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Blindagem do Brasil contra crise foi "conto de fadas", diz analista
Professor de Columbia afirma que país poderá até ter de elevar juros se não tiver política fiscal responsável e culpa agências reguladoras por turbulência
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Ex-diretor de análise de
emergentes do Citigroup, o
economista Thomas Trebat, da
Universidade Columbia, diz
que países como o Brasil não
escaparão dos efeitos da crise
nos EUA. Afirma que o país pode até elevar os juros se não tiver política fiscal responsável e
que a tese do "descolamento"
dos emergentes foi um "conto
de fadas". Leia entrevista.
FOLHA - Como a crise na economia
é percebida pelos americanos?
THOMAS TREBAT - Estamos atravessando uma fase de crescimento medíocre e possivelmente já estamos em recessão.
E quem está dizendo isso são
os consumidores, os eleitores e
agora os políticos. A preocupação com a economia já é um assunto mais importante do que
o conflito no Iraque na eleição.
Cada lar tinha um patrimônio
na Bolsa e um valor da sua casa.
O preço da casa despencou até
20%, e o mercado caiu e até hoje não recuperou o seu equilíbrio. Isso acaba minando o poder de compra do consumidor.
FOLHA - Os emergentes seguirão
imunes à crise americana?
TREBAT - Essa tese é baseada
em desejo, e não na análise da
realidade global. Um exemplo:
60% das exportações asiáticas
vão para os EUA. E agora vemos uma diminuição nas exportações da China e muita
preocupação no leste da Ásia.
Há um prognóstico de crescimento reduzido europeu. Vai
sobrar o que para os emergentes? Fatalmente haverá menos
fluxo de crédito, preço menor
de commodities e menos investimento direto e exportações.
FOLHA - Por que essa tese pegou
em 2007? Foi uma ilusão?
TREBAT - Houve esse descolamento porque a freada foi rápida aqui [nos EUA]. No terceiro
trimestre, crescemos mais de
3% [4,9%]. Só no quarto trimestre é que a economia bateu
contra a parede. Esse negócio
de "descolamento" foi um conto de fadas. Agora, países como
o Brasil têm muito mais capacidade para absorver golpes.
FOLHA - Os juros altos manterão o
fluxo de capital para o Brasil?
TREBAT - Duvido que o atual diferencial de juros [prêmio no
Brasil acima do juro americano] dê margem de conforto para o Brasil. Até o final do ano,
podemos falar de possíveis aumentos de juros, que é um cenário talvez não provável, mas
possível. A probabilidade aumenta à medida que o governo
não toma medidas fiscais.
FOLHA - Quais as lições da crise?
TREBAT - Estou horrorizado
com a falta de critério no setor
bancário. Nosso sistema de
avaliação de risco faliu. E faliu
por fatores bastante humanos,
como a gula dos executivos [em
bater metas e ganhar bônus].
Foram feitas avaliações de risco perdendo uma longa história de crise financeira pelo simples fato da ganância e talvez
da relativa juventude de profissionais. É marcante a falta de
cabelos grisalhos nos bancos.
FOLHA - E os maiores erros?
TREBAT - Excesso de otimismo
e falta de juízo das agências reguladoras. Vários Ph.D.s terão
de explicar como é possível que
um monte de hipotecas de pessoas com precárias condições
de renda ganham classificação
de risco AAA [a melhor nota
possível]. Quando os mesmos
bancos fizeram empréstimos a
países emergentes, havia muito
rigor sobre a capacidade de pagamentos desses países. Agora,
houve uma crise emergente
dentro do nosso próprio país
que não foi precificada.
FOLHA - Mas os responsáveis pelo
crédito não são os mesmos.
TREBAT - Em cada banco há um
só executivo responsabilizado
pelo risco. Claro que cada área
tem os seus profissionais. Mas
no fundo o executivo encarregado pelo risco é o mesmo.
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