São Paulo, quinta-feira, 21 de agosto de 2008

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Brasil não é da Petrobras, afirma Lula

Em público, presidente diz que criação de nova estatal não está decidida, embora a tenha confirmado a interlocutores

"Todo mundo que é muito grande e importante, às vezes, esnoba um pouco", afirma o presidente falando sobre a Petrobras

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO GONÇALO DO AMARANTE (CE)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, durante visita ao porto de Pecém (CE), que ainda não há decisão tomada sobre a criação de uma nova estatal para cuidar das reservas de petróleo ainda não leiloadas da camada do pré-sal.
"Não existe nova estatal", afirmou. "O que existe, na verdade, é uma discussão, por um conselho interministerial [sobre] o que nós vamos fazer a partir do pré-sal", declarou.
Apesar da negativa pública, o presidente vem dizendo nos bastidores, como revelou a Folha ontem, que já se decidiu pela criação da nova estatal. A negativa pública, segundo a Folha apurou, tem o objetivo de evitar especulações no mercado financeiro. Reservadamente, o próprio Lula admite que falou demais sobre o assunto com aliados políticos anteontem.
Nessas conversas, o presidente chegou a dar detalhes de estimativas preliminares da ANP (Agência Nacional do Petróleo) sobre a extensão dos campos. Para criar a nova estatal, insiste sempre no argumento de que só cerca de 38% do capital da Petrobras está nas mãos do governo federal.
No discurso de ontem, Lula mostrou preocupação com o tamanho e a importância crescente da Petrobras no governo, o que o teria levado a discutir a criação da nova estatal.
"A Petrobras, aos poucos, vai se transformando mais do que numa empresa de petróleo", afirmou. "E todo mundo que é muito grande e importante, às vezes, esnoba um pouco."
A Petrobras, prosseguiu o presidente, "não gostava muito de gás, o negócio dela era petróleo". "Ela não gostava de álcool, não gostava de biodiesel. Aos poucos, e com muito cuidado, nós vamos discutindo políticas com os companheiros e vamos mostrando que não é o Brasil que é da Petrobras, a Petrobras é que é do Brasil", disse.
Mais tarde, em entrevista ao lado do presidente da estatal, José Sergio Gabrielli, Lula voltou ao tema. "A Petrobras é tão grande, tem tanto dinheiro, que de vez em quando eu digo ao José Sergio Gabrielli que a gente vai eleger o presidente da Petrobras e ele indica o presidente da República, ao invés de eu indicar o presidente da Petrobras." Gabrielli riu.
Sobre as propostas da comissão interministerial, Lula disse que deverão ser apresentadas em 19 de setembro. A partir daí, o governo abrirá debate "para saber que destino a gente vai dar a essa extraordinária performance do petróleo".
"O que virá dessas propostas eu não sei", disse ele. "Quando vierem, eu pretendo fazer com que a sociedade tome conhecimento e debata, porque, afinal de contas, eu tenho dois anos e quatro meses de mandato, e a Petrobras e o petróleo, se Deus quiser, têm muitos e muitos anos de existência", declarou.


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