São Paulo, domingo, 21 de julho de 2002

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Governo "deixou passar" resultados falsos

DA REPORTAGEM LOCAL

No trecho a seguir, Robert Brenner comenta a segunda fase do esvaziamento da bolha no mercado de ações e o superfaturamento de lucros nos EUA.

Folha - A bolha do mercado de ações realmente estourou?
Brenner -
Na realidade, os preços das ações ainda estão sobrevalorizados, e devem cair ainda mais. Em primeiro lugar, porque, paradoxalmente, as relações entre preços e lucros não estão, na verdade, tão abaixo do que estiveram em 2000, no auge da bolha.
Os escândalos contábeis levam as Bolsas ainda mais para baixo. Esses escândalos estão ajudando a mostrar o quão grande tem sido a crise dos lucros corporativos e, portanto, o quão artificial foi a bolha das ações nos anos 90. Os executivos das empresas estiveram, e estão, sob forte pressão para superestimar, de forma fraudulenta, os ganhos, porque os lucros que poderiam justificar os preços sobrevalorizados de suas empresas não existiam.
Durante o auge do boom, representantes do governo não tinham nenhum interesse em expor as duvidosas práticas contábeis das empresas, porque eles haviam entendido muito bem que a alta das Bolsas e seu "efeito riqueza" eram a chave para o crescimento da economia. Mas, com o crash e a recessão, eles estão agora sob pressão para restaurar a ordem. Mas muitas companhias estão sendo forçadas a admitir que seus ganhos eram menores que os anunciados, o que derruba ainda mais os preços das ações.

Folha - Mas ninguém sabia do "superfaturamento" dos lucros?
Brenner -
De acordo com um estudo do site SmartStockInvestor.com, durante os três primeiros trimestres de 2001 as empresas listadas na Nasdaq 100 anunciaram lucros "pró-forma"-isto é, lucros calculados de acordo com seus frouxos métodos de contabilidade- no valor de US$ 19 bilhões. Mas, quando essas mesmas 100 empresas tiveram de informar seus lucros para o mesmo período à SEC, onde elas foram obrigadas a usar as rigorosas regras do GAAP (Generally Accepted Accounting Practices), elas tiveram de admitir perdas de US$ 82 bilhões.


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