São Paulo, sábado, 21 de julho de 2001

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A BATALHA DE GÊNOVA

Jovem de 23 anos é atingido por tiros disparado por policial; ação deixa mais tensa reunião do G-8

Manifestação antiglobalização tem na Itália a primeira morte

Reuters
Policiais de choque marcham por cima de manifestante morto durante protesto em Gênova, cidade italiana que abriga encontro do G-8


LEONARDO CRUZ
ENVIADO ESPECIAL A GÊNOVA

O encontro de cúpula do Grupo dos 8 começou ontem em Gênova com sangue espalhado pelas ruas da cidade portuária do norte da Itália. O ativista italiano Carlo Giuliani, 23, morreu após ser baleado em confronto com policiais. Até o início da noite de ontem, havia registro de 186 feridos -114 manifestantes, 60 policiais, 10 jornalistas e 2 médicos voluntários. Mais de 70 pessoas foram detidas.
Havia ainda a informação, não-confirmada às 20h de ontem (hora de Brasília), de que outro manifestante também teria sido morto.
O Ministério do Interior da Itália divulgou nota na qual assume a responsabilidade pela morte de Giuliani e diz que os policiais reagiram a tiros a uma ação violenta do manifestante.
Foi a primeira vez que um protesto contra o capitalismo terminou em morte desde as primeiras grandes manifestações desse tipo, ocorridas no encontro da OMC, em Seattle (EUA), em 99.
Em vários pontos da cidade, carros foram incendiados, e estabelecimentos comerciais, apedrejados. Os principais alvos de ativistas foram agências bancárias, mas concessionárias de veículos e agências de turismo também foram destruídas.
O auge da violência ocorreu por volta das 16h, quando 3.000 manifestantes de preto, com símbolos do movimento anarquista, entraram em confronto com a polícia, próximo à estação de trem Brignole, no bairro Massari.
Foi nessa área, na praça Alimonda, que o ativista foi morto. Segundo relatos de testemunhas, tiros foram disparados de um furgão dos "carabinieri", a polícia militar italiana, depois de 30 manifestantes atacarem o veículo com paus e pedras.
O local fica a mais de um quilômetro da zona vermelha, a área fechada para o encontro dos líderes das sete nações mais ricas do mundo e da Rússia.
Para evitar a ação de grupos que haviam prometido derrubar as barreiras da zona vermelha, as forças de segurança se anteciparam e bloquearam as principais vias de acesso à área que já estava fechada. Criou-se então um cerco dentro do outro.
A ação policial fez aumentar ainda mais a tensão já existente na cidade, e milhares de ativistas que planejavam ações pacíficas não puderam se manifestar. "Estamos isolados aqui e tivemos de cancelar nossa manifestação", disse Rafael Freire Neto, secretário nacional da CUT, que, ao lado de representantes do MST, tomaria parte do protesto da organização internacional de pequenos agricultores Via Campesina.
Ainda assim, pela manhã, cerca de 300 manifestantes conseguiram se aproximar de um dos limites da zona vermelha, na praça Corvetto, e a menos de 300 metros do palácio em que os líderes internacionais almoçavam. Foram recebidos com jatos de água.
A violência vista em Gênova ontem foi condenada por representantes do Fórum Social Mundial, o evento de debates que acontece paralelamente à cúpula do G-8. "A polícia italiana deu uma imperdoável demonstração de fascismo", disse Vittorio Agnoletto, coordenador do fórum social.
Para o ativista francês José Bové, o que ocorreu "foi uma provocação da polícia para desacreditar o movimento social".
Os líderes do G-8 também comentaram as cenas de violência. O primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, se reuniu com os chefes de polícia, após ter sido avisado da morte do ativista. "Lamento o que houve. Vai de encontro aos nossos objetivos e aos objetivos do G-8, que tem se preocupado em combater a pobreza", disse Berlusconi em nota oficial.
O premiê britânico, Tony Blair, disse que preferia que o encontro fosse realizado em "um local normal", onde os líderes pudessem "ter contato com as pessoas".
O premiê canadense, Jean Chretien, disse que está mantida a próxima reunião do G-8, que acontecerá em seu país no ano que vem. O presidente dos EUA, George W. Bush, e o chanceler alemão, Gerhard Schröder, definiram a morte como "trágica".



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