|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MEA-CULPA
País autoritário pode ajudar mais pobres que democracia, diz banco
Bird faz autocrítica sobre
privatizações e elogia Cuba
ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Banco Mundial (Bird), defensor do livre mercado e das privatizações na última década, surpreende em seu mais novo relatório e cita Cuba como um caso de
sucesso em políticas de saúde e
educação para famílias pobres.
É a primeira vez que a ilha de Fidel Castro aparece num dos principais documentos do banco, o
"World Development Report"
(Relatório Mundial de Desenvolvimento), conhecido pela sigla
WDR e publicado anualmente.
"Cuba tem um dos melhores indicadores sociais na América Latina, com renda muito mais baixa
que seus pares, como Chile e Costa Rica", diz a abertura do relatório deste ano, intitulado "Making
Services Work for Poor People"
(Fazendo com que os Serviços
Atendam as Pessoas Pobres).
O documento surpreende ao
afirmar que Estados autoritários
podem ter mais sucesso nas políticas públicas voltadas para os
mais pobres do que democracias.
"Assim como democracias em
pleno funcionamento não garantem que os pobres se beneficiarão
dos serviços públicos, alguns Estados de partido único conseguem bons resultados em saúde e
educação", avalia o Bird.
A tese principal diz que os gastos do Estado em serviços públicos favorecem mais os ricos.
O documento afirma que na
maioria dos países os investimentos em saúde e educação atendem
os 20% mais ricos mais que os
20% mais pobres. No Brasil, só o
gasto em educação primária atende melhor os 20% mais pobres.
Os investimentos totais em educação (inclui universidades e segundo grau) e em saúde básica
beneficiam preferencialmente as
classes mais altas. Na educação
universitária, diz o relatório, os
40% mais pobres não recebem
benefício dos gastos públicos.
Ao contrário de em estudos anteriores, o mercado deixa de ser a
panacéia para os problemas de
crescimento e pobreza de um
país, e o Estado ganha relevância.
No WDR de 2000/2001, a sugestão era fazer os mercados funcionarem para os mais pobres.
Uma das consequências do novo enfoque é uma cautela maior
com os processos de privatização.
Outra mudança é na relação entre crescimento e diminuição da
pobreza. Os WDRs anteriores limitavam-se a discutir estratégias
para acelerar o crescimento econômico. "Desenvolvimento econômico e crescimento eram quase sinônimos", disse a economista
sênior do banco, Agnes Soucat.
No novo texto, a preocupação é
proteger os mais pobres mesmo
sem progresso da economia.
Em tempo: o banco afirma que
o reconhecimento dos avanços
obtidos por Cuba e China não significa que governos autoritários
sejam recomendáveis.
Texto Anterior: País se prepara para 45 tipos de ataque Próximo Texto: Crescimento não diminui a pobreza no Brasil Índice
|