São Paulo, sexta-feira, 21 de setembro de 2007

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Euro atinge cotação recorde ante o dólar

Queda da moeda americana se acentua após corte do juro nos EUA e gera preocupações sobre efeitos na economia global

Dólar canadense é cotado ao mesmo valor do americano pela 1ª vez desde 1976; ouro também é afetado e sobe a patamares históricos

DA REDAÇÃO

Investidores em diferentes mercados voltaram a se desfazer de dólares ontem, o que levou o euro a atingir recorde em relação à moeda norte-americana. É um efeito direto da redução dos juros americanos na última terça-feira pelo Fed.
Juros mais baixos nos EUA representam menor remuneração para aplicações denominadas em dólar, como ações e títulos, o que diminui a demanda pela moeda americana e ajuda a explicar a desvalorização.
Nos principais mercados, como Frankfurt, Londres e Nova York, o euro superou de maneira inédita a barreira de US$ 1,40 -encerrou a US$ 1,4077 em Londres, com alta de 0,86%.
Já o dólar canadense chegou a ser negociado pelo mesmo valor que o americano pela primeira vez em três décadas. Moedas diversas como a libra esterlina, o iene japonês e o franco suíço também se valorizaram em relação ao dólar.
No Brasil, o dólar perdeu valor ante o real no início do dia, mas encerrou com alta de 0,64%, cotado a R$ 1,882.
A cotação do ouro também foi influenciada. O contrato para entrega em dezembro chegou a ser negociado ontem a US$ 746,50 na Bolsa Mercantil de Nova York, o maior valor em 27 anos. O dólar fraco, aliado ao corte dos juros pelo Fed (o banco central dos EUA), alimenta expectativas de inflação maior nos EUA, e a compra de ouro torna-se uma espécie de seguro ("hedge") para esse caso.
A desvalorização do dólar, moeda mais negociada no mundo, tem implicações em todas as economias. Afeta diretamente, por exemplo, as relações comerciais com os EUA, principal parceiro de muitas das economias mundiais, entre as quais a brasileira.
No caso do Brasil, a variação do câmbio interfere também, por exemplo, no valor das reservas internacionais em moeda estrangeira do país e no estoque da dívida pública.
O fenômeno também suscita dúvidas sobre a sustentabilidade do déficit em conta corrente da economia americana, uma vez que se torna mais difícil atrair dinheiro estrangeiro para financiar esse rombo.
"[A dificuldade para financiar o déficit] eleva a chance de um ajuste desordenado dos desequilíbrios globais", disse David Woo, do Barclays Capital.
Na semana passada, o presidente do Fed, Ben Bernanke, reiterou a preocupação. "O déficit em transações correntes não pode persistir indefinidamente porque a capacidade dos EUA de manter o serviço da dívida e a vontade dos investidores estrangeiros de manter ativos americanos nos portfólios são limitadas", disse.
Analistas em câmbio, porém, evitam classificar o atual processo de perda de valor do dólar como uma crise mais duradoura. A explicação mais freqüente é relacionada à redução no juro anunciada na terça, com o objetivo de reduzir os riscos de recessão nos EUA devido à crise no segmento imobiliário.
Na Europa, a valorização do euro causa debates calorosos, uma vez que torna menos competitivas as exportações dos países da zona do euro.
"Com o dólar em direção a patamares mais sensíveis, a política cambial deve retornar à agenda no último trimestre do ano", disse Simon Derrick, do Bank of New York Mellon.
E as perspectivas são que as tensões continuem. O pretendido plano do governo chinês de diversificar suas reservas, que superam US$ 1,3 trilhão e estão majoritariamente concentradas em dólar, pode afetar ainda mais as cotações.


Com o "New York Times" e o "Financial Times"


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