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PREVIDÊNCIA
63,5% da carteira dos fundos de pensão vão para renda fixa; em 1994, a proporção era de 30%
Fundações investem mais em títulos
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apesar da trajetória -intermitente- de queda dos juros desde
meados de 2003 e da expectativa
de investimentos pesados em infra-estrutura, os fundos de pensão estão abarrotados de títulos
públicos. Dados da SPC (Secretaria de Previdência Complementar) mostram que as aplicações
das entidades em renda fixa atingiram neste ano o recorde desde
julho de 1994, mês de lançamento
do Plano Real.
Segundo os últimos números da
SPC, de março, 63,54% dos R$
221,6 bilhões em investimentos
dos fundos, ou seja, R$ 140 bilhões, estão aplicados em renda fixa -leia-se títulos do Tesouro
Nacional, pois a maior parte dos
investimentos das entidades nesse tipo de aplicação são papéis do
governo federal.
Em 1994, as aplicações em renda
fixa limitavam-se a 29,60%, segundo a secretaria do Ministério
da Previdência (veja quadro nesta
página). No ano passado -primeiro ano do governo Lula-, a
participação da renda fixa na carteira de investimento dos fundos
fechou em 62,19% do total.
Migração
"Mantido o que nós esperamos,
que é a tendência de queda nos juros, os fundos vão migrar para
outros investimentos. Mas é lógico que isso acontecerá de forma
muito gradual", afirmou à Folha
o secretário de Previdência Complementar, Adacir Reis.
Ele acrescentou que ainda é pequena a disposição dos fundos
em participar dos programas de
PPPs (Parcerias Público-Privadas), principal trunfo do governo
Luiz Inácio Lula da Silva para estimular investimentos privados em
projetos de infra-estrutura. O
projeto que cria as PPPs ainda tramita no Congresso.
O governo espera que, com a
queda da taxa básica de juros e
com as garantias que as PPPs oferecem aos investidores, os fundos
de pensão possam se tornar um
dos principais investidores na expansão da rede de infra-estrutura.
Com a expansão tanto dos ativos quanto dos investimentos
produtivos dos fundos, o governo
avalia também que eles ajudarão
na elevação das taxas de investimento da economia brasileira. No
ano passado, a taxa de investimento foi de apenas 18% do PIB.
Algumas economias asiáticas, por
exemplo, têm taxas de investimento superiores a 30%.
"Um ou outro fundo já colocou
as PPPs em suas políticas de investimento para os próximos cinco anos. O marco regulatório precisa ser claro e oferecer garantias", disse o secretário. "Os fundos já foram vistos como financiadores passivos de investimento, mas não podem ser. A atividade fim [dos fundos de pensão] é
dar retorno para os seus participantes", explica.
Reis afirma ainda que a meta de
rentabilidade dos fundos -
atualmente de 6% ao ano mais a
variação de um índice de preços
pré-definido-, com a queda dos
juros, não será um padrão compatível no médio prazo e precisará ser revista para baixo. "A taxa
de 6% talvez seja excessiva", diz o
secretário.
A Folha entrou em contato com
a assessoria de imprensa da
Abrapp (Associação Brasileira
das Entidades Fechadas de Previdência Complementar) para comentar os dados da SPC, mas não
obteve resposta.
Adacir afirma que a secretaria já
conta com um núcleo de estudos
econômicos para analisar novas
tendências de investimentos para
os fundos no médio e longo prazos. A criação desse grupo segue
uma nova política de reestruturação e reaparelhamento da SPC.
Mais fiscais
Na área de fiscalização, por
exemplo, havia 23 auditores no
início de 2003. Hoje, eles já somam 92 e devem chegar a 150 no
final deste ano. Mecanismos de
fiscalização indireta também estão sendo desenvolvidos pela
SPC, o que, segundo o secretário,
permite uma supervisão contínua
das entidades.
Para assegurar a saúde dos fundos, a intenção também é criar
normas de controle interno nos
próprios fundos a exemplo do
que já existe nas instituições financeiras. A secretaria já tem
pronta uma proposta de resolução para ser apresentada ao
CGPC (Conselho de Gestão da
Previdência Complementar) estabelecendo tais normas. O conselho define as regras para o funcionamento dos fundos.
"A idéia dessa resolução é estabelecer postulados e exigir das entidades mecanismos internos de
controle. Isso dará mais transparência, controle e efetividade",
disse Reis. A minuta será submetida a audiência pública antes de
ser encaminhada ao CGPC. Pela
proposta, os fundos terão prazos
diferenciados para se adaptar às
diferentes regras de controle interno.
Escolhido pelo ministro Luiz
Gushiken (Comunicação e Gestão Estratégica) para "zelar" pelos
fundos de pensão, Reis tem planos de transformar a secretaria
em uma superintendência.
"Estamos avançando nisso. É
preciso garantir uma maior estabilidade institucional para o sistema", afirma.
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