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RETOMADA
Taxa real de 8,84% é a menor desde 1994, e analistas temem pressão inflacionária caso investimento não cresça
BC encara limite da redução dos juros
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
A partir de hoje, o Banco Central começará a tatear um terreno
desconhecido para economistas
da própria instituição e do mercado: o risco de reduzir os juros a
um nível que abra espaço para
pressões inflacionárias. Atualmente, os juros reais (descontada
a expectativa de inflação) estão
em 8,84%, patamar mais baixo
desde a estabilização da economia, em 1994, segundo analistas.
O Copom (Comitê de Política
Monetária do BC) decide hoje o
destino da taxa básica de juros,
que está em 16,5% ao ano.
"Os juros reais hoje são os mais
baixos desde que temos a economia estabilizada", diz Tomás Málaga, economista-chefe do Itaú.
Para padrões da economia brasileira, o percentual de 8,84% (calculado pelo HSBC com base nas
taxas de juros prefixadas de um
ano) é baixo.
E, segundo alguns economistas,
já está contribuindo para o início
de uma forte retomada da atividade. Com isso, algumas projeções
já revelam expectativa de crescimento entre 4% e 4,5% em 2004.
"O Brasil tem passado por uma
sucessão de choques positivos
nos ambientes externo e doméstico, e os juros reais são os mais baixos desde a estabilização. Isso tem
levado ao início de uma forte retomada da economia", afirma Alexandre Bassoli, economista-chefe
do HSBC, que está revendo sua
estimativa do PIB em 2004 de algo
entre 3,5% a 4% para uma faixa de
4% a 4,5%.
O risco, segundo economistas, é
que o crescimento econômico
resvale em pressões de demanda.
O nível de estoques na indústria,
por exemplo, está caindo, o que
pode gerar pressão de preços, caso o nível de investimento na economia não aumente em 2004.
"Nossa expectativa de crescimento para 2004 está em 4,1%.
Acho que neste ano a capacidade
ociosa da indústria é suficiente
para que o país cresça dentro dos
seus limites. Mas o investimento
tem de aumentar ao longo do ano
para evitar que as pressões inflacionárias venham em 2005", diz
José Antonio Pena, economista-chefe do BankBoston.
Nesse contexto, a atuação do BC
é considerada delicada. É consenso entre analistas que os juros precisam cair mais e a taxa de investimento tem de aumentar para que
a recuperação atinja todos os setores da economia.
"A recuperação está acontecendo, mas ainda não é generalizada
nem suficiente para reduzir a taxa
de desemprego. A redução dos juros tem sido importante, e agora
será fundamental também gerar
um novo choque de confiança em
termos regulatórios para que aumente o nível de investimentos",
afirma Málaga, do Itaú.
Piso desconhecido
Especialistas concordam que juros baixos e mais investimentos
são importantes para o crescimento, mas também estão de
acordo que, a partir do atual patamar de 8,84%, o BC pode esbarrar
a qualquer momento na chamada
taxa de juros reais de equilíbrio,
que permite que a economia cresça sem gerar inflação.
O problema é que nem mesmo
o BC, segundo a Folha apurou,
tem idéia de qual é essa taxa hoje.
A instituição trabalha com a referência do que ocorreu em março
de 2001, quando o Copom elevou
os juros de 15,25% para 15,75%
em conseqüência do início de
pressões inflacionárias que acompanhavam a recuperação da economia, antes da crise de energia.
Naquele momento, os juros
reais estavam em cerca de 11%. O
problema é que as circunstâncias
daquela época eram totalmente
diferentes das atuais, o que significa que, certamente, esse patamar de 11% não é mais válido.
Um dos motivos principais é o
risco-país -medida da taxa de
remuneração exigida por investidores externos para emprestar
para o Brasil-, que está hoje próximo de 400 pontos. O patamar é
muito inferior aos mais de 700
pontos de março de 2001.
Segundo analistas, conforme a
taxa de retorno esperada por investidores de fora cai, abre-se espaço para que os juros domésticos se reduzam.
A dúvida é até que ponto a política monetária poderá se flexibilizar em 2004. A certeza de analistas
é que, neste contexto, a autoridade monetária reduzirá os juros a
um ritmo bastante lento, provavelmente realizando cortes de 0,5
ponto percentual por mês.
"Cortes de um ponto percentual, considerados tímidos em alguns momentos de 2003, agora
passam a ser vistos como arrojados", diz Pena.
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