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FÓRUM NACIONAL
Diretor do Banco Mundial fala em debate sobre desigualdade
País só cresce acima de 3% se distribuir renda, diz Bird
CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
O crescimento econômico é que
leva à redução das desigualdades
ou a redução das desigualdades
precede o crescimento e até contribui para ele, no caso brasileiro?
O dilema movimentou ontem o
último painel do 16º Fórum Nacional, realizado no Rio.
O diretor do Bird (Banco Mundial) para o Brasil, Vinod Thomas, disse que sem uma melhor
distribuição de renda fica "praticamente impossível" o Brasil
crescer acima da casa dos 3% ao
ano de forma sustentada porque a
parcela da população incluída no
mercado de consumo é insuficiente para promover um crescimento maior.
No trabalho que apresentou no
Fórum, Thomas diz que as transferências sociais, como o Bolsa-Família, "têm forte impacto sobre
a redução da pobreza", aumentando em 20% a renda da população mais pobre.
Ele afirmou que o Banco Mundial pretende apoiar o Bolsa-Família com assistência técnica e
com "mais de US$ 1 bilhão" nos
próximos seis anos.
Thomas, que além de diretor
para o Brasil é vice-presidente do
Banco Mundial, mostrou comparações entre o Brasil e outros países, especialmente a China e a Índia, dois países que vêm crescendo a taxas elevadas.
Segundo ele, a China conseguiu,
com crescimento econômico, tirar 168 milhões de pessoas da pobreza em dez anos, mas ressaltou
que houve no período aumento
da desigualdade no país.
Segundo Thomas, o efeito do
crescimento é melhor na China
do que no Brasil porque lá a sociedade já tinha um baixo índice de
desigualdade quando o ciclo de
crescimento começou.
Para o economista Cláudio
Salm, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), "é ingenuidade ou má-fé" achar que o
aumento das transferências governamentais para os mais pobres é capaz de dar conta da tarefa
de reativar a demanda de forma a
estimular a produção de "bens de
consumo popular" e aumentar a
geração de empregos.
"O discurso ortodoxo acredita,
e isso está registrado nos documentos oficiais da Fazenda."
Capacidade de investir
Para Salm, o fundamental para
o Brasil é retomar a capacidade de
investir e, principalmente, a capacidade do Estado para promover
os investimentos.
"O governo tem dado ênfase aos
programas de cunho assistencialista, atribuindo-lhes poder de fogo suficiente para lograr o objetivo de redirecionar a demanda setorial. Não conhecemos os fundamentos dessa proposição, mas ela
nos parece inconsistente", afirmou o economista em texto escrito que serviu de base para sua palestra no Fórum.
Salm ressaltou não ser contra os
programas de transferência de
renda, como o Bolsa-Escola e o
Bolsa-Família, desde que eles sejam tratados como emergenciais.
Ele defendeu o aumento do salário mínimo como forma de melhorar a distribuição de renda.
O ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, que havia falado na abertura do painel,
apresentando e defendendo os
principais programas do governo
na área social, disse no final que
não iria responder a Salm.
Mas afirmou que "o desenvolvimento social cria condições para
o desenvolvimento econômico" e
incorpora ao mercado de consumo "milhões de brasileiros".
Ananias afirmou que o Bolsa-Família e os demais programas de
transferência de renda do governo "criam condições para a retomada do crescimento". Segundo
ele, o Bolsa-Família atende hoje
3,9 milhões de famílias, com benefício médio de R$ 73 mensais.
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