São Paulo, quarta-feira, 21 de abril de 2004

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ORÁCULO DE WASHINGTON

Presidente do Fed diz que deflação não é mais risco e que bancos estão preparados para taxa mais elevada

Greenspan sinaliza alta do juro, e Bolsas caem

DA REDAÇÃO

O presidente do Federal Reserve (banco central dos EUA), Alan Greenspan, começa a preparar os mercados financeiros para uma alta na taxa de juros.
Em depoimento ontem ao Senado americano, Greenspan disse que a deflação já não é mais um risco para a economia norte-americana. Afirmou ainda que os bancos do país estão preparados para um cenário de juros mais elevados.
As declarações, ainda que não explícitas, indicam que a fase de baixas taxas de juros está chegando ao fim. As Bolsas norte-americanas reagiram mal, com fortes perdas, enquanto os juros futuros encerraram o dia em alta. O índice Dow Jones teve uma queda de 1,18%, e a Nasdaq caiu 2,07%.
As perspectivas de juros mais elevados tornam menos atrativos os investimentos de maior risco, como as ações.
Os mercados operaram estáveis durante quase todo o dia, à espera do pronunciamento de Greenspan. As Bolsas só começaram a cair por volta das 14h30 (horário de Washington), quando o presidente do Fed começou a falar.
"Parece que o poder de fixação dos preços está sendo restabelecido gradualmente, e, como indicarei amanhã [hoje], as ameaças de deflação, que eram uma preocupação significativa no ano passado, já não nos incomodam mais", disse Greenspan.
Em outras palavras, o presidente do Fed afirmou que as empresas começam a ter espaço para ampliar margens e aumentar os preços. Na semana passada, o índice de inflação ao consumidor relativo de março veio acima do esperado.
Quando derrubou a taxa básica para 1% ao ano, em junho do ano passado, o Fed havia se justificado citando justamente o risco de uma "indesejada queda nos preços". Tal ameaça parece não estar mais no horizonte da instituição.
À luz dos recentes indicadores de atividade econômica e inflação, os investidores interpretaram as declarações de ontem como uma clara mensagem de que o esperado aumento nos juros do país ocorrerá antes do previsto. Se boa parte dos bancos esperava uma alta apenas no ano que vem, hoje a maioria acredita em elevação já em agosto.
Mas o próprio Greenspan tratou de relativizar seus comentários, ao dizer que as empresas ainda dispõem de bastante capacidade ociosa para queimar. Para o presidente do Fed, isso, assim como o aumento na produtividade, ajuda a conter a inflação.
No mês passado, a utilização da capacidade instalada nos EUA ficou em 76,5%. De acordo com um relatório do banco Merrill Lynch, nos últimos 15 anos, o Fed nunca aumentou as taxas de juros quando a capacidade ociosa era superior a 20%, como hoje.
Durante o seu depoimento preparado antecipadamente, que foi apresentado em sessão da Comitê de Finanças do Senado americano, Greenspan tratou exclusivamente do setor bancário. Ainda assim, deu um recado implícito sobre juros, ao dizer que os bancos estão administrando melhor os ricos e estão preparados para taxas mais elevadas.
Os comentários mais diretos sobre inflação ocorreram após a apresentação inicial, quando os senadores puderam fazer perguntas ao presidente do Fed. Indicações mais claras deverão ser apresentadas hoje, quando Greenspan falará exclusivamente sobre economia, em uma sessão conjunta do Congresso americano.


Com agências internacionais


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