São Paulo, quinta-feira, 21 de outubro de 2004

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TENSÃO PÓS-COPOM

Parcela atrelada à taxa básica representa 53% do endividamento do governo

Juro elevará dívida em mais de R$ 2 bi

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O aumento de 0,5 ponto percentual na taxa básica -anunciado ontem após reunião do Copom- sobre a parcela da dívida pública corrigida pelos juros representa um crescimento do endividamento público de aproximadamente R$ 2 bilhões, uma vez mantida a Selic nesse nível pelo período de um ano.
Pelos dados da dívida pública de setembro, divulgados ontem, a parcela atrelada aos juros básicos estava em R$ 408,80 bilhões, com participação de 53% do total da dívida (considerando-se as operações de "swap" cambial realizadas pelo Banco Central no mercado futuro).
Como hoje a dívida que acompanha a Selic já está maior do que em setembro (entre outros fatores, pela própria incidência de juros, que subiram 0,25 ponto percentual no mês passado), na verdade o impacto da taxa básica é superior a R$ 2 bilhões.
A estimativa do impacto da alta de juros na economia é feita com base no perfil atual da dívida interna. A conta, de acordo com os técnicos do Tesouro Nacional, é realizada calculando-se 0,5% sobre a parcela da dívida interna corrigida pela Selic (R$ 408,8 bilhões).

Impacto X receita
Apesar de o aumento dos juros elevar o endividamento do governo federal, analistas consultados pela Folha, antes de o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) divulgar a alta de 0,5 ponto percentual na Selic, consideram que o impacto que a elevação dos juros terá sobre a dívida pública não será muito significativo e poderá ser compensado por outros fatores.
Para Julio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), a receita que o governo obteve neste ano com a cobrança de tributos é suficiente para compensar os maiores gastos com juros.
"O governo está nadando em dinheiro", afirma Almeida. Segundo dados da Receita Federal, a arrecadação de janeiro a setembro foi de R$ 235 bilhões, recorde para o período.
O economista-chefe do Unibanco Asset Management, Alexandre Mathias, afirma que o impacto fiscal da decisão de ontem do Banco Central é pequeno e que um aumento dos juros era mesmo necessária.
"Se o BC não começasse a aumentar os juros gradualmente agora, poderia se ver obrigado a promover altas mais agressivas no ano que vem", diz.
Carlos Kawall, economista-chefe do Citibank, ressalta ainda que a alta dos juros ocorrida nos últimos meses são inferiores às que costumavam ocorrer no Brasil há alguns anos.
"Não estamos mais falando de choques [de juros] de cinco, sete pontos percentuais", afirma Kawall.


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