São Paulo, terça-feira, 21 de julho de 2009

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FMI vai injetar US$ 250 bi nas reservas de países-membros

Dinheiro será liberado na forma de SDR, a "moeda" do Fundo; Brasil terá US$ 3 bi

Proposta será votada em agosto; países ficarão livres para manter os valores no FMI ou para convertê-los em dólares, euros, ienes ou libras

FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

O FMI (Fundo Monetário Internacional) votará em agosto proposta para injetar US$ 250 bilhões adicionais nas reservas internacionais de seus 186 países-membros. O valor destinado ao Brasil é de cerca de US$ 3 bilhões.
O dinheiro sairá do chamado SDR (direito especial de saque, na sigla em inglês) e será distribuído proporcionalmente levando em conta a cota que cada país tem no FMI. Há 30 anos esse dinheiro está "parado" nos cofres do Fundo.
O SDR é a "moeda" que representa os valores com que o FMI trabalha. Ele foi criado em 1969 para sustentar o sistema de câmbio fixo acordado em Bretton Woods na década de 40 em substituição ao chamado "padrão ouro-dólar".
Poucos anos depois, quando o sistema de câmbio flutuante passou a predominar, o SDR tornou-se representativo somente das reservas proporcionais de cada país no Fundo.
Na prática, portanto, o FMI estará recolocando esse dinheiro à disposição dos países. O valor do SDR é calculado com base em uma cesta de moedas (dólares, euros, ienes e libras). Um SDR equivale a US$ 1,55.
China, Rússia e Índia já se manifestaram favoráveis à ampliação do papel do FMI e dos SDRs como alternativa para diversificar a aplicação de suas reservas, hoje largamente denominadas em dólares.
A decisão de transferir os US$ 250 bilhões é inédita e requer a aprovação de 85% dos votos dos países-membros. Mas é dada como certa pois foi acordada entre os representantes do G20 (representantes das maiores economias do mundo) em abril como forma de ampliar a liquidez na crise global.
Os países emergentes e em desenvolvimento devem receber cerca de US$ 100 bilhões do total. A medida também abre a possibilidade para que os países usem o dinheiro em programas de investimentos ou para ajudar vizinhos em dificuldade.
"É uma resposta excepcional ao que percebemos como uma crise excepcional", disse em teleconferência ontem Isabelle Mateos y Lago, do departamento de política e análise do FMI.
Como maior sócio do FMI, os EUA terão direito a US$ 42,6 bilhões. A China, a US$ 9 bilhões; a Rússia, a US$ 6,6 bilhões; e a Índia, a US$ 4,5 bilhões. Os países ficarão livres para manter os valores no FMI e em SDRs, se quiserem, ou para convertê-los em dólares, euros, ienes ou libras.
Embora os US$ 250 bilhões representem cerca de 3% das reservas internacionais, Mateos y Lago sugeriu que a decisão "é um entre os vários passos necessários" na direção de ampliar o papel do FMI na gestão de reservas internacionais por meio dos SDRs.
Desde a repentina piora da economia global, com a queda do Lehman Brothers, em 15 de setembro de 2008, o FMI vem tentando recuperar um papel central que havia ficado desgastado nos últimos anos.
A partir da quebra do Lehman, o Fundo já aprovou programas de socorro a 18 países, em um total de US$ 151,4 bilhões, e vem tomando decisões em conjunto com seus principais membros para ampliar o volume de seus recursos.
Entre elas, deverá emitir um novo tipo de título que países poderão comprar para reforçar o caixa do Fundo ao mesmo tempo em que ficarão livres para contabilizar os valores como reserva internacional líquida.
O Fundo planeja ainda reformar o sistema de cotas para dar mais voz aos emergentes e aprovou linhas de credito às quais os países podem ter acesso sem as tradicionais condicionalidades de seus programas.


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