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EMPRÉSTIMO
Para economistas, expansão da prática sem estudo mais profundo do tomador compromete sistema; Febraban discorda
Consignado ameaça "estrangular" a renda
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
De cada dez pessoas, quatro utilizam o crédito consignado, com
desconto em folha de pagamento,
para fazer compras ou viajar. Entre os brasileiros que aderiram a
essa modalidade de empréstimo,
20% já tinham pendências com
outra forma de financiamento
quando recorreram ao sistema de
desconto no salário ou benefício.
Por conta dessa situação, há
economistas que temem um efeito negativo do consignado. Ele
ocorreria pelo "estrangulamento"
da renda -fruto dos aumentos
recordes da taxa de comprometimento do salário do brasileiro
com débitos em geral-, que leva
à perda da capacidade de o consumidor arcar com gastos fixos, como água e luz.
Como o desconto do crédito
consignado acontece diretamente
no salário, não há como fugir dele.
A questão foi debatida ontem no
Congresso de Cartões e Crédito
ao Consumidor, em São Paulo. Os
números acima citados são de
pesquisas recentes do Ibope e fazem parte da discussão.
"O que acontece é que o empregado toma recursos, que correspondem a um percentual elevado
de sua renda [em grandes bancos,
até 30% do salário pode ser comprometido com o consignado].
Nisso, outras despesas, como luz e
mensalidade escolar, podem ser
afetadas porque o rendimento
não dá saltos", diz Marcel Solimeo, economista da ACSP (Associação Comercial de São Paulo).
Toda vez que um empregado
solicita a um banco um empréstimo atrelado a sua folha de pagamento, não é verificado se ele tem
débitos anteriores. Apenas é analisado o seu rendimento mensal.
O que poderia dar um certo "alívio" ao consumidor é o fato de os
juros serem menores e de a dívida
poder ser paga em prazos longos.
Atualmente, eles variam de 6 a 36
meses. No entanto, pesquisa da
ACSP mostra que, quanto maior
o plano para quitar a pendência,
maior o risco do calote.
A Febraban, que representa os
bancos, contesta os riscos negativos do consignado. "Temos uma
série de dados em nossos bancos
de informações e não verificamos
algo nesse sentido", diz Luis Roberto Troster, economista-chefe
da federação.
A Folha analisou dados de calote de consumidores nos resultados financeiros de empresas de
gás, energia e telefonia neste ano
-após o início da prática do crédito consignado. Houve expansão
da provisão para devedores duvidosos nessas companhias. Não é
possível dizer, porém, que isso
ocorreu necessariamente por
causa do consignado. Na Eletropaulo, existiam R$ 123 milhões,
em junho de 2005, classificados
como créditos vencidos e não pagos em até 90 dias. Em junho de
2004, eram R$ 94,7 milhões.
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