|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Classe média gasta 113 dias de trabalho por serviço "estatal"
Despesa anual de uma família com quatro pessoas abrange saúde, educação, previdência privada, segurança e pedágio
Contribuinte trabalha de 26
deste mês a 15 de setembro
para substituir serviços que
o Estado oferece, mas não
com a eficiência que deveria
MARCOS CÉZARI
DA REPORTAGEM LOCAL
A classe média brasileira
continua trabalhando mais para o Estado do que para si mesma. Estudo feito pelo IBPT
(Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário) mostra
que as famílias de classe média
gastam o equivalente a 113 dias
de trabalho por ano apenas para custear despesas com saúde,
educação, previdência privada,
segurança e pedágio, serviços
que deveriam ser oferecidos
adequadamente pelo Estado
aos contribuintes.
Para o advogado Gilberto
Luiz do Amaral, presidente do
IBPT e um dos autores do estudo, a "escravidão do contribuinte" é decorrente da ineficiência do Estado na prestação
daqueles serviços.
Segundo o estudo, os contribuintes brasileiros trabalharão
do dia 26 deste mês até o dia 15
de setembro apenas para custear a substituição de serviços
públicos -que o Estado não
oferece adequadamente- por
itens de melhor qualidade, mas
privados -ou seja, pagos.
"O contribuinte vai começar
a trabalhar para a família comer, vestir, morar, comprar
bens, gozar férias e poupar apenas no dia 16 de setembro deste
ano", diz Amaral.
O trabalho para pagar esses
serviços começa no dia 26, sexta-feira, porque até o dia 25
deste mês os contribuintes estarão trabalhando para outra
finalidade: pagar os tributos devidos anualmente aos fiscos federal, estaduais e municipais
(ver texto abaixo).
Segurança custa mais
"Os gastos com serviços privados vêm se acentuando ano a
ano, de forma a comprometer
cada vez mais o orçamento das
famílias de classe média", afirma Amaral.
Para comprovar isso, ele diz
que, na década de 70, aquelas
famílias comprometiam 7% da
renda para comprar os serviços. Neste ano, vão comprometer 31% -quase 3,5 vezes mais.
Trocando em números, o estudo do IBPT revela que os 7%
dos anos 70 representavam
menos de um mês de trabalho
(exatos 25 dias). Em 2003
aquele período já era multiplicado por quatro, ou 102 dias.
No ano seguinte eram 105 dias
de trabalho, número que cresceu para 112 dias em 2005. Neste ano será necessário trabalhar mais um dia.
Para o IBPT, a classe média
-que precisa trabalhar os 113
dias- tem renda familiar acima
de R$ 3.000 e até R$ 10 mil por
mês. Pelo estudo, famílias com
renda até R$ 3.000 mensais são
consideradas "pobres". Já as
que ganham mais de R$ 10 mil
são consideradas "classe alta".
O estudo considera quatro pessoas por família: casal e dois filhos em idade escolar.
Um detalhe chama a atenção
no estudo do IBPT: o crescente
gasto da população com segurança. Isso se traduz em despesas com cercas elétricas, câmeras, vigilância particular (em
geral, em grandes condomínios), veículos para ronda, coletes à prova de balas etc.
"Quanto maior a renda familiar, maior o percentual que as
famílias despendem para garantir sua segurança." Hoje, diz
Amaral, o quesito segurança
ganhou tanta dimensão na vida
das pessoas já há feiras mostrando as novidades do setor.
Mais que saúde e educação
Os dados do estudo comprovam isso. Na média da população brasileira, o gasto com segurança compromete 10 dias de
trabalho por ano, ou 2,69% da
renda bruta. Na classe pobre
são 7 dias, ou 1,95% da renda;
na média, 16 dias, ou 4,31%; e na
alta, 27 dias, ou 7,28%.
"Os gastos com segurança
pública e privada já superam os
dispêndios com educação e
saúde no país. É uma distorção
do sistema", afirma Amaral.
Segundo estimativa do IBPT,
os gastos com segurança pública no país em 2005 foram da
ordem de R$ 60 bilhões. Some-se a esse valor cerca de R$ 70
bilhões dispendidos pelo setor
privado. Essa soma de R$ 130
bilhões supera todo o gasto do
Estado com educação e saúde.
Texto Anterior: Dólar em baixa reduz custo das matérias-primas importadas Próximo Texto: Até quinta-feira, brasileiro trabalhará apenas para o pagamento de tributos Índice
|