárias venham em 2005", diz José Antonio Pena, economista-chefe do BankBoston.
Nesse contexto, a atuação do BC é considerada delicada. É consenso entre analistas que os juros precisam cair mais e a taxa de investimento tem de aumentar para que a recuperação atinja todos os setores da economia.
"A recuperação está acontecendo, mas ainda não é generalizada nem suficiente para reduzir a taxa de desemprego. A redução dos juros tem sido importante, e agora será fundamental também gerar um novo choque de confiança em termos regulatórios para que aumente o nível de investimentos", afirma Málaga, do Itaú.

Piso desconhecido
Especialistas concordam que juros baixos e mais investimentos são importantes para o crescimento, mas também estão de acordo que, a partir do atual patamar de 8,84%, o BC pode esbarrar a qualquer momento na chamada taxa de juros reais de equilíbrio, que permite que a economia cresça sem gerar inflação.
O problema é que nem mesmo o BC, segundo a Folha apurou, tem idéia de qual é essa taxa hoje. A instituição trabalha com a referência do que ocorreu em março de 2001, quando o Copom elevou os juros de 15,25% para 15,75% em conseqüência do início de pressões inflacionárias que acompanhavam a recuperação da economia, antes da crise de energia.
Naquele momento, os juros reais estavam em cerca de 11%. O problema é que as circunstâncias daquela época eram totalmente diferentes das atuais, o que significa que, certamente, esse patamar de 11% não é mais válido.
Um dos motivos principais é o risco-país -medida da taxa de remuneração exigida por investidores externos para emprestar para o Brasil-, que está hoje próximo de 400 pontos. O patamar é muito inferior aos mais de 700 pontos de março de 2001.
Segundo analistas, conforme a taxa de retorno esperada por investidores de fora cai, abre-se espaço para que os juros domésticos se reduzam.
A dúvida é até que ponto a política monetária poderá se flexibilizar em 2004. A certeza de analistas é que, neste contexto, a autoridade monetária reduzirá os juros a um ritmo bastante lento, provavelmente realizando cortes de 0,5 ponto percentual por mês.
"Cortes de um ponto percentual, considerados tímidos em alguns momentos de 2003, agora passam a ser vistos como arrojados", diz Pena.


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