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Deflação justifica corte na Selic, dizem empresários
DA REPORTAGEM LOCAL
Os sinais de deflação que se
apresentam desde maio deste ano
já deveriam ter feito o Banco Central diminuir o patamar da taxa de
juros. A avaliação parte de representantes da indústria e do comércio. Eles se declararam frustrados com a decisão de manter a
Selic em 19,75% ao ano.
"As expectativas para o IPCA
(Índice de Preços ao Consumidor
Amplo) atingiram 5,67% no relatório divulgado nesta semana pelo Banco Central. Então o que o
Copom quer mais?", disse, em nota, Boris Tabacof, diretor do departamento de economia do
Ciesp (Centro das Indústrias do
Estado de São Paulo).
A argumentação do setor industrial é que há um nítido descompasso entre a situação da economia brasileira e a avaliação do
Banco Central. Para o presidente
da Abinee (Associação da Indústria Elétrica e Eletrônica), Ruy de
Salles Cunha, a decisão do BC de
manter os juros em 19,75%, é
frustrante. "A taxa de inflação
vem caindo há mais de um mês
em todo o país e a Selic, utilizada
como forma de conter seu crescimento, não acompanha, mais
uma vez, esse movimento de retração", avaliou.
Em suas análises, os industriais
afirmam que o fato de o BC não
ter cortado os juros só reforça o
clima de desânimo do setor. De
acordo com a Sondagem Trimestral da Indústria de Transformação divulgada pela FGV neste
mês, as consecutivas altas da taxa
de juros -ao todo foram nove altas seguidas- ajudaram a provocar um desaquecimento da demanda por bens industriais. O resultado dessa situação é um volume elevado de estoques.
Para Paulo Skaf, presidente da
Fiesp (Federação das Indústrias
do Estado de São Paulo), o atual
cenário também pode ter desdobramentos graves. "Manter a taxa
no nível atual afugenta novos investimentos e coloca o Brasil numa situação de risco desnecessária, já que todos os índices de inflação, tanto no atacado como no
varejo, apresentaram significativas quedas", disse, em nota, Skaf.
A Fecomercio-SP (Federação
do Comércio do Estado de São
Paulo) também emitiu ontem
uma nota criticando a posição tomada pelo comitê. A federação
entende que "o cenário econômico atual tem emitido sinais claros
que permitiriam, com folga, a
queda da taxa básica de juro no
curto prazo". Segundo o presidente da entidade, Abram Szajman, "o patamar atual da Selic
não condiz com a realidade do
país, especialmente no que tange
às taxas praticadas em países
emergentes com economias comparáveis à brasileira".
Fez parte do coro também a Fecomércio-RJ. "O momento econômico, com a inflação em queda
e a valorização do real, já permitiria uma queda na taxa básica. A
média dos núcleos do IPCA para
o ano de 2005 está abaixo de 5% e
a projeção de inflação para 2006 é
inferior à meta estipulada para o
ano. Uma redução na Selic daria
combustível para os negócios e
para o crescimento sustentado",
disse o presidente Orlando Diniz.
Reflexos no varejo
A Associação Comercial de São
Paulo fez um alerta importante. A
entidade lembrou que as indústrias começam a se preparar para
as compras do último trimestre e
a decisão dos juros tem impacto
nessa variável. "Não há sinais de
excesso de demanda na economia
e é preciso considerar o alto custo
para as finanças públicas resultante dessa medida. Esperamos
agora a ata da reunião para conhecer as razões que levaram o
Conselho a manter inalterada a
taxa de juros", afirmou Guilherme Afif Domingos, presidente da
associação.
A Abiesv (Associação Brasileira
da Indústria de Equipamentos e
Serviços para o Varejo) também
traça um quadro pouco alentador
para o comércio neste ano. "Sobram poucas perspectivas para os
empresários que fornecem equipamentos para o varejo, que já começam a cortar investimentos e
pensam em promover demissões", afirmou o presidente da
Abiesv, Marcos Andrade.
Redução à vista
Para tranqüilizar o ânimo de industriais e varejistas, o presidente
do Corecon (Conselho Regional
de Economia) de São Paulo, Heron do Carmo, afirmou que, se o
comportamento do IPCA for positivo em julho, é provável que os
cortes nos juros comecem ainda
em agosto. Caso contrário, avaliou, o cenário é de manutenção
dos juros até setembro. A partir
daí, disse ele, faria sentido fazer
cortes de 0,5 ponto percentual nas
reuniões subseqüentes.
Diferentemente do tom pessimista dos representantes do setor
produtivo, Carmo afirma que
mesmo a conjunção de crise política e juros altos não estragará os
resultados da economia em 2005.
"A expansão deverá ser algo entre
3% e 3,2%".
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