São Paulo, quarta-feira, 21 de setembro de 2005

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EMPRÉSTIMO

Para economistas, expansão da prática sem estudo mais profundo do tomador compromete sistema; Febraban discorda

Consignado ameaça "estrangular" a renda

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

De cada dez pessoas, quatro utilizam o crédito consignado, com desconto em folha de pagamento, para fazer compras ou viajar. Entre os brasileiros que aderiram a essa modalidade de empréstimo, 20% já tinham pendências com outra forma de financiamento quando recorreram ao sistema de desconto no salário ou benefício.
Por conta dessa situação, há economistas que temem um efeito negativo do consignado. Ele ocorreria pelo "estrangulamento" da renda -fruto dos aumentos recordes da taxa de comprometimento do salário do brasileiro com débitos em geral-, que leva à perda da capacidade de o consumidor arcar com gastos fixos, como água e luz.
Como o desconto do crédito consignado acontece diretamente no salário, não há como fugir dele. A questão foi debatida ontem no Congresso de Cartões e Crédito ao Consumidor, em São Paulo. Os números acima citados são de pesquisas recentes do Ibope e fazem parte da discussão.
"O que acontece é que o empregado toma recursos, que correspondem a um percentual elevado de sua renda [em grandes bancos, até 30% do salário pode ser comprometido com o consignado]. Nisso, outras despesas, como luz e mensalidade escolar, podem ser afetadas porque o rendimento não dá saltos", diz Marcel Solimeo, economista da ACSP (Associação Comercial de São Paulo).
Toda vez que um empregado solicita a um banco um empréstimo atrelado a sua folha de pagamento, não é verificado se ele tem débitos anteriores. Apenas é analisado o seu rendimento mensal. O que poderia dar um certo "alívio" ao consumidor é o fato de os juros serem menores e de a dívida poder ser paga em prazos longos. Atualmente, eles variam de 6 a 36 meses. No entanto, pesquisa da ACSP mostra que, quanto maior o plano para quitar a pendência, maior o risco do calote.
A Febraban, que representa os bancos, contesta os riscos negativos do consignado. "Temos uma série de dados em nossos bancos de informações e não verificamos algo nesse sentido", diz Luis Roberto Troster, economista-chefe da federação.
A Folha analisou dados de calote de consumidores nos resultados financeiros de empresas de gás, energia e telefonia neste ano -após o início da prática do crédito consignado. Houve expansão da provisão para devedores duvidosos nessas companhias. Não é possível dizer, porém, que isso ocorreu necessariamente por causa do consignado. Na Eletropaulo, existiam R$ 123 milhões, em junho de 2005, classificados como créditos vencidos e não pagos em até 90 dias. Em junho de 2004, eram R$ 94,7 milhões.


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