São Paulo, quarta-feira, 21 de abril de 2004

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COMÉRCIO MUNDIAL

Oferta é informal

Europa abre "sensíveis" agrícolas ao Mercosul

DO COLUNISTA DA FOLHA, EM BRUXELAS

A União Européia colocou na mesa de negociação com o Mercosul até os produtos agrícolas que até agora eram considerados "sensíveis" e, portanto, ficariam protegidos indefinidamente, mesmo que os dois blocos chegassem a um acordo para liberalizar seu comércio.
Trata-se dos produtos que compõem a lista E, no jargão das negociações comerciais. São 958 linhas tarifárias que, grosso modo, correspondem a produtos.
A oferta ao Mercosul, feita informalmente durante o fim de semana em Buenos Aires, prevê três tipos de concessões nesse âmbito de produtos "sensíveis": parte deles passa para a lista D, ou seja, aquela que prevê a eliminação das tarifas de importação em até dez anos; parte terá redução parcial das tarifas de importação; e parte ganhará cotas.
Ou seja, o Mercosul poderá, por exemplo, exportar uma certa quantidade de carne com tarifa baixa ou zero. Acima da cota, a tarifa é bem mais elevada.
A oferta européia parece ser de fato "significativa", tal como seus negociadores vinham anunciando nos últimos meses. Foi recebida com mal disfarçado entusiasmo pelos negociadores do bloco do Sul. "Eles puseram na mesa tudo o que mais nos interessa", diz, por exemplo, Regis Arslanian, negociador brasileiro.
Um pouco mais contido, reforça Martín Redrado, vice-chanceler argentino e o principal negociador do Mercosul neste semestre em que a Argentina ocupa a presidência do bloco: "Estamos no bom caminho para uma negociação que deve terminar dentro de seis meses".
É uma alusão ao fato de que os dois lados reafirmaram, em Buenos Aires, a disposição de fechar os entendimentos até outubro deste ano. Aliás, foram até mais otimistas: "Foi ressaltado que a negociação pode terminar até antes", diz Arslanian.
Do lado europeu, o entusiasmo é menor. A Folha ouviu, na Comissão Européia, o braço executivo do conglomerado de 15 países europeus (serão 25 a partir do dia 1º), que há um "interesse estratégico" no acordo com o Mercosul.
"Temos o maior interesse em fincar nossa bandeira nesse grupo que, por enquanto, é o maior do planeta", ouviu a Folha. É uma alusão ao fato de que uma associação Mercosul/União Européia criaria a maior área de livre comércio do planeta, um formidável conglomerado de 675 milhões de habitantes (455 milhões na Europa e 220 milhões no Mercosul).
Mas, sempre segundo a versão européia, a chave para haver progressos efetivos na negociação está em melhores ofertas do Mercosul nas áreas de serviços, compras governamentais e investimentos.
Depois das conversações informais de Buenos Aires, os dois lados vão examinar mais detidamente o impacto das propostas apresentadas, para discuti-las de maneira talvez definitiva na reunião do CNB (Comitê de Negociações Birregionais), marcada para a partir de 3 de maio em Bruxelas.
Mas qualquer acerto de fato definitivo deverá aguardar uma reunião de cúpula entre o Mercosul e a UE, dentro da cúpula mais ampla (UE-América Latina/Caribe), marcada para 28 de maio, em Guadalajara, no México. (CR)


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