São Paulo, quinta-feira, 21 de maio de 2009

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BC eleva intervenção, mas moeda americana recua

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

O Banco Central voltou ontem a intervir com força no mercado de câmbio, mas não conseguiu impedir que o dólar encerrasse o dia com baixa de 0,39%, vendido a R$ 2,027, menor valor desde 2 de outubro.
Foi a terceira baixa seguida da moeda americana, que se desvalorizou em 3,93% só nesta semana, e está a apenas 1,38% de romper o piso de R$ 2.
Segundo estimativas do mercado, o BC comprou ontem mais de US$ 1 bilhão em "cash" no final da tarde. Desde que voltou a intervir comprando dólares para as reservas, no início do mês, o volume não passava muito de US$ 150 milhões.
O argumento do BC é que sua atuação visa corrigir desequilíbrios momentâneos de liquidez, e não impedir a valorização brusca do real, movimento que descontenta exportadores.
Para Luis Piason, gerente de câmbio da corretora Concórdia, o BC enxugou o excesso de dólares dos bancos e mostrou que, se quiser intervir, tem força para mexer com as cotações. "É um volume expressivo. O BC quis dar um recado. Daqui a pouco estamos com o dólar [negociado na cotação] antes da crise. Na semana passada, a gente via isso [dólar abaixo de R$ 2], mas não para já. Agora, o dólar já está em R$ 2", disse.
Já José Roberto Carreira, gerente da Corretora Novação, acredita que uma eventual mudança nas intervenções do BC não deve alterar consideravelmente a trajetória de queda da divisa dos EUA. "A maior prova disso é que, mesmo [com o BC] entrando, o dólar ainda cai. Não vai mudar muita coisa, não."
Durante o dia, o dólar chegou a cair mais de 1% e desceu a R$ 2,014. Dessa vez, a atuação do BC coincidiu com a piora nos mercados americanos e ocorreu pouco antes do fechamento dos negócios. Por esse motivo, a atuação do BC poderá ter repercussão maior hoje, de acordo com analistas.
Segundo o consultor Milton Wagner, a taxa de câmbio brasileira segue uma depreciação internacional do dólar americano em relação a ativos de risco, como commodities e moedas emergentes.
"Mas há também um descolamento do Brasil em relação a outros emergentes. Países como Canadá, Austrália, México e Rússia são também grandes produtores de commodities, mas estão em situação um pouco pior. As moedas deles também se valorizam, mas não como o real. O Brasil se diferencia porque tem mercado consumidor forte, não depende tanto de exportações e tem o sistema financeiro forte", disse Wagner.


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