São Paulo, quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

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Remessas sobem, e deficit externo é recorde

Com envio maior de lucro das empresas e piora na balança, saldo das transações com exterior tem em dezembro pior resultado da história

Dados indicam que país ficará mais dependente do capital externo para financiar expansão, dizem analistas; governo vê fatores positivos


EDUARDO CUCOLO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As transações do Brasil com o exterior tiveram em dezembro o pior resultado mensal em mais de 60 anos. Segundo o BC, o comportamento reflete, principalmente, o aumento das remessas de lucros e dividendos no fim de 2009 e a piora na balança comercial.
Para analistas, indica também que o país ficará mais dependente de capital externo para financiar o seu crescimento e os investimentos em áreas estratégicas, como a exploração do petróleo no pré-sal e as obras para sediar a Copa de 2014 e a Olimpíada em 2016.
Depois de cinco anos seguidos de superavit nas suas transações com o exterior, período em que a poupança interna foi suficiente para bancar os investimentos do país, as contas externas do Brasil voltaram a registrar resultados negativos nos últimos dois anos.
Em 2009, por exemplo, o deficit ficou em US$ 24,3 bilhões, 14% abaixo do resultado do ano anterior. Essa queda reflete, no entanto, apenas o comportamento da economia no período mais grave da crise financeira mundial, quando o país importou menos e reduziu seus gastos com serviços externos.
Com a retomada do nível de atividade, em dezembro de 2009 o deficit ficou em US$ 6 bilhões, valor mensal recorde desde 1947. Para janeiro, dados parciais projetam deficit de US$ 5,5 bilhões, segundo o BC.

Fatores positivos
O governo atribui o deficit a alguns fatores positivos. Empresas estrangeiras que atuam no país estão lucrando mais e remetendo parte do dinheiro para as matrizes. Além disso, o país importa mais bens e serviços para manter o ritmo de crescimento.
Os números também mostram, no entanto, a piora nas exportações brasileiras. As projeções do mercado financeiro indicam que o setor exportador vai enfrentar pelo menos mais dois anos de resultados ruins. O superavit da balança deve cair em 2011 pelo quinto ano seguido e registrar encolhimento de 90% em relação a 2009.
A expectativa do governo é fechar o ano com o maior deficit em transações correntes da história, de US$ 40 bilhões. No mercado, as projeções são as de um resultado pior, que chegaria a US$ 55 bilhões em 2011. Se essa previsão se confirmar, o número ultrapassará os 3% do PIB, quase o dobro da participação registrada hoje.
Para o economista Carlos Eduardo de Freitas, ex-diretor do BC, esse nível é aceitável diante da necessidade do país de atrair recursos externos para crescer. Segundo ele, caso não haja recursos suficientes para financiar esse movimento, a tendência natural é a de uma alta do dólar, o que acaba freando a expansão desse deficit.
"O país ficou muitos anos sem usar essa poupança externa e já está na hora de utilizá-la novamente. Mas o importante é que ela seja usada para aumentar a taxa do investimento, e não o consumo."
A maior contribuição para o deficit de 2009 veio das remessas de lucros e dividendos para o exterior. As empresas com sede nos Países Baixos aumentaram esses fluxos e responderam por 22% desse movimento. Com isso, ultrapassaram as norte-americanas, que reduziram suas remessas em mais de 50%. O terceiro lugar se manteve com as espanholas.
O setor de serviços aumentou sua participação para 35%, em detrimento da indústria. Houve queda de participação nas áreas de veículos, serviços financeiros e metalurgia. Empresas de energia, bebida e comércio tiveram peso maior nessas remessas.


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