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São Paulo, terça-feira, 21 de outubro de 2003

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TENSÃO PRÉ-COPOM

Câmbio menos volátil e risco-país menor levam projeções de corte na Selic a até 1,5 ponto percentual

Indicador melhor faz analista ver juro menor

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

A melhora de importantes indicadores financeiros -como o recuo do câmbio e do risco-país- e o início de retomada da atividade econômica alimentam as apostas dos analistas em um corte entre 1 ponto e 1,5 ponto percentual na taxa básica de juros, a Selic. O Copom (Comitê de Política Monetária) divulga amanhã a nova taxa.
A consultoria Tendências projeta um crescimento de 4,7% da produção industrial de julho a setembro. O crescimento, segundo Juan Jensen, economista da empresa, está sendo puxado pelo setor de bens duráveis -especialmente automóveis, cujas vendas aumentaram 14% na primeira quinzena de outubro em relação a igual período de setembro.
"Uma inflação bem comportada, o aquecimento da produção de bens duráveis e o fato de o juro real ainda estar muito alto nos leva a projetar um corte de 1,5 ponto percentual na Selic nesta reunião do Copom", diz Jensen.
Na última reunião, em setembro, o Copom reduziu a taxa básica de juros em dois pontos percentuais. Cortes dessa proporção não deverão ocorrer mais, segundo os analistas. "O BC continuará conservador e os próximos cortes, até o final do ano, ficarão em 0,5 ponto percentual", afirma Jorge Simino, diretor da UAM (Unibanco Asset Management).
A UAM, como a maioria das instituições ouvidas pela Folha, espera uma redução de um ponto percentual na Selic. Também prevêem um corte de um ponto percentual os empresários Roberto Setubal, presidente do Banco Itaú, e José Carlos Pinheiro Neto, vice-presidente da GM no Brasil.

Segundo Simino, o BC vai calibrar os juros, daqui para a frente, de olho em 2004. "Entre março e abril, a economia estará respondendo à trajetória de corte das taxas iniciada em junho", diz.
A preocupação do BC, neste momento, é evitar uma explosão de demanda e mais inflação no segundo semestre de 2004.
Cristiano Oliveira, economista do banco Schahin, diz que a menor volatilidade do câmbio e a queda do risco-país, de 657 pontos em 17/9 para 607 pontos ontem, levaram o mercado a rever suas projeções de inflação para 2004, convergindo para a meta de 5,5% do governo. Na véspera da última reunião do Copom os analistas de mercado projetavam uma inflação para o ano que vem entre 6,1% e 6,2%. Agora, as projeções do mercado estão em 6%.
No curto prazo, a inflação não preocupa, embora o IPCA de setembro (0,78%) tenha mostrado aceleração em relação a agosto (0,34%). "As pressões vêm de preços dos alimentos -sazonais- e das tarifas -que não são sensíveis à taxa de juros", diz Jensen.
Por esse raciocínio, a retomada da economia não deverá pressionar a inflação pela via da demanda, pois ela está ocorrendo em setores com capacidade ociosa. "Há ociosidade na indústria, o desemprego é alto e a demanda ainda é baixa", diz Hugo Penteado, economista-chefe do ABN Amro Asset Management.
Para o coordenador do IPC (Índice de Preços ao Consumidor) da Fipe, Heron do Carmo, o BC deveria reduzir a taxa de juros em pelo menos dois pontos percentuais. "O Banco Central não precisa ter cautela, pois a taxa ainda está muito alta [hoje em 20% ao ano]", diz Heron.
O economista da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) diz que o ideal seria que a Selic fechasse o ano em, no máximo, 16,5% ao ano, o que significaria uma taxa real de juros (descontada a inflação) projetada em torno de 10% ao ano.


Colaboraram Alessandra Kianek e Adriana Mattos, da Reportagem Local


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