São Paulo, quinta-feira, 21 de julho de 2005

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Deflação justifica corte na Selic, dizem empresários

DA REPORTAGEM LOCAL

Os sinais de deflação que se apresentam desde maio deste ano já deveriam ter feito o Banco Central diminuir o patamar da taxa de juros. A avaliação parte de representantes da indústria e do comércio. Eles se declararam frustrados com a decisão de manter a Selic em 19,75% ao ano.
"As expectativas para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) atingiram 5,67% no relatório divulgado nesta semana pelo Banco Central. Então o que o Copom quer mais?", disse, em nota, Boris Tabacof, diretor do departamento de economia do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo).
A argumentação do setor industrial é que há um nítido descompasso entre a situação da economia brasileira e a avaliação do Banco Central. Para o presidente da Abinee (Associação da Indústria Elétrica e Eletrônica), Ruy de Salles Cunha, a decisão do BC de manter os juros em 19,75%, é frustrante. "A taxa de inflação vem caindo há mais de um mês em todo o país e a Selic, utilizada como forma de conter seu crescimento, não acompanha, mais uma vez, esse movimento de retração", avaliou.
Em suas análises, os industriais afirmam que o fato de o BC não ter cortado os juros só reforça o clima de desânimo do setor. De acordo com a Sondagem Trimestral da Indústria de Transformação divulgada pela FGV neste mês, as consecutivas altas da taxa de juros -ao todo foram nove altas seguidas- ajudaram a provocar um desaquecimento da demanda por bens industriais. O resultado dessa situação é um volume elevado de estoques.
Para Paulo Skaf, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), o atual cenário também pode ter desdobramentos graves. "Manter a taxa no nível atual afugenta novos investimentos e coloca o Brasil numa situação de risco desnecessária, já que todos os índices de inflação, tanto no atacado como no varejo, apresentaram significativas quedas", disse, em nota, Skaf.
A Fecomercio-SP (Federação do Comércio do Estado de São Paulo) também emitiu ontem uma nota criticando a posição tomada pelo comitê. A federação entende que "o cenário econômico atual tem emitido sinais claros que permitiriam, com folga, a queda da taxa básica de juro no curto prazo". Segundo o presidente da entidade, Abram Szajman, "o patamar atual da Selic não condiz com a realidade do país, especialmente no que tange às taxas praticadas em países emergentes com economias comparáveis à brasileira".
Fez parte do coro também a Fecomércio-RJ. "O momento econômico, com a inflação em queda e a valorização do real, já permitiria uma queda na taxa básica. A média dos núcleos do IPCA para o ano de 2005 está abaixo de 5% e a projeção de inflação para 2006 é inferior à meta estipulada para o ano. Uma redução na Selic daria combustível para os negócios e para o crescimento sustentado", disse o presidente Orlando Diniz.

Reflexos no varejo
A Associação Comercial de São Paulo fez um alerta importante. A entidade lembrou que as indústrias começam a se preparar para as compras do último trimestre e a decisão dos juros tem impacto nessa variável. "Não há sinais de excesso de demanda na economia e é preciso considerar o alto custo para as finanças públicas resultante dessa medida. Esperamos agora a ata da reunião para conhecer as razões que levaram o Conselho a manter inalterada a taxa de juros", afirmou Guilherme Afif Domingos, presidente da associação.
A Abiesv (Associação Brasileira da Indústria de Equipamentos e Serviços para o Varejo) também traça um quadro pouco alentador para o comércio neste ano. "Sobram poucas perspectivas para os empresários que fornecem equipamentos para o varejo, que já começam a cortar investimentos e pensam em promover demissões", afirmou o presidente da Abiesv, Marcos Andrade.

Redução à vista
Para tranqüilizar o ânimo de industriais e varejistas, o presidente do Corecon (Conselho Regional de Economia) de São Paulo, Heron do Carmo, afirmou que, se o comportamento do IPCA for positivo em julho, é provável que os cortes nos juros comecem ainda em agosto. Caso contrário, avaliou, o cenário é de manutenção dos juros até setembro. A partir daí, disse ele, faria sentido fazer cortes de 0,5 ponto percentual nas reuniões subseqüentes.
Diferentemente do tom pessimista dos representantes do setor produtivo, Carmo afirma que mesmo a conjunção de crise política e juros altos não estragará os resultados da economia em 2005. "A expansão deverá ser algo entre 3% e 3,2%".


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