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OPINIÃO ECONÔMICA
Câmbio valorizado cobra seu preço
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
Os economistas são extraordinários e profundos filósofos. Um deles, Prêmio Nobel,
teve há muitos anos uma inspiração e declarou: "There is no free
lunch" (Não há almoço grátis). Foi
uma comoção. A frase é até hoje
muito citada.
O leitor dirá: é uma platitude.
Não há dúvida. Mas é uma platitude que o governo brasileiro, o
Banco Central e os economistas e
jornalistas chapa-branca às vezes
esquecem (ou fingem esquecer).
A valorização do real, por exemplo, ajudou a diminuir a inflação
nos últimos meses. No regime de
câmbio flutuante, a variação do
valor externo da moeda nacional
é um dos mecanismos de transmissão da política monetária. A
queda do dólar deprimiu os preços
de bens e serviços comercializáveis
internacionalmente e, via efeitos
sobre os IGPs, conteve também as
tarifas de serviços públicos, como
energia elétrica e telefonia.
Ótimo. Agora, a conta salgada:
deterioração das contas externas e
a redução do nível da atividade
econômica. As exportações de vários setores industriais (calçados,
têxteis, eletroeletrônicos) acusam
o impacto da perda de competitividade decorrente da valorização.
Nesses setores, os volumes vendidos no exterior estão em queda e
contratos de exportação estão sendo cancelados.
Ao mesmo tempo, favorecidas
pela valorização do real, as importações de calçados e de outros produtos vêm aumentando rapidamente, o que leva o governo a examinar a possibilidade de elevar tarifas alfandegárias para os níveis
consolidados na OMC e estabelecer a exigência de pagamento à
vista para diversas importações de
bens de consumo. De uma maneira geral, pode-se presumir que a
diminuição de rentabilidade decorrente do real forte esteja desestimulando os investimentos nos
setores que exportam e também
naqueles que concorrem com produtos estrangeiros no mercado doméstico.
Em 2005, os dados agregados de
exportação de bens (valor e
"quantum" exportados) mostram
perda de dinamismo. A taxa de
crescimento das exportações totais
diminuiu de 33% em 2004 para
25% no acumulado do ano até a
terceira semana deste mês. E deve
diminuir mais até o final de 2005.
A Funcex, por exemplo, estima
crescimento de 17% no valor total
exportado neste ano em relação a
2004. No caso dos manufaturados,
mais sensíveis à taxa de câmbio, já
se nota uma desaceleração acentuada nos números referentes a
março, abril e maio (ver Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior, "Boletim de Comércio Exterior", junho de 2005).
Os resultados só não são piores
porque os ventos externos continuam ajudando: a economia
mundial cresce em ritmo razoável
e, em conseqüência, a demanda
externa e os preços de exportação
ainda são bastante favoráveis para o Brasil. Além disso, a desaceleração do investimento e do consumo internos, provocada em grande medida pela política de juros
do Banco Central, acaba se traduzindo em desaceleração da demanda por importações e contribuindo assim para que, apesar da
valorização do real, não ocorra
uma deterioração mais rápida da
balança comercial.
Não é só na balança comercial
que estão aparecendo os efeitos da
valorização cambial. No período
janeiro-maio deste ano, as despesas com viagens internacionais
aumentaram 61% em comparação com igual período do ano passado. Na mesma comparação, as
remessas brutas de lucros e dividendos ao exterior subiram 52%.
O real forte ajuda a explicar esses
resultados, pois barateia o turismo
externo e aumenta o equivalente
em dólares dos lucros gerados em
reais por empresas estrangeiras.
Na raiz da valorização do real,
está o escandaloso diferencial de
juros entre o Brasil e o resto do
mundo. Em junho, a taxa de curto
prazo do Brasil alcançou 14% em
termos reais. A média de 39 outros
países foi apenas 1%. Nenhum
banco central pratica juros reais
remotamente comparáveis aos
nossos (GRC Visão, "Ranking Juros Reais", junho de 2005).
Por isso, repito: tem que aparecer, urgente, algum Roberto Jefferson, que, empostando a voz de barítono de ópera-bufa, diga à diretoria do Banco Central em alto e
bom som: "Saiam daí, senhores,
rápido!".
Paulo Nogueira Batista Jr., 50, economista e professor da FGV-EAESP, escreve às quintas-feiras nesta coluna. É autor
do livro "O Brasil e a Economia Internacional: Recuperação e Defesa da Autonomia Nacional" (Campus/Elsevier, 2005).
E-mail - pnbjr@attglobal.net
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