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Presidente do Itaú acredita que
"bancos vão ganhar o que puderem"
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
O presidente do Banco Itaú, Roberto Setubal, 48, acha que, ao reduzir em 2,5 pontos percentuais a
taxa básica de juros, o Banco Central não foi tão conservador como
tem sido até agora, neste ano. Para ele, essa decisão "deverá levar a
economia do país para um nível
mais elevado". Setubal não quis
fazer previsões sobre influência
da queda dos juros sobre o resultado dos bancos. "Os bancos vão
ganhar o que puderem ganhar",
afirmou. "O que os bancos vão
ganhar é uma incógnita muito
grande".
Folha - O que o sr. achou da decisão do Copom?
Roberto Setubal - Eu acho correta. A tendência já está definida. As
taxas de juros estão caindo e vão
continuar caindo. Espero chegar
no final do ano com taxas abaixo
de 20%. A trajetória não mudou, a
decisão de ontem do Banco Central apenas foi antecipada em relação ao que o mercado esperava.
O BC agiu corretamente. Havia
espaço para essa queda dos juros,
e, agora, o Banco Central não foi
tão conservador. Nós devemos
chegar no final do ano com juros
de cerca de 19%, o que é muito positivo e deverá levar a economia
do país para um nível mais elevado de crescimento.
Folha - O sr. acha que o BC abriu
mão da política gradualista?
Setubal - Não, eu não vejo dessa
forma. O BC aproveitou um espaço que foi criado. O gradualismo
continua e, como existe espaço
para novas quedas de juros, essa
tendência deverá se concretizar
ao longo dos próximos meses.
Houve muita ansiedade, e ainda
continua havendo, em torno das
reuniões do Copom. A questão
não é saber os juros do mês que
vem, mas sim as condições para
os juros do ano que vem. A tendência para o ano que vem é de
um juro médio de 16% a 17% ao
ano [taxa Selic]. O ano deve começar com juro de 19% a 20% e
terminar em 15%. Isso, se não
houver um novo choque externo.
Esses níveis de juros são compatíveis com a meta de inflação do
ano que vem, de 5,5%.
Folha - Como os bancos vão reagir à decisão do Copom?
Setubal -O mercado vai continuar reduzindo os juros para o
consumidor. As taxas de juros de
mais longo prazo, como as cobradas nos financiamentos de automóveis, tenderão a cair menos do
que as de mais curto prazo. Os juros no mercado futuro já mostram essa queda. Há poucos meses, os juros para 2004 estavam
próximos a 30%, e hoje estão pouco acima de 20%.
Folha - Os bancos vão continuar
tão lucrativos?
Setubal - Os bancos vão ganhar
o que puderem ganhar. O que os
bancos vão ganhar é uma incógnita muito grande. O resultado do
banco é uma equação muito mais
complexa do que simplesmente
as taxas de juros. Os bancos vivem
do "spread" [a diferença entre os
juros pagos pelos bancos para
captar dinheiro no mercado e a
taxa cobrada dos clientes] e não
dos juros. Quando cai a Selic, os
juros dos depósitos [as aplicações
dos clientes] nos bancos também
caem. Como os bancos acabam
pagando menos pelos depósitos,
essa redução também é repassada
para os empréstimos. O banco é
um intermediário, como os supermercados. O supermercado
compra o arroz num certo preço e
vende num outro preço, com uma
margem. Se o preço do arroz cai, o
preço cobrado pelo supermercado também tende a cair numa outra ponta. Quando o arroz sobre,
o preço do arroz cobrado pelo supermercado também sobe.
Folha -Com juros mais baixos, a
tendência não é de queda dos
"spreads"?
Setubal - É verdade. Na medida
que os juros estão mais elevados,
os "spreads" tendem a aumentar
porque o risco dos empréstimos
aumenta. Quando os juros vão
caindo, os "spreads" tendem a
cair um pouco, em razão da redução desse risco. A redução do risco também vem com uma tendência de redução da inadimplência. Há uma tendência de reduzir o "spread". Portanto o consumidor acaba tendo um financiamento mais em conta.
Folha - O processo de redução de
juros pode ser mais acelerado?
Setubal - O Brasil tem uma lição
de casa grande na área federal. Esse esforço fiscal tem de ser mantido para poder reduzir ainda mais
as taxas de juros daqui para a
frente.
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