|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ENERGIA
Previsão de usineiros leva em conta atuais projetos de ampliação e procura mundial e interna crescente pelo produto
Brasil pode não atender demanda por álcool
DA REUTERS
O Brasil, maior produtor e exportador de açúcar e álcool, pode
não ter condições de atender à
crescente demanda por esses produtos nos próximos anos, mesmo
considerando os projetos de expansão hoje existentes, afirmou
ontem Antônio de Pádua Rodrigues, diretor técnico da Unica
(União da Agroindústria Canavieira de São Paulo).
A Unica projeta uma demanda
total de 560 milhões de toneladas
de cana em 2010/11. O mercado
interno de álcool chegaria a pelo
menos 22,1 bilhões de litros, e as
exportações, a 5,2 bilhões. No
açúcar, a demanda atingiria 11
milhões de toneladas, e as vendas
externas, 24 milhões de toneladas.
"Vai ser difícil chegar a isso porque não vai ter cana suficiente",
afirmou Pádua, durante apresentação na 5ª Conferência Internacional sobre Açúcar e Álcool, em
São Paulo.
Neste ano, o Brasil está produzindo, segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), 397,1 milhões de toneladas de
cana para uso industrial. A produção de açúcar está estimada em
27,2 milhões de toneladas, e a de
álcool em 17 bilhões de litros.
Pádua considerou, contudo,
que a potencial demanda pode induzir a novos projetos. "Tudo vai
depender dos preços."
Há 41 projetos de novas usinas
em execução no centro-sul, que
agregariam à atual produção da
região um total de 70 milhões de
toneladas de cana. Além disso, as
unidades hoje instaladas têm projetos de expansão, acrescentando
mais 35 milhões de toneladas.
Mesmo assim, considerando
uma manutenção no volume produzido do Nordeste (55 milhões
de toneladas) e a produção atual
no centro-sul, a Unica prevê que o
país teria condições de colher em
2010 cerca de 510 milhões de toneladas de cana, abaixo portanto da
demanda potencial.
No caso do álcool, a perspectiva
de crescimento no consumo se
baseia em fatores como a expansão do mercado de veículos flexíveis no Brasil, manutenção do
preço do petróleo num nível elevado e adoção do combustível em
outros países.
Atualmente, o centro-sul opera
perto da capacidade instalada de
moagem de cana, de 180 mil toneladas por dia. Mas esse cenário de
demanda aquecida tende a manter os preços sustentados nos próximos anos, garantindo boa rentabilidade às usinas e levando à
execução de novos investimentos,
admite Pádua.
"Tudo indica que terão de ser
complementados mais projetos",
disse Plínio Nastari, presidente da
consultoria Datagro, ressaltando
que isso deve ocorrer levando em
conta disponibilidade de área, de
recursos e perspectiva de preços.
"A própria competitividade do
etanol brasileiro fez com que a dimensão do mercado mudasse. Isso vai criar uma demanda latente
que vai manter os preços remuneradores", disse Nastari.
Segundo a Unica, uma usina para 2 milhões de toneladas de cana/safra demanda investimento
de US$ 140 milhões, sem considerar a terra.
O consultor diz ser possível
também a entrada de novos grupos estrangeiros no setor brasileiro tendo em vista a rentabilidade
da atividade no Brasil e a ausência
de cotas e de barreiras de licenciamento ou tecnológicas.
O Brasil tem hoje os menores
custos de produção de etanol
-cerca de US$ 26 por barril.
"Com petróleo acima de US$ 30
o barril, a competitividade do álcool brasileiro está confirmada",
disse Nastari.
As exportações de álcool do
Brasil devem alcançar o recorde
de 2,8 bilhões de litros em 2006,
previu ontem Plínio Nastari, presidente da consultoria Datagro.
Neste ano, o país deve embarcar
2,6 bilhões de litros, mesmo volume de 2004. Os embarques não
cresceram mais neste ano porque
a disponibilidade de cana é limitada, a demanda interna por álcool
está aquecida e os preços, remuneradores.
Texto Anterior: O vaivém das commodities Próximo Texto: Petrobras descumprirá meta de 2005 Índice
|